A luta é o caminho!

Nacional

Há muitas décadas atrás, o povo venezuelano levantou-se e derrubou o seu ditador. Depois de algumas transformações democráticas, o poder político ficou refém dos três partidos que representavam os interesses da oligarquia e dos Estados Unidos. No mesmo ano em que o fascismo foi derrotado, as três forças partidárias – AD, Copei e URD – reuniram-se em Punto Fijo e assinaram um pacto com esse nome. O puntofijismo foi o denominador comum que fez convergir esses três partidos em torno da exclusão do Partido Comunista da Venezuela e da partilha do poder num regime de alternância ao sabor das urnas e do sistema mediático.

Em Portugal, o processo revolucionário que impôs a derrota ao fascismo e que produziu grandes transformações no país foi travado desde cedo por PS, PSD e CDS-PP. O poder político é refém há quase 40 anos por forças que representam os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e das potências europeias. Não houve um pacto assinado. Mas é certo e todas estas organizações se gabam de terem evitado um ruptura com o modelo capitalista. Há quase 40 anos que no jogo da alternância dividem os cargos nos grandes bancos e empresas, submetem o Estado ao interesse privado e vendem a soberania nacional.

A espiral neoliberal que atingiu a Venezuela nos anos 80 e 90 devia ser familiar ao povo português. Sob as políticas impostas pelo FMI à pátria de Simón Bolívar, a miséria alastrou nas grandes cidades e deu-se o Caracazo. A explosão popular foi esmagada pelo exército e foram assassinados milhares de venezuelanos. Três anos depois, dando corpo à revolta, Hugo Chávez comandou um golpe para derrubar o governo. Foi derrotado e encarcerado. Quando saiu da prisão, anos depois, era um herói. O levantamento popular de 1989 e o golpe militar de 1992 foram julgados nas eleições presidenciais de 1998 em que o povo sentenciou e aclamou Hugo Chávez como presidente da República.

Neste processo, o partido venezuelano Acción Democrática (AD), membro da Internacional Socialista e partido irmão do Partido Socialista, foi declarado morto pelos trabalhadores e pelo povo. Durante décadas, um partido que se dizia de esquerda praticava políticas de direita, representava os interesses dos grandes grupos económicos e aprovava as directrizes do FMI e dos Estados Unidos. Convenhamos, o destino das cópias é desaparecerem em detrimento do original. Na Grécia, o PASOK colapsou sob o peso do seu historial de traição. No Estado espanhol, o PSOE não consegue assumir-se como a alternativa ao PP apesar da tragédia social com que se debatem os povos que vivem do outro lado da fronteira.

Portanto, Portugal não é excepção. O PS mais do que o PSD e o CDS-PP precisa de recorrer à mentira. Principalmente, para esconder que é a direita que se diz de esquerda. Apesar da perda de votos da coligação Portugal à Frente, o PS já não é o de outros tempos e não conseguiu alcançar a dianteira. O descrédito de se ter aliado aos partidos do actual governo para assinar o memorando com o FMI, a UE e o BCE roubou-lhe potenciais votos e deputados. Não espanta, pois, que importantes figuras deste partido insistam num acordo para viabilizar Passos Coelho e Paulo Portas. Os mesmos que antes das eleições diziam que votar na CDU ou no BE era dar força à direita são os que equacionam estender a passadeira vermelha aos que nos trucidaram nos últimos quatro anos.

O resultado da CDU solidifica a presença dos comunistas e dos verdes na Assembleia da República. Em momento algum se pode falar de derrota sobre um partido que resistiu a 48 anos de fascismo e que conseguiu mais votos e mais um mandato. Abrem-se perspectivas para que a luta nos locais de trabalho e nas ruas possa abrir mais brechas no próximo governo. Durante quatro anos, as sucessivas acções de protesto, das mais pequenas às maiores, apesar do muro de indiferença, arrogância e autoritarismo, evitaram maiores recuos. É, pois, hora de voltar a fazer das nossas avenidas enchentes de dignidade. É esse o elemento central e decisivo para a derrota da hecatombe social que mais do que estar condicionado pela agenda eleitoral deve estar orientado para a ruptura.