A entropia do sistema

Internacional

«A entropia dirige-se ao exponencial: a desordem máxima do universo

Evidentemente esta afirmação está cheia de erros matemáticos, termodinâmicos, estatísticos e demais ciências que definem o fenómeno da entropia. Ouvi-a de madrugada numa série que desconhecia.

Durante as greves de 1889 em Londres, os estivadores debatiam-se com a necessidade de escalar na sua luta, tal era a repressão que a coroa britânica impunha nos portos. Entre as reivindicações pelo pão e pelo salário, surgiam ecos do massacre de Haymarket. A sublevação operária tinha resultado no assassinato pelos Pinkerton dos que ficaram conhecidos como heróis entre os seus pares: operários cuja vida escreveu a história da luta pelas 8 horas de trabalho em todo o mundo.

Ali nos portos, ouvia-se o exemplo dos anarquistas, comunistas e socialistas que, pela força, conquistavam direitos até então só sonhados. Mas ouvia-se também a força do aparelho repressor, violento, imperialista, que esmagava a força dos trabalhadores.

Da Rússia czarista chegaram a Londres muitos operários que traziam ideais revolucionários e por isso eram perseguidos quer pelo império britânico, quer pelo russo. A Okhrana assumia na plenitude o papel de combate aos trabalhadores e às massas populares não só na Rússia como no resto do mundo, onde encontrava o colaboracionismo normal de estados com a mesma política.

Claro que este é um momento particular deste episódio de ficção: quando o chefe da polícia percebe que não combate apenas a Okhrana, como os seus superiores. Afinal, os britânicos recrutaram um espião russo para que se infiltrasse no meio dos grevistas e incentivasse a luta armada. Aproveitava assim para bombardear alvos civis e culpar perigosos anarquistas e comunistas. Um deles, no início do episódio, retratado como revolucionário pacifista cujo objectivo é acabar com a exploração do homem pelo homem, é assassinado. Um atentado bombista que se percebe, afinal, ter sido ordenado pelos britânicos.

À pergunta sobre a razão da sua morte, sendo ele um pacifista, ouve-se:

«Tinha ideias. As ideias são piores do que uma qualquer bomba».

A entropia encerrou esta história. Pois bem: a entropia mensura a quantidade de estados disponíveis uma vez satisfeitas as restrições impostas ao sistema. Matematicamente ela maximiza esses mesmos estados. Necessariamente esses estados, digo eu, não serão infinitos e a determinado ponto, inevitavelmente, destruirão as restrições impostas ao sistema. Transformá-lo-ão. A personagem falou em caos, em desordem. E do nascimento de um novo sistema desse mesmo caos.

Qual será o número de microestados acessíveis às partículas que compõem os elementos fundamentais da matéria? Se a entropia cresce com a energia interna das partículas removendo as restrições impostas ao equilíbrio do sistema, a remoção dessas restrições aumenta a desordem. Mas significa que as suas partículas têm mais energia. E significa que essa desordem é definida como tal por referência ao sistema.

Resta, pois, seguir essa mesma regra matemática. Cada indivíduo, aumentando a sua consciência (a sua energia), necessariamente se tornará mais forte agindo colectivamente, destruindo as restrições que lhe são impostas. E assim construir um outro sistema. Para lá iremos necessariamente. Soma-se a certeza científica à noção de justiça e urgência da destruição do sistema capitalista. Mesmo que seja esta «ciência» arranhada, pensada numa madrugada, entre ficção e realidade. Mas, seguramente, é inabalável a certeza que tenho que não é esta a realidade que quero. E a convicção de que só o socialismo trará uma vida digna a todos os povos.