Tão longe dos holofotes dos media como dos top musicais, há quem faça da música parteira do mundo novo. São os netos de Woody Guthrie, de Victor Jara e de Zeca Afonso. Ao contrário da pop não é a forma que determina a eficácia do disparo e até o alvo é diferente. Da garganta e dos instrumentos, é o conteúdo que funciona como gatilho. Ninguém se importa com o penteado do ‘O Zulù, uma das vozes dos 99 Posse, como ninguém se importa com o que veste o Alex dos Inadaptats. As ideias acima da estética. Não são alvo da histeria adolescente e a sua obra não caminha aos ombros da indústria discográfica.
Esta é uma realidade que se atravessa ao longo do espectro artístico. A pornografia dos valores está presente do cinema à música e da arquitectura à literatura. A arte como explicou Vladimir Maiakovski não é um espelho para reflectir o mundo. É antes um martelo para forjá-lo. É isto que não interessa aos que comandam os destinos das nossas vidas através do poder económico e financeiro. A ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. Nada de novo. O estrelato está reservado para quem não questiona o sistema e, sobretudo, para quem o defende atacando as alternativas criadas. Para os outros, há o alçapão da história. Que é escrita pelos vencedores. Até começar a ser escrita por nós.