O termo Ocidente está hoje na boca de todos, dos fanáticos salafistas aos imperialistas norte-americanos, passando pela esquerda europeia e pelos burocratas de Bruxelas. Porém, é utilizado quase sempre numa acepção coloquial, como que para descrever alguma coisa tão visível e evidente que dispensa automaticamente perguntas e explicações. Contudo, o Ocidente não é de todo fácil de identificar e definir. O que haverá de mais ocidental que os Direitos Universais do Homem ou o Santo Ofício, os campos de concentração e a liberdade? Ao longo de períodos históricos tão irreconciliáveis como o Renascimento e a Idade Média, o Ocidente foi disperso pelo mundo, elogiado e vilipendiado. O seu significado parece ter-se transformado em tudo e dissolvido em nada.
A literatura que se debruça sobre o significado da expressão, com destaque para Pol-Droit, Huntington e Boia é sintomaticamente liberal e burguesa. Devo admitir que antes de me atrever a opor-lhe a crítica que aqui teço, várias vezes hesitei entre um comentário alinhado com a sua concepção do mundo e da História ou uma análise em moldes ideológica e doutrinariamente fracturantes com o seu pensamento. Previno que optei pela segunda, mesmo correndo o risco de dar a este artigo um incómodo sabor metálico a incompatibilidade teórica e anacronismo conceptual. Porém, como Roger Pol-Droit defende, a própria essência intelectual do Ocidente não é a estéril emulação de opiniões terceiras, mas sim o questionamento, a novidade e a ruptura.
Assumo portanto que não tentei neutralizar artificialmente a normatividade da análise. A opinião é algo intrinsecamente humano, inescapável por natureza e inerente a toda a interpretação dos factos, que já de si, obrigam a considerações éticas. Noções como globalização, civilização, terrorismo e barbárie obrigam-nos a ponderar o peso das ideias, a tomar partido. A fazer escolhas. E mesmo que a nossa postura seja a de tentar compreender sem emitir juízos de valor, só por ingenuidade poderíamos acreditar que seríamos dessa forma perfeitamente isentos na tarefa. Mais não seja porque sem excepção, todos estamos situados historicamente, reféns das nossas próprias matrizes culturais e presos à classe social e à influência do que nos rodeia. Talvez por isso, Braudel dizia que não há uma, mas muitas Histórias.
A acepção burguesa
O termo Ocidente mundializou-se e banalizou-se ao integrar o léxico comum dos seus partidários e aniversários ainda que ontologicamente o seu significado tenha permanecido sombrio e a geografia da sua aplicação ambígua. Para que realidade nos remete, a noção de Ocidente? Um contexto geográfico? Uma mundividência histórica? Uma determinada construção axiológica? Uma idiossincrasia colectiva? Um perfil religioso ou simplesmente um estilo de vida em particular?
Uma resposta inicial, poderá jazer na arqueologia etimológica do termo, que Pol-Droit nos convida a inquirir: Ocidente provém do verbo latino Occidere, cujo significado, cair¸ nos remete, para o final da revolução do sol sobre a terra e por corolário lógico, para uma orientação espacial na Terra relativa à órbita do sol. Porém, como em qualquer outra orientação espacial, os termos da premissa perdem o sentido quando apartados do conjunto da proposição: não poderemos saber onde fica a esquerda se não existir a direita, como não saberemos como encontrar o poente se não identificarmos o levante.
Assim, tanto geográfica e logicamente como para a subsequente análise do autor, o Ocidente não poderá ser compreendido num solipsismo estéril despido de antagonistas. Surge então um novo obstáculo, tendo um dia Galileu murmurado Eppur si muove e tendo a ciência, para horror da teologia, congratulado o cientista com o veredicto da razão, concluímos necessariamente que qualquer ponto do globo é simultaneamente esquerda e direita, levante e poente. Pelo que só poderemos identificar o Ocidente se primeiramente identificarmos o centro de referência.
Pol-Droit propõe que este primeiro meridiano terá sido Atenas, o centro grego do mundo. A Este, os atenienses conheciam persas e turcos, a Ásia central e menor, o Mar Negro e o Cáucaso. A Oeste (o futuro Ocidente), encontrava-se a Itália, a Sicília, a Gália, a Espanha… Esta divisão espacial não permanecerá quase imutável ao longo da História mas tem uma importância evidente. Quando o centro de referência oscila de Atenas para Roma, o Ocidente assume-se politicamente a transformação do termo de coordenada espacial para região geográfica.
Os limites dessa região sofreram alterações, mantendo-se, no entanto, em linhas gerais ancorado à actual Europa Ocidental. Contudo, na antiguidade, apenas uma parte desta Europa integrava o Ocidente, pois excluía a Escandinávia, uma parte da Europa Central, o Sul de Inglaterra, os países bálticos, a Polónia ou a Dinamarca.
Com a expansão do Império Romano, o Ocidente alarga-se a novas fronteiras e tem início o debate acerca do lugar da Europa de Leste. O cerne da problemática deslocalizava-se então, da questão geográfica: para a religiosa. A ocidente o rito católico, a oriente o rito ortodoxo. Mais tarde, o cisma religioso renovar-se-á com as invasões muçulmanas e a ascensão do Império Otomano opondo o cristão ao muçulmano, pelo menos à superfície. Conclui-se pelo menos que a explicação puramente geográfica é insuficiente: mais que um lugar, seria o Ocidente uma forma de sociedade e um conjunto de convicções e atitudes ao longo da História?
A resposta começa a construir-se algures no séc. VI a. C. quando os gregos inventam a tragédia, o debate democrático, a investigação científica ou a reflexão filosófica. Conscientes de estarem a erguer novidades civilizacionais, os gregos distinguem-se do “outro”, chamando-lhe bárbaro, denominador comum dos que não falam o grego ou não são cidadãos livres. Por oposição, neste mapa axiológico só os gregos criam as suas próprias leis e formam cidades autónomas. Esse ideal é continuado pelo projecto imperial romano que conquista quase todo o mundo conhecido. No final do Império Romano, o cristianismo dará nova forma e identidade ao Ocidente, dando lugar a um tempo em que ser ocidental equivale a ser cristão.
Contudo, nem essa ideia seria eterna. A aparência do Ocidente mudará com o Renascimento e com o advento da Modernidade. O Ocidente, nesta nova etapa assumirá o controlo do comércio mundial, inventará o capitalismo, descobrirá o mundo e trará o maior e mais veloz avanço técnico e científico visto até então. Não será, todavia, apenas sinónimo de progresso, significará também conquista, exploração, massacre e colonização.
Chegados ao século XIX, o auto-denominado Ocidente estendeu o seu domínio sobre todo o planeta e levanta agora uma nova bandeira identitária: a raça branca contra a inferioridade biológica de todas as outras. Por outro lado, no quadro do desenvolvimento da expansão Ocidental à escala global e da ascensão dos Estados Unidos, portadores por herança do mundo ocidental, o Ocidente deixa de se confundir com a Europa. Mais tarde, já em pleno século XX, o termo ocidente ganha novo sentido. No contexto da guerra fria, Ocidente passa a descrever o mundo capitalista de democracias burguesas sob a égide da NATO e dos EUA. O zénite do Ocidente será então o campo socialista.
Na actualidade, o Ocidente anuncia o lançamento novos binómios, quais produtos de consumo: riqueza por oposição a pobreza; consumo por oposição a carência e norte por oposição a sul. Assim, qualquer localização geográfica torna-se difícil face ao Canadá ou à Austrália, Japão ou Coreia do Sul, países a que hoje chamam de “ocidentalizados”. Ao alargar-se o comércio mundial baseado em preceitos nascidos no “ocidente” e utilizando redes de comunicação, tecnologias e normas de fabrico originalmente ocidentais, os países “não-ocidentais” aceitariam o Ocidente. Neste sentido (o mais usado hoje em dia), a globalização do capitalismo seria a ocidentalização do mundo.
Esta acepção burguesa e coloquial do termo ocidente subentende cinco “Ocidentes” diferentes: a coordenada espacial, a região geográfica, a unidade histórica, o conjunto económico e político do capitalismo e o mundo globalizado actual. Ao longo desta linha de raciocínio, o Ocidente deslocalizou-se simbolicamente do Oeste etimológico onde se põe o sol, para o Norte rico do capitalismo e do desenvolvimento e a sua imagem evoluiu de cristã para ateia e de associado ao desenvolvimento passou a ser associado à destruição. Acima de tudo, se antes sabíamos onde estava o Ocidente, hoje já não sabemos: como está em todo o lado, não está em lado nenhum.
Estes “ocidentes” são grosseiramente unidos por cinco grandes movimentos históricos. À Grécia ateniense, o Ocidente foi colher os ideais de democracia e liberdade de pensamento que enformaram o seu desenvolvimento político tardio: os gregos foram os primeiros a efectuar a separação entre político e religioso e criaram as bases para a conjugação de democracia, debate público, crítica filosófica e livre investigação racional. Tais conquistas assumiram, para a civilização helénica, uma singular afirmação de superioridade sobre as demais. No entanto, a superioridade grega pode ser adquirida pela educação; pela transmissão da língua, do raciocínio, de referências estéticas e valores fundamentais. É discutível se essa “superioridade partilhável” constitui ou não uma característica duradoura da identidade ocidental.
Os romanos retomaram o projecto grego na perspectiva do engenheiro e do urbanista, criando uma autoridade jurídica e uma identidade cultural válidas para todo o império, esta associada à original noção de “humanidade”, que levou o Império Romano, e historicamente o “Ocidente”, a se considerarem incumbidos da missão de impor no mundo a sua visão universalizante de moralidade, o “fardo do homem branco”.
Também o judaísmo, embora forjado no Oriente Próximo, deixou a sua marca no desenvolvimento da moral e espiritualidade ocidentais. Da bíblia judaica e do colectivo dos seus textos sagrados, transmitiu indirectamente (através do cristianismo) a própria ideia de uma lei moral universal. No entanto, só a partir do séc. XI, “Ocidente” e “Cristianismo” será um pleonasmo, realidade que só se observará até meados do séc XVIII, quando as ideias iluministas emergem e o ateísmo se consolida.
Essa tensão, não deixará de crescer no seio do Ocidente a par de uma crítica sistemática aos dogmas cristãos e à submissão do poder político, científico e individual ao religioso. Por fim, a própria definição de Ocidente é demasiado vasta e ambígua: na Europa cristã, cabem católicos, protestantes e ortodoxos de muitos ritos diferentes. Neste sentido, o único período em que podemos, com segurança, falar de Ocidente Cristão, é a Idade Média.
Entre o ano 1000 e 2014, contrariando qualquer previsão inicial que facilmente daria a vantagem à civilização chinesa, árabe ou indiana, o Ocidente, passa a controlar a história mundial conjugando os quadros de pensamento grego e romano com um rápido desenvolvimento económico, técnico e militar. De entre as mais importantes inovações, merecem destaque a intensificação das trocas marítimas, o aperfeiçoamento do sistema bancário e os progressos na agricultura a partir dos avanços na física e na matemática, ciências aplicadas a par da geometria e da engenharia também de resto às artes militares e à construção de novas máquinas.
Porém, os factores técnicos fazem somente parte de um enquadramento de vários elementos, muito heterogéneos, que se reforçam mutua e cumulativamente, contribuindo para o mesmo saldo civilizacional. Segundo a acepção mais comum de “Ocidente”, na base desse crescimento estaria a permanente interrogação sobre si próprio e o debate constante sobre todas as questões humanas, motor de progresso alimentado por uma tão perigosa como infatigável e fértil paixão pela mudança.
No entanto, seria somente com a Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e o triunfo da burguesia que este movimento atingiria a sua forma moderna e burguesa, renovando teoricamente o ideal grego de autonomia humana. A nova “humanidade”, passa a ser apenas a soma dos indivíduos (noção fundamental para o pensamento ocidental) teoricamente únicos insubstituíveis e soberanos.
Está, pois, montado o esqueleto da máquina do Ocidente, pronta agora para se expandir em todas as frentes e para se transformar, no conjunto dos países que o formam, na potência mais ofensiva e eficaz da História. Criados estavam também, os instrumentos para a colonização e dominação de outras civilizações e exploração e outros povos e dos seus recursos. Ironicamente, a emancipação desses povos subjugados utilizaria como aparelho libertador, a concepção ocidental de direitos políticos, de liberdade e de autonomia: Os instrumentos intelectuais criados pelo ocidente acabariam por ameaçar o seu domínio.
Sucintamente, para os cientistas políticos burgueses, a ocidentalização não é apenas a adopção de uma bitola estética, económica, sexual e política. Trata-se de um processo forçado de colonização civilizacional em que o colonizado interioriza as três supostas originalidades filosóficas do Ocidente: o individualismo, a universalidade e o espírito de mudança e questionamento do mundo.
Crítica materialista
A discussão histórica, política e social exige da parte do investigador a utilização de um léxico independente e rigoroso que permita uma análise sistemática em moldes científicos próprios. A invenção desse glossário autónomo constitui uma das mais importantes, longas e árduas batalhas da Ciência Política para a sua afirmação enquanto Ciência social epistemologicamente independente. A ausência dessa semântica cientificamente rigorosa é a primeira falha por que peca a maior parte da bibliografia sobre a definição do Ocidente. Resulta difícil analisar, aprovar ou rebater um corpo doutrinário que não sabemos sequer identificar e a utilização repetida de termos nebulosos como “direcção do espírito” ou “talento especial” não ajudam a uma análise objectiva. O mais desconcertante, é que cientistas políticos como Huntington ou Pol-Droit assumem com ligeireza metade das críticas que lhes poderíamos imputar. Os termos que trabalham sistematicamente, amiúde classificam de indefinível: o seu significado é “demasiado ambíguo e complexo”, os seus componentes são demasiado “contraditórios” e admitem mesmo que o Ocidente “se calhar, já nem existe”. A confusão conceptual parece generalizada.
O Ocidente é quase sempre encarado numa perspectiva de oposição aos bárbaros, os “terroristas que têm apenas uma exigência – a destruição da sociedade secular e moderna”, os que desejam aniquilar aquilo que é assumido como o pináculo da evolução social e da liberdade humana. Da mesma forma que a astúcia etimológica da noção de ocidente (enquanto indicador espacial) é a sua exigência lógica de um centro de gravidade, o Ocidente politicamente concebido por Roger-Pol Droit, requer uma noção de centro para ser compreendido e só tem sentido enquanto epicentro do mundo, da história, da humanidade ou da civilização.
Porém, a história dos avanços no pensamento humano é feita de movimentos de “tirar do centro”. Darwin, a despeito da teologia criacionista, retirou o ser humano do centro da biologia; Copérnico, na astronomia, realizou o mesmo movimento, ao tirar a Terra do centro do Universo; noutra escala, Freud causa nova ferida ao antropocentrismo, ao deslocar o Eu do centro do Universo para uma relação dialéctica e horizontal com o Outro.
Portanto, examinemos com maior atenção os binómios de Civilização/Barbárie e Centro/Periferia. Os gregos antigos, bisavós do Ocidente, representavam o seu mundo situando-se a si no centro e a todos os demais na sua periferia geográfica e cultural. Após a sua vitória sobre os persas, os derrotados periféricos, os bárbaros, passaram a ser encarados como inferiores aos civilizados gregos que habitavam o centro do mundo. Platão, chegou mesmo a elaborar uma teoria da escravidão natural, onde se reconhecia o direito dos civilizados de escravizar ou matar os bárbaros.
São conhecidos os corolários históricos da herança romana desta concepção helénica. É porventura em Estrabão (64AC-24DC), geógrafo romano de origem grega que surge a primeira distinção clara entre Civilização e Barbárie. Estrabão concebia a Barbárie como um mundo invertido, um universo em contraste com a visão imperial de civilidade. No entanto, Estrabão já reconhecia a possibilidade dos dos bárbaros se converterem, adoptando “modos de vida civis” (leia-se meios de produção).
Desde a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 até à tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos em 1453, o período que em traços gerais se pode denominar de Idade Média, o cristianismo torna-se o fundamento da unidade do Ocidente por centro de oposição ao bárbaro gentio. No entanto, passados mil anos sobre a Paixão de Cristo, o Ocidente vai assistir a um crescimento e sustentado e ininterrupto, marcado por novas formas de produção e de vida, que não só permitiram ultrapassar as duas grandes civilizações concorrentes da época coeva, como também exigiram novos auto-retratos intelectuais. Com efeito, o Ocidente nunca deixou de mudar até aos nossos dias, envergando sempre novas roupagens, novas retóricas e novas bandeiras, mesmo que mantendo igual queda universalista.
Deste modo, o Ocidente que um dia teve como máximas unificadoras a raça branca, a religião cristã ou o colonialismo europeu, deixou de as ter, para representar um novo conjunto de ideias. Nesta perspectiva, podemos conceder que realmente Ocidente existe, mas apenas enquanto conjunto das concepções de justiça, moralidade, humanidade, e sociedade das classes dominantes em cada período histórico. Assim, o Ocidente medieval de Carlos Magno corporizava para si, o topos religioso próprio de uma sociedade feudal e obediente aos interesses do clero e da nobreza. Já aquilo que se entendia por Ocidente do século XIX, representa axiomaticamente no seu racismo, a mundividência do capitalismo consolidado e os interesses do colonialismo em pleno apogeu. Desta forma, resulta óbvio que a noção actual de Ocidente não é mais que a película superestrutural composta pelas concepções intelectuais, morais, filosóficas, jurídicas e espirituais da classe dominante da Europa actual, a burguesia.
No entanto, não se tratam de noções livres de contradições. Pelo contrário, observamos que muitas delas constituem o produto das contradições insanáveis entre as classes e forças contendoras. Como conceber o reconhecimento do direito dos povos colonizados à autodeterminação senão como o produto da luta dos colonizados pela libertação? Ou será que as grandes máximas do Ocidente actual, invocadas pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, foram de parto fácil e aplicação pacífica? Será que foi pelo carácter humano e civilizador do Ocidente que a DUDH reconheceu, no seu artigo 23º o direito à sindicalização e à protecção social? Será que foi somente por herança dos princípios helénicos e legado da tradição iluminista que o texto reconhece a igualdade entre sexos ou no 24º reconhece o direito a férias pagas? Pelo contrário, parece que todas as noções de Ocidente representam mundividências estreitamente vinculadas a interesses económicos de classe. Ao mesmo tempo, sai historicamente provado que os progressos patentes ao longo da sua evolução são a consequência directa do embate entre diferentes classes sociais.
Esta conflitualidade de classes como motor da transformação dos paradigmas do Ocidente ao longo da história é um aspecto importante que os cientistas políticos burgueses falham em identificar, recusando-se a estabelecer essa ligação, mesmo quando na sua contextualização histórica, as novas faces do Ocidente correspondem perfeitamente a novos estádios produtivos. Ao invés, é-nos apresentada uma interpretação da História completamente despida de economia: Com Huntington aprendemos que as guerras se fazem por uma vontade patologicamente ocidental de dominar e mudar o Outro e não por recursos, terra ou capital ou que a Europa padece de uma singular e inexplicável tendência suicida.
Esta explicação psicológica do mundo que interpreta o Ocidente como uno na sua personalidade e que como qualquer pessoa, tem defeitos e qualidades, constitui um verdadeiro atentado contra a História. Não se tenta explicar científica e economicamente esses “defeitos” e identificar os seus responsáveis nem tampouco a origem das suas qualidades. Mais, de acordo com a interpretação burguesa do Ocidente a sua “face negra” é mesmo uma consequência inextrincável da sua homónima clara. Nesta simplificação holística do Mundo, não há espaço para mais que uma entidade demiúrgica, por obra e graça de quem, nasce o bem e o mal. Como se as alegadas vantagens do Ocidente que enumera, nascessem não por fruto de violentas lutas mas por generosidade genética civilizacional e como se os efeitos da sua “face negra” não tivessem explicação económica mas constituíssem um macabro traço de personalidade intrinsecamente ocidental.
Começa aqui a despontar aquilo a que arrisco chamar de explicação funcional do Ocidente. Não adoptaremos aqui a referida visão conformista de que tudo é normal. É antes mais interessante e ainda mais útil, seguir um outro caminho que nos adverte a seguir a sábia glosa de Brecht, pois num tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar, há que desconfiar do mais trivial e examinar sobretudo o que parece habitual.
Antes ainda, vale a pena pôr a nu algumas inconsistências da obra e desmontar alguns lugares-comuns que pululam em torno do conceito de Ocidente.
Comecemos pela ideia de que todos os progressos intelectuais, técnicos, financeiros, sociais, jurídicos e morais que hoje existem no mundo “não existiriam sem o Ocidente”. À primeira vista, parece verdade: é no campo do Ocidente que esses fenómenos, como o desenvolvimento jurídico da noção de indivíduo e as liberdades que lhe estão associadas, são afirmadas com maior claridade e amplitude. E é também verdade que é no mundo ocidental que nascem os meios técnicos hoje indispensáveis à totalidade dos países do mundo como a indústria, o automóvel, o avião, o telefone, o computador ou a internet… Mas muitos desses avanços, como o papel do indivíduo e da racionalidade ou o telefone e a indústria, reclamam explicações mais complexas que a teoria reducionista de Lucien Boia, que cinge as originalidades do Ocidente ao gosto pela mudança, pela novidade e pela ruptura. As próprias condições intelectuais que estiveram, indiscutivelmente na base destas transformações encontram muitas vezes eco em questões climáticas, geográficas, alimentares e, principalmente, económicas. As ciências exactas têm vindo a prestar um grande contributo nesta nova forma de olhar a história.
Em segundo lugar, afirmar que sem o Ocidente a internet e a Declaração dos Direitos do Homem não existiriam comporta uma redundância. É verdade que os meios técnicos nascidos nos EUA e na Europa e usados da Malásia a Cuba bem como as concepções intelectuais ocidentais que pouco a pouco parecem ganhar terreno da Arábia Saudita à China são uma fina camada de Ocidente. Contudo, esses meios técnicos e essas mesmas concepções intelectuais não nasceram de fertilização in vitro, num ambiente exclusivamente ocidental e esterilizado de influências externas. Pelo contrário, é notório que sem qualquer excepção, todo o nosso património filosófico, cientifico, técnico e social nasce de um complexo cruzamento de conhecimentos entre os Ocidentais e o mundo, cujas origens se perdem nas mais profundas raízes da História, como se todo o Ocidente, jazesse sobre uma densa camada de Oriente: Os primeiros alfabetos (inventados pelos fenícios), o conceito do zero, a ginecologia, a medicina veterinária, o calendário de 365 dias, a geometria, a arte de trabalhar o ferro e o bronze… todos se compuseram fora do Ocidente. O mesmo se pode dizer do método hipotético dedutivo ou da extracção de raízes quadradas. Pitágoras bebeu da filosofia caldeia e egípcia e Aristóteles aprendeu filosofia com os árabes. Sem o contributo de egípcios, fenícios, árabes, chineses e tantas outras civilizações, hoje não existiriam nem telemóveis, nem Direitos do Homem, nem nós próprios: a História é uma construção colectiva feita de encontros e partilhas. Veremos mais adiante os perigos de apagar o “Outro” da fotografia da História.
Para autores como Boia ou Huntington toda a História se reduz à “ocidentalização do mundo”, a expansão dos “óculos de sol” da “internet” e do conjunto dos modos de vida, meios técnicos e formas de comunicação ocidentais a todo o planeta, um planeta que mais se assemelhará a uma pequena aldeia global. Afirmar que a globalização consiste no desenvolvimento acelerado dos meios de comunicação social e das tecnologias da telecomunicação expandidas à escala global é uma interpretação oportunista, primária e generalizadora. A globalização é sim, o alargamento do sistema económico capitalista à escala mundial, a internet e os óculos sol poderão ser as causas e as consequências, mas nunca o fenómeno em si. Assim recorre-se hoje com frequência conceito de “Aldeia Global” criado pelo canadiano Marshall McLuan como metáfora ideal para retratar a globalização. Porém, a aldeia é uma realidade sociológica marcada por movimentos de nivelamento básico e por um espírito de entreajuda. Como pode então ser a imagem da aldeia a mais indicada para explicar um mundo de polarização e assimetrias crescentes entre pobres e ricos, em que a miséria de continentes inteiros faz parte do funcionamento normal da própria máquina?
O marketing político da classe dominante tem feito um grande esforço no sentido de mostrar um mundo globalizado feito dos sorrisos dos congoleses e dos índios xingú. Nessa aldeia imaginária, os índios mapuches utilizam a internet para comprar bifes de avestruz nos hipermercados Walmart de Nova Iorque e os curdos acompanham em directo, no telemóvel, as cotações na bolsa de Londres. No entanto, os índices de pobreza mundial e a falta de acesso à tecnologia e meios de comunicação por uma ampla maioria da humanidade, vêm desmentir categoricamente mais este mito. Estranha aldeia essa… que afinal não é mais que um arquipélago de ilhas isoladas, das quais só poucas escapam à desgraça.
O conceito de Ocidente, na sua acepção mais comum do discurso político burguês, pode ser lido em dois sentidos: o primeiro, que já analisámos, permite ler Ocidente como a superestrutura que historicamente se constituiu na expansão geográfica, intelectual e cronológica da Europa a partir da Grécia antiga e até assumir o volante da “Civilização” no combate contra a “Barbárie”. A segunda leitura diz respeito à explicação funcional que o Ocidente adquiriu nos nossos dias.
Historicamente, a interpretação ocidental da diversidade como inferioridade conduziu, sobre o pretexto de “civilizar” o outro, a práticas imperialistas justificativas da dominação de classe. Assim, as classes dominantes que constroem a ideia de Ocidente em cada momento histórico irão moldá-lo não tão-somente a partir das suas crenças mas igualmente dos seus interesses objectivos. Reutilizando os exemplos de Roger-Pol Droit, os europeus da primeira era colonialista, incorporaram a supremacia da raça branca porque essa retórica lhes franqueava caminho à mais brutal e eficaz satisfação dos seus interesses económicos. Da mesma forma, os gregos, ao identificarem o bárbaro, autorizavam moralmente a sua escravidão, base do seu sistema produtivo.
O Ocidente actual não é excepção, pois vai construindo para si mesmo, novas faces moldadas aos seus novos objectivos. Por conseguinte, quando as classes dominantes que constroem a concepção de Ocidente se encontraram ameaçadas pela emergência do socialismo à escala mundial, este passou a ser encarado como o novo bárbaro: o novo alvo a destruir pelos civilizados. No processo, geraram ditadores e pariram terroristas cultivando um Islão regressivo, fundamentalista e bastante útil no fechamento de todas as opções progressistas do Médio Oriente. E aquando do ocaso do campo socialista de leste, o Ocidente reformula-se para poder justificar a destruição do Médio-Oriente. Na construção deste último inimigo imaginário, o Ocidente capitalista serviu-se de uma ideia exótica e romântica de “oriente” para descrever o árabe.
Por outro lado, a “Universalidade” do “Ocidente” burguês mantém os mesmos traços de arrogância e prepotência coloniais das suas congéneres ideológicas do séc. XVI ou XIX. Uma universalidade que não é uma oferta ao próximo nem uma forma de o olhar e conceber nem não um reconhecimento nem um convite mas uma chantagem: o outro tem necessariamente que se converter ao Ocidente, concedendo este, apenas alguma tolerância quanto aos prazos para o transformar e quanto à aspereza do mandato. Não se admite que um iraquiano ou um afegão nunca se venham a transformar em franceses e ingleses. É patente o cunho regressivo deste universalismo liberal, quando comparado ao velho universalismo iluminista: este relativizava e procurava compreender, aquele subscreve uma representação maniqueísta de um conflito teatral entre o Bem (ou pelo menos o menos mal) e o Mal Absoluto.
Os recentes acontecimentos na Palestina, na Líbia e na Ucrânia demonstram que não só esse esquema moral é enviesado como os bárbaros se disfarçam de civilizados. A concepção de Barbárie de Engels, condensada em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” retoma, com base nas descobertas do Antropólogo Lewis H. Morgan sobre as comunidades iroquesas, a teoria de Charles Fourier, que interpreta a Barbárie como um estádio primitivo da sociedade humana. Tenhamos primeiro em conta a teoria (inconscientemente materialista) de Morgan. Este condiciona o progresso histórico em que se inserem os avanços sociais, económicos, políticos e culturais da humanidade ao progresso das condições materiais relacionadas com a abundância dos meios de subsistência, com o esgotamento dos mecanismos da acumulação de bens e com os movimentos de tensão e contradição social entre classes.
Neste quadro, é possível inserir a Selvajaria, o período marcado pela apropriação directa dos bens naturais; a Barbárie, o estádio em que surgem pela primeira vez a criação de gado, a agricultura e o incremento de produção por trabalho humano e a Civilização, período que se inaugura com a fundição do ferro e a invenção da escrita e em que o Homem aumenta e complexifica a elaboração de produtos não naturais pela indústria e pela arte. Paralelamente, a cada sociedade humana corresponde um tipo de família: o a família punaluana à selvajaria; a família sindiásmica (casamentos por pares com direito de poligamia e infidelidade masculina) à barbárie e a monogamia à civilização. Na mesma medida, a transição da família sindiásmica para a monogamia corresponde à transição da propriedade colectiva para a propriedade privada. Por outro lado, também os diferentes estágios produtivos a partir da Barbárie correspondem a crescentes divisões do trabalho: a cisão entre pastoreio e horticultura conduziu ao esclavagismo; a cisão entre agricultura e artesanato conduziu ao feudalismo e a cisão entre comércio e produção conduz ao capitalismo.
Disperso pela obra de Marx, existe um segundo aproveitamento da noção de Barbárie, que embora cronologicamente anterior à conceptualização de Engels nos será mais útil. Marx, especialmente nos seus últimos escritos, bebe da crítica do economista russo Heinrich von Storch, que denunciava a degradação das condições de vida da classe trabalhadora como um regresso à barbárie no seio da civilização. Assim, em obras como “Os futuros resultados do domínio britânico na Índia” mas sobretudo nos “Manuscritos económicos e filosóficos de 1844”, Marx acusava o retorno “às formas e instrumentos mais brutais de trabalho humano” que “reaparecem sob o capitalismo; por exemplo, o moinho de castigo utilizado pelos escravos romanos tornou-se no modo de produção e existência de muitos trabalhadores ingleses”. Este segundo sentido do termo Barbárie, inserido principalmente no contexto da crítica ao imperialismo britânico na Índia, não contraria a posterior interpretação de Engels, pelo contrário, põe a nu as contradições que o capitalismo faz gerar não só a nível económico (ao gerar uma classe de homens que não possui os meios de produção que opera mas apenas a sua força de trabalho e outra classe de homens que detém os meios de produção e não se ocupa dela) mas também a nível civilizacional, postura partilhada igualmente por Engels em “A origem da família do Estado da Propriedade Privada”. Segundo Engels, a consciência da barbaridade de uma civilização é o seu selo histórico de caducidade. Sob o Império romano, Engels escreve “a sua ordem era pior que a desordem e os bárbaros contra os quais pretensamente protegia os cidadãos eram esperados como salvadores…” no império, restava apenas “empobrecimento geral, diminuição do comércio, dos ofícios, da arte, da população, das cidades… eis o resultado final da dominação universal romana”. Da mesma forma, o Estado moderno, é a “confissão de que essa sociedade se enredou numa irremediável contradição com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não consegue solucionar”
Marx, identifica igualmente a barbárie no coração da civilização. Ao observar a expansão britânica na Índia, acompanhada pela devastação da sua indústria e pela difusão da miséria e degradação, Marx classifica o “holocausto vitoriano” como um retorno à barbárie (as rações que os britânicos proporcionavam aos trabalhadores ocupados de trabalhos árduo em Madras em 1877 tinham um valor calórico inferior às dos prisioneiros do campo de concentração nazi de Buchenwald em 1944)
No entanto, é com Rosa Luxemburgo que o conceito de Socialismo ou Barbárie ganha o significado e actualidade que detém hoje. No seu panfleto “O que querem os espartaquistas” Luxemburgo augura que se a continuação da dominação capitalista persistisse, a História futura estaria repleta de guerras, fomes e doenças. As classes dominantes “derramam rios de sangue, marcham sobre cadáveres, assassínios e incêndios, instigam guerras civis e traição a fim de defenderem os seus privilégios e poder” até transformar o mundo num “amontoado fumarento de entulho”. Para Luxemburgo, a emergência da barbárie moderna saída do capitalismo representava uma ameaça à própria civilização. Noutro escrito seu, o famoso livro “A crise da social democracia alemã”, mais conhecido por panfleto Junius, lê-se, sobre os efeitos bárbaros do capitalismo “cidades reduzidas a ruínas, países transformados em desertos, aldeias feitas cemitérios, nações inteiras tornaram-se em indigentes” e o capitalismo avança sempre mais “investindo em sangue e revolvendo-se na imundície… como uma besta a rosnar, como uma orgia de anarquia, como um sopro pestilento, devastando a cultura e a humanidade, surgindo em toda a sua odiosa nudez”. Para Luxemburgo, o capitalismo enquanto sistema económico a que se adaptou na actualidade o Ocidente, condenou-o a liderar a civilização humana de volta à fossa da barbárie. Assim, se o socialismo não o suplantar atempadamente, o capitalismo será a destruição do planeta e da própria civilização humana: a ruína de todas as classes contendoras.
O alerta de Rosa Luxemburgo parece duma actualidade assustadora. Efectivamente, é inegável que a mutação capitalista do Ocidente que hoje conduz a Civilização a prende e arrasta para o passado: Como interpretar a actual tentativa europeia de aumentar a jornada de trabalho para 65 horas semanais, senão como um retrocesso civilizacional? Ou como interpretar o encarecimento e elitização do ensino superior na Europa? Ou como compreender a apropriação de conhecimentos milenares por grupos económicos que vão ganhando terreno nas universidades, submetendo o acesso a todo o património cultural do Ocidente às frias leis do lucro? Como pensar o genocídio do povo palestino e a cumplicidade do “Ocidente” capitalista senão como um regresso às páginas mais negras da Idade das Trevas?
Num artigo quase desconhecido, “A Europa atrasada e a Ásia avançada” Lenine põe a nu o ponto de viragem histórica em que a classe dominante e com ela a sua concepção de civilização (leia-se Ocidente) se tornam retrógradas, reaccionárias e bárbaras. Lenine escreve: “Na civilizada e avançada Europa, com a sua máquina industrial altamente desenvolvida, as suas ricas e heterogéneas culturas e constituições, chegou-se a um ponto da sua História em que a burguesia dominante, (…) sai em defesa de tudo o que é antiquado, moribundo e medieval. (…) A Europa avançada é comandada por uma burguesia que defende tudo o que é atrasado. A Europa dos nossos dias avança não graças a mas apesar da burguesia. (…)” Essa burguesia obsoleta “espalha inimizade implacável, atraso, selvajaria, privilégio, escravatura e a humilhação do homem pelo homem (…) e está preparada para cometer qualquer crime, para perpetrar qualquer brutalidade de forma a manter (…) os objectivos egoístas dos manipuladores financeiros (…) e a escravatura do salário”
As maiores esperanças e os maiores perigos que Ocidente enfrenta jazem fundo no seu próprio coração e não em nenhuma outra civilização. Aí se debatem duas forças: por um lado, a dos trabalhadores, que lutam pela superação histórica do actual sistema produtivo, pela sua substituição pelo socialismo e consequentemente, por uma nova superestrutura civilizacional que redefina o Ocidente na esteira dos melhores aspectos da sua larga herança filosófica. Essa força, constitui a face clara do Ocidente, como um dia a burguesia representou o partido mais luminoso do Ocidente na sua batalha contra o Antigo Regime. Do outro lado, a actual classe dominante, que se nega a abrir mão do seu poder, nem que para tal tenha que fazer tábua rasa de toda a tradição do pensamento Ocidental, prescrever ao livre pensamento e discussão em termos racionais, destruir a ética do cristianismo e do iluminismo e apagar o ideal antigo de mundo em permanente e eterna transformação. Em última análise, o sonho de Ocidente desta burguesia putrefacta é o fim da História como os seus feiticeiros o preconizaram. Ao empurrar o Ocidente e a Civilização Humana de volta para a Barbárie, a burguesia é a sua face negra e a sua própria ruína, mas também a da outra classes e talvez mesmo a da espécie humana. Ou Ocidente passa a significar centro de socialismo por oposição ao bárbaro capitalismo ou o termo perderá a acepção civilizacional para regressar à trágica raiz etimológica: o pôr do sol.
Bibliografia consultada
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