A subsidiodependência do capital

Nacional

Na rádio, um representante da patronal dos transportes de passageiros (ANTROP) diz que a medida dos passes intermodais não foi bem pensada e não levou em conta a incapacidade dos operadores de transportes públicos de responder ao aumento da procura, queixando-se em seguida da falta de financiamento público à aquisição de frota.

No dia seguinte às eleições, em pleno Prós & Contras, João Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal) acusava o governo PS de ter cortado no investimento público.

À data actual, as ajudas directas ao sistema financeiro somam já 23,8 mil milhões de euros.

O milagroso boom do turismo nacional assenta em décadas de investimento público na ordem das centenas de milhar de euros por ano.

Os grupos de saúde privada subsistem dos acordos que têm com os vários subsistemas de saúde dos trabalhadores do Estado.

Nos últimos 15 anos o capital desviou 50 mil milhões de euros para paraísos fiscais, o que equivale a uma perda de 1,3 mil milhões de euros em receita fiscal.

E ainda nos lembramos todos dos colégios privados que viviam da renda fixa dos contratos de associação. Se alguém não estiver recordado, pode avivar a memória aqui.

CHEGA e Iniciativa Liberal, ainda que a sua política económica não difira grandemente da restante direita, construíram toda a sua campanha em torno de impostos e subsídios. A IL promoveu uma suposta redução da carga fiscal – que afinal até era um aumento para as famílias de rendimentos mais baixos – e o CHEGA fez-nos acreditar que o problema estrutural do país são os 300 milhões de euros que se gastam por ano em Rendimento Social de Inserção. A coberto destes dois programas – O suposto alívio fiscal no caso da IL e a ciganofobia mais reles no caso do CHEGA – entram na AR dois partidos com um violentíssimo programa neoliberal, votados em extinguir a escola pública e o serviço nacional de saúde. Não é invenção, não estou a exagerar, não estou sequer a inferir: está lá nos programas deles, é só consultar.

Serve isto para falar da suposta subsidiodependência, esse mito que se criou de que os trabalhadores portugueses andam a sustentar chulos que não querem trabalhar e vivem do RSI. Sim, sustentamos chulos, mas não são esses, e não é com o RSI – antes fosse, que não custava muito.

– O Estado financia patrões quando comparticipa o passe que o trabalhador usa na sua comuta diária; de forma directa entregando dinheiro às operadoras de transportes públicos, e de forma indirecta suportando um custo que devia ser imputado a quem explora esse trabalhador;
– O Estado financia patrões quando subsidia com apoios sociais trabalhadores que, tendo emprego fixo e a tempo inteiro, empobrecem enquanto trabalham;
– O Estado retira aos trabalhadores – que não podem fugir ao fisco – o dinheiro que falta e que o capital colocou em offshores;

Cada cêntimo que o Estado gasta a educar, capacitar e manter vivo um trabalhador, é um cêntimo que o patrão poupou. E no nosso país o Estado gasta imensos cêntimos a aliviar a miséria que o capital cria. Se no nosso país há subsidiodependência, ela não está
em quem foi afastado do processo produtivo porque não ter adquirido competências capitalizáveis, nem em quem, trabalhando, não consegue viver do seu trabalho.

Subsidiodependente é a nossa iniciativa privada. Já o era quando empregava trabalho escravo, quando redistribuía na metrópole a riqueza roubada às colónias, quando manteve o escudo baixo para ajudar as exportações, e é-o agora quando explora uma massa salarial que se mantém viva não graças ao seu salário, mas graças aos apoios sociais.

Que isto fique bem claro: Não compete ao Estado dar a cada trabalhador a diferença entre a merda que lhe pagam e o valor mínimo para se viver com dignidade!

E depois temos a direita em coro a dizer que não se mete na negociação do salário mínimo ou da lei laboral. Isso fica para a Concertação Social. O Estado não pode intervir na economia. “Menos Estado, melhor Estado”, dizem eles, e testaram a doutrina usando o povo chileno como cobaia, com os resultados que hoje estão à vista e que motivam o levantamento popular. Como vimos pelos exemplos no início, para esta corja o Estado só não se pode meter na economia se for para arbitrar a favor de quem trabalha. Mas já exigem um Estado omnipresente na hora de pagar a factura. Dizia a Margaret Thatcher – cuja campa é a mais famosa casa de banho unissexo do Reino Unido –  que o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros. Maggie, fofinha: Tu e a tua descendência é que se têm governado à grande com o dinheiro que é de todos.

Para clarificar e concluir: É obvio que não tenho nada contra apoios sociais nem contra as funções sociais do Estado. Existem e são necessários para mitigar o sofrimento humano que é consequência necessária e inevitável do modo de produção capitalista. Mas é urgente denunciar que se são tão necessários, é porque o Estado que os custeia se recusa a discutir política salarial.

A solução, como é óbvio, passa por fazer o contrário do que a classe dominante pretende: aumentar salários, reduzir a jornada de trabalho, impor o controlo público de – pelo menos! – todos os sectores estratégicos da economia.

E dir-me-ão alguns: “Epá mas com tantos direitos dos trabalhadores, ninguém vai querer ser patrão em Portugal!”. Porreiro, não se preocupem. Nós nacionalizamos-lhes as empresas e ainda lhes damos um emprego com direitos, com um horário que lhes permita conciliar a vida pessoal e profissional, e com um salário digno. É para isso que cá estamos.

15 Comments

  • Refer&ncia

    8 Novembro, 2019 às

    Se cobrassem royalties só á minha custa ganhavam uma fortuna 🙂 (veja as diferenças) https://referenciasemmais.blogspot.com/2019/11/subsidiodependente-e-iniciativa-privada.html

  • Refer&ncia

    3 Novembro, 2019 às

    M u i t o B o m !

  • Jose

    29 Outubro, 2019 às

    E as parangonas dos transportes:
    – Sabia-se que não havia equipamentos para satisfazer um acréscimo de procura.
    – Sabia-se que não havia capital para grandes investimentos.
    – Sabia-se que o estado paga mal, tarde e incerto. para que se possa dar resposta com rapidez.

    Mas a política da treta é que conta!

    • Nunes

      31 Outubro, 2019 às

      Tragam o colete de forças. A pancada é forte e o doido não se cala.

    • JE

      2 Novembro, 2019 às

      Quanto aos transportes…

      Nem vale a pena ir por aí. É apenas o esgravatar, patético e apatetado, replicando o disco riscado da cambada do Observador, perante finalmente ter ido parcialmente avante uma medida proposta pelo PCP em 1997, em 2001, em 2004, em 2011, em 2016…

      Em favor de quem não se desloca em transporte próprio. Em favor de quem trabalha.Em favor de quem tem menos.Em favor das cidades. Em favor do ambiente

      Percebe-se o que jose quer. Percebe-se a frustração do jose. Percebe-se a raiva de jose, que, incontido, se afadiga incontinente, assim deste jeito tão tão tão.

      (Quanto à escassez de capital..é ir ver os offshores para onde os rotundos, obesos, bem nútridos e perfumados patrões colocam a salvo dos "cretinos dos impostos" o produto do seu saque)

    • Nunes

      3 Novembro, 2019 às

      «Confrontar um trafulha com o que o mesmo trafulha disse, permite aquilatar em parte o grau de trafulhice do mesmo trafulha. E dá gozo apanhá-lo com a mão suja(só pode)na massa»… Uma grande verdade!

      Fico apenas pasmado, como é que alguém se sujeita a tanta humilhação e vergonha.

      Jose, adora comentar num blog em que é apanhado em falso e onde nada lhe corre bem.

      Jose, insiste em comentar num blog que mais parece um casino, onde gasta todo o seu dinheiro, sem recolher qualquer crédito.

      Em conclusão, Jose não tem qualquer hipótese em vencer, mas quererá ser um perdedor até ao fim. Não desiste em comentar todo e qualquer assunto que é publicado no «Manifesto 74».

      Gosta de ser apanhado em falso e gosta que lhe digam que fez mal e que não tem hipótese em vencer.

      Jose, um provável neurótico, obcecado, consciente do seu problema, mas que não consegue controlar o seu problema interior (grave).

  • Jose

    29 Outubro, 2019 às

    Quanto aos offshores, a 'boca' é totalmente falsa: o dinheiro que sai ou já foi tributado e sai legalmente ou paga bens e serviços a fornecedores que operam através de offshores.
    Haverá fuga a impostos à mistura?
    Seguramente, e parte resula de corrupção nos serviços do Estado, como no caso do Sócrates.

    • Nunes

      31 Outubro, 2019 às

      «Resula». Será do verbo «resular»?

    • JE

      2 Novembro, 2019 às

      offshores e jose

      Uma longa história.

      Quererá jose que se reproduzam os seus comentários histéricos e cacarejantes contra alguém ( funcionário publico) que denunciou um secretário de estado do governo de Passos Coelho, nomeado para olear a máquina de fuga do dinheiro para os offshores?

      As ligações da canalhada do Capital. Fugas e transfugas.

      Jose, com o seu ar pimpão, de quem foi (é) cúmplice da choldra. Mas que, como consultor financeiro, dá ordens para se assumir uma de donzel virgem e impoluto ,apesar de ter sido apanhado numa casa de passe…como proxeneta, entenda-se

    • JE

      2 Novembro, 2019 às

      A 11 de Abril de 2016, jose exaltava e exultava com os benditos dos offshores:

      "fica clara e confirmada a utilidade dos offshores: pôr a salvo de políticos treteiros e vigaristas as poupanças de quem não quer dar para tais peditórios".
      "O que não correm é risco de confisco, o que evitam são os cretinos dos impostos sobre a fortuna, o que acautelam é que a penhora decorrente de avales e outros riscos garantam a subsistência de quem corre riscos de investimento"

      O que dizer de tal coisa?

      Confrontar um trafulha com o que o mesmo trafulha disse, permite aquilatar em parte o grau de trafulhice do mesmo trafulha. E dá gozo apanhá-lo com a mão suja(só pode)na massa

      Mas permite ver mais. Permite ver para onde corre jose. Permite ver o grau de chafurdice dum patronato reles e medíocre, a (e utilizemos o linguarejar do dito cujo) mamar com o roubo institucionalizado ( e por institucionalizar), gabando-se das pulhices que faz

      Nos dias pares.

      Nos dias ímpares, põe a touca de bispo de bolsonaro, prega a moral e os bons costumes, elogia a missão social da legião portuguesa e reza uma missa do género aí em cima exposta. Com os olhos em alvo e a mão no bolso…alheio

    • JE

      2 Novembro, 2019 às

      Há mais?

      Há.

      A cena da corrupção.

      Parece que a responsabilidade resulta dos "serviços do estado"…

      A tentativa de esconder os boys nomeados para lugares públicos para fazer o serviço ao serviço dos seus donos não passa.

      Como também não passam os urros de raiva e de ódio quando um destes funcionários públicos denunciou que a corrupção estava montada ab initio pelo próprio governo de passos coelho

      Com também não passou a atitude de cúmplice perante a corrupção

      Dizia jose:

      "se há corruptores é porque há corruptos, e pelo que sei são os corruptos que promovem a corrupção e não o contrário"

      Tinham sido apanhados alguns tubarões corruptos na sua actividade frenética de corruptores.

      Era preciso defendê-los.

      Quiçá também ao próprio?

  • Jose

    29 Outubro, 2019 às

    A análise é simples, só o funcionalismo público pode mamar do orçamento!
    Se mais alguém trabalhar para o serviço público, trata-se de assalto.

    • Nunes

      31 Outubro, 2019 às

      Ena, o maluco já saiu da caixa.

    • JE

      2 Novembro, 2019 às

      A análise é simples e a linguagem também

      Limitada a um vocabulário que de certa forma denuncia o estilo e a demagogia:

      "Mamar"

      Eis jose no seu esplendor de "qualificado" patrão.

      Perguntem-lhe pelos fundos sociais europeus e ele verá se o crime já está prescrito antes de responder.

      Mamar, pois então

  • joao pedro

    29 Outubro, 2019 às

    Gostei, cara !

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