A manipulação da História pelo fascismo: Uma história antiga

Internacional

A ascensão da extrema-direita, seja na sua vertente fascista ou neonazi, acontece um função de circunstâncias sociais e económicas específicas, que o capitalismo alimenta através das suas crises cíclicas. Assim, a História repete-se mesmo. Há 100 anos, mais coisa menos coisa, a Alemanha saía derrotada da I Guerra Mundial. Humilhada com o Tratado de Versalhes, nascia entre os militares e os defensores do Império Germânico uma vontade de vingança. Os aliados, que também aproveitaram para ganhar territórios à Rússia, então já com os sovietes no poder, estavam mais preocupados em conter a ameaça comunista, preferindo e simpatizando com os totalitarismos da extrema-direita que já existiam antes da II Grande Guerra, nomeadamente em Itália, em Espanha e Portugal, com a ditadura imposta em 1926.

Na Alemanha, cria-se o “Mito da Derrota”. O general Ludendorff coloca a circular notícias falsas, boatos e mentiras, sem qualquer fundamento ou sustentação, atribuindo a culpa da derrota à falta de nacionalismo do povo alemão, à Revolução de Novembro – aos comunistas alemães, portanto – e a uma conspiração judaica internacional, numa falsificação consciente da História. As fake news de há 100 anos, estão a ver? Está então formado o caldo perfeito para o surgimento do nazismo: notícias falsas que culpam determinadas camadas da população por todos os males, a sua difusão acrítica também pela imprensa e uma crise profunda, política e económica, criada pelo absurdo que foi o Tratado de Versalhes e a insuficiência das teorias liberais de Wilson.

É conhecido o momento de emergência que se vive no Brasil e este não é um post exaustivo sobre  causas ou consequências, mas sim sobre a manipulação, 100 anos depois do final da I Grande Guerra. O autor deste vídeo é, supostamente, licenciado em Relações Internacionais pela Universidade de S. Paulo e estará a fazer mestrado em Estudos Europeus na Holanda. E este é um exemplo claro de que a História se repete e a falsificação consciente da História foi e continua a ser uma arma dos fascistas.

Vamos, então, desmontar o que diz o jovem apenas em questões científicas, já que mais de metade do vídeo trata de questões de opinião e não de facto:

“Quando as pessoas chamam alguém de fascista, estão a desrespeitar milhões de mortos da II Guerra Mundial, que realmente sofreram com o fascismo” e avança para a definição de fascismo: “É o género de ideologia política cujo núcleo mítico em suas várias permutações é uma forma de renascimento do ultranacionalismo populista”.

Certo: Esta é a definição de fascismo. O que está errado é passar por cima da expressão “em suas várias permutações”. Ou seja, a definição clara de fascismo não se restringe à sua origem italiana. Assumiu outras formas em Portugal e Espanha por exemplo. Nesta parte, o jovem ou é ignorante, o que demonstra que, por vezes, um grau académico diz muito pouco, ou mente deliberadamente. Inclino-me para a segunda hipótese.

Falso: “Bolsonaro não é fascista porque ele não quer acabar com o sistema democrático, não quer abolir as instituições, não quer rasgar a constituição” (…) “Por mais que uma pessoa possa ser racista homofóbica, não quer dizer que ela seja fascista”.

É o próprio Jair Bolsonaro que admite que pretende fazê-lo. Declarações de Bolsonaro no dia 28 de Setembro: “O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) declarou nesta sexta-feira (28) que não aceita um resultado das eleições que não seja a sua vitória”.

Falso:“Não quer rasgar a Constituição”. “Vice de Bolsonaro defende nova Constituição sem Constituinte”, 13 de Setembro de 2018.

Falso: “Fascismo verdadeiro é o que teve na Itália, Alemanha, Portugal e Alemanha do Hitler”. A Alemanha de Hitler implantou o nazismo. Até Mussolini se aliar a Hitler, o fascismo não tinha como inimigo principal os judeus nem buscava a raça perfeita. Logo, podemos afirmar que o nazismo era mais xenófobo do que o fascismo. Daí que se conclui que, se é errado chamar fascista a Bolsonaro, é por defeito e não por excesso. Ele é xenófobo, homofóbico e racista. Mais do que dos fascistas, são as características próprias de um nazi. Fascismo verdadeiro existiu em Itália. (ponto) As derivações do fascismo, que o jovem ignorava há uns parágrafos, foram beber as suas influências ao fascismo italiano e implantaram-se em Portugal e Espanha, respetivamente, com o fascismo salazarista e o fascismo franquista.

Falso e errado: “Se quer chamar alguém fascista, deve usar essa palavra para os amigos do Lula: Hugo Chavez, Evo Morales, Fidel Castro”. O jovem acaba por contradizer-se. Se, atrás, caracterizava o fascismo “pelo género de ideologia política cujo núcleo mítico em suas várias permutações é uma forma de renascimento do ultranacionalismo populista”, não encontra essas características , em nenhum dos três exemplos que cita.

Não há ultranacionalismo populista e nenhum dos três. Curiosamente, uma das críticas que fazem a Lula, é o facto de ter importado médicos de Cuba. Logo, o ultranacionalismo de um e de outro cai por terra. O jovem deveria rever os conceitos de solidariedade internacionalista, que está aliás presente na maior parte dos partido comunistas, através da estrela de cinco pontas que surge nas bandeiras: significa a aliança internacionalista proletária com os trabalhadores dos cinco continentes.

Dito isto, se este é de facto um estudante de Relações Internacionais a fazer mestrado na Holanda, terá um longo caminho para acabá-lo.

4 Comments

  • Nunes

    12 Outubro, 2018 às

    Caro amigo, li e gostei do seu texto. É bom estarmos atentos ao que se está a passar no Mundo.
    Por último, fez bem em fazer desaparecer os comentários do dito «Jose».
    Um abraço

    • Jose

      13 Outubro, 2018 às

      Nunes, folgo ver-te confortado na aparente solidão da tua imbecilidade. Sabes ben que contas a solidariedade dos controleiros que prezam a tua inerme atenção ao que se passa no mundo.

    • Nunes

      14 Outubro, 2018 às

      «Sabes ben»

      Boa, José! Estúpido e burro, como sempre.

    • Ricardo M Santos

      18 Outubro, 2018 às

      Olá. Não fui eu que apaguei os comentários do José. Como não os leio, não me faz grande diferença. Abraços.

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