Woodrow Wilson, depois do final da I Grande Guerra, considerava que os Estados deviam ter em conta a Opinião Pública nas tomadas de decisão. Aliás, deveria ser a Opinião Pública a definir o caminho dos Estados. À parte de outros contributos para uma tentativa de reorganização do Sistema Internacional, o então presidente dos EUA esqueceu uma parte essencial sobre o que é a Opinião Pública, como se forma, quem a forma e com que meios.
Quase 100 anos depois, fica clara a insuficiência do pensamento, mas mantém relevância na análise da realidade internacional. A Opinião Pública é formada, informada e enformada, essencialmente, pela classe dominante, que controla o poder económico e os agentes que formam Opinião Pública, que por sua vez controlam os Estados, sendo os seus interesses antagónicos com os da Opinião Pública, que os assume, por paradoxal que possa parecer. Os dias de hoje deixam isso a nu. A manipulação da Opinião Pública atingiu dimensões inimagináveis há 100 anos. É por isso que os interesses dominantes atribuem diferentes graus de valor àquilo que chega e como chega à Opinião Pública e que, por conseguinte, a forma.
Daqui podemos verificar as diferenças de tratamento da crise na Venezuela, que nos chega como governamental, de sistema político e económico, mas na Colômbia e México são ciclos económicos e vagas de criminalidade, nas Honduras ou no Haiti a crise chega-nos como humanitária.
É por isto que, por vezes, abordamos a questão Síria, com toda a tragédia e complexidade que a envolve, pegando em imagens de Aleppo antes da libertação como sendo da Goutha. E, desvalorizando esse facto, assumimos que é trágico na mesma, porque as imagens não devem ser muito diferentes. Mas, no entanto, a normalização de imagens deslocadas da realidade que pretende retratar, é também uma forma de manipulação da Opinião Pública.
Habituámo-nos à violência em Gaza, por exemplo, a cujas fotografias de Aleppo também poderiam corresponder. Mas dura há tantos anos que já entra na nossa realidade como norma. Em Gaza é assim porque é assim.
Isto para dizer que a Opinião Pública que formamos a partir do que recebemos nos chega, não raras vezes, de forma a que resulte na seletividade do choque.
A diferença substancial no que concerne à perceção que chega à Opinião Pública, é que a intervenção no Iémen, com vista a depor o governo, é composta por EUA, Reino Unido, França e Arábia Saudita. O lado ocidental da perceção, portanto. Por incrível que pareça, sim, a visão saudita é também a que interessa ao Ocidente.
Tal como na Síria que tem, no entanto, uma diferença.Em 2009, Assad decide tornar a Síria uma plataforma de passagem de um oleoduto para abastecer a Europa. Iniciar-se-ia no Qatar, passaria pela Arábia Saudita, Síria, Jordânia e entraria na Europa pela Turquia. Este era o plano inicial. No entanto, surgiu uma segunda proposta, que passaria pelo Irão, Iraque, Síria, Chipre e Grécia, que deixaria de fora Qatar, Arábia Saudita, Turquia e Jordânia.
E é esta a raiz do problema e da perceção que nos chega, na formação da Opinião Pública. Um oleoduto que deixaria de fora os países do Médio Oriente com relações próximas com os EUA e os seus aliados, perdendo o controlo da sua distribuição, perante uma segunda hipótese, que permitiria abastecer a Europa a partir de outros países menos recetivos às interferência externas.
São estas razões que fazem com que Goutha, na Síria, nos pareça tão perto, e Sanaa, no Iémen, nos pareça tão distante.
2 Março, 2018 às
Desde quando é o povão que forma opinião sobre estratégia?
Só quando a classe dominante vende esse filme.
10 Março, 2018 às
Mais uma tirada à «urso». Coitado do infeliz «José», o «clown» anão do Manifesto 74.