Afinal, quem matou Luna Borges?

Internacional

Há uma revolta que ferve nas veias quando vemos que há quem durma placidamente na sua cama indiferente às consequências dos seus actos. Fixem bem este rosto. Não é um número para acrescentar a qualquer estatística. É uma menina e chama-se Luna. Morreu ontem num hospital no interior da Venezuela.

O pai, meu amigo, desesperado, bateu a todas as portas para conseguir os medicamentos necessários para evitar que o coração da menina de um ano e sete meses deixasse de bater. Hoje, a raiva que Gustavo Borges expressa é a de um povo que resiste a uma agressão à que ninguém dá atenção porque jornais, rádios e televisões tratam de tergiversar o que se passa aqui.

É certo que não há uma crise humanitária. Mas há uma crise económica que tem, sobretudo, razões externas e, em alguns sectores específicos, consequências graves. Qual foi o objectivo político das sanções norte-americanas e europeias ao Iraque que levou à morte de um milhão de pessoas nos anos 90?

Luna acaba de ser vítima dessa guerra pelo controlo da Venezuela. Esta noite, os governantes europeus e norte-americanos que assediam a Venezuela dormiram descansados. Também os deputados europeus que votaram favoravelmente sanções contra Caracas. Ou os dirigentes do BE que anteontem abriam sorrisos enquanto diziam que nem Maduro, nem Bolsonaro, “democracia”. Alinhando-se com a direita portuguesa e reforçando a versão de Washington e Bruxelas sobre o que se passa na Venezuela. Recorde-se que Marisa Matias foi das poucas deputadas que à esquerda se alinharam com a direita europeia por mais sanções. Mas também lavam as suas mãos como Pilatos os jornalistas que alimentam uma novela mediática que justifique a asfixia económica e política do povo e do governo do país com as maiores reservas de petróleo do mundo.

Todos dormiram descansados e acordaram sem qualquer peso na consciência. Escondem que o controlo de capital imposto por Washington impede o governo venezuelano de importar medicamentos ao barrar o pagamento aos fornecedores. Em 2017, o Departamento do Tesouro norte-americano ditou uma ordem com a qual se impede fazer transacções e se impõe o encerramento de contas venezuelanas.

A Venezuela não consegue transaccionar em dólares, a não ser que seja com petróleo. Caracas praticamente não pode comprar medicamentos, material eléctrico, material automóvel, etc. O país tinha acordos com a Índia, Argentina e Brasil para a compra de medicamentos e esse negócio foi bloqueado pelas sanções, o que supõe graves consequências para a população venezuelana. Há-de haver, certamente, erros e falhas que possam ser apontados ao governo venezuelano mas que culpa tem Nicolás Maduro das consequências das sanções impostas por Washington e pela União Europeia? Que culpa tem de haver um bloqueio de boa parte dos bancos ocidentais às transacções de e para a Venezuela?

No meio disto tudo, quem matou, afinal, Luna Borges? Nicolás Maduro ou os nossos governos?

Aqui, o diário de Gustavo Borges.

*Texto de Bruno Carvalho, [Venezuela, 13 de Novembro de 2018]

4 Comments

  • Nunes

    16 Novembro, 2018 às

    Marisa Matias faz com a Venezuela aquilo que Rui Tavares fez com a Líbia. Oportunistas e charlatães da política portuguesa.

  • AI CARAMBA!

    14 Novembro, 2018 às

    O mesmo modus operandi mais que conhecido da ganância. E no final, assassinam o Maduro, tomam conta de tudo, e a vida prossegue neste mundo de ignorantes e pobres sem culpa.

  • Jose

    14 Novembro, 2018 às

    «É certo que não há uma crise humanitária.»
    O Maduro diz o mesmo e tinha dúvidas.
    Mas agora estou muito mais descansado.

    Entretanto tem a certeza que a Venezuela vai com dólares ou euros ou qualquer moeda credível ao mercado e não lhe vendem medicamentos?

    Se for caso disso e falo na minha farmácia, são pessoas muito decentes.

    • Nunes

      15 Novembro, 2018 às

      Infelizmente, na tua farmácia não há medicamentos para aquilo que padeces. O agravamento do teu estado de saúde mental continua bem legível.

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