Eu não quero ter de pagar também o Montepio.

Nacional

Da banca portuguesa tal como a conhecíamos antes de 2009, resta muito pouco. O BPI e o BCP foram abandonados pelos seus accionistas nos momentos críticos e só o apoio do Estado os pôde salvar. O BES faliu, alvo do saque pelos seus principais accionistas, comprometendo fortemente a estabilidade do sistema financeiro. O Banif, gerido como uma chafarica ao longo de décadas, com o compadrio de sucessivos governos e do Banco de Portugal, acabou por rebentar nas mãos dos portugueses com um custo muito superior ao valor do banco. Do BPN, banco de Cavaco e sua camarilha, restam ainda estilhaços de milhares de milhões de euros enfiados pela carne de cada português adentro. Do BPP, pouco diferente será a história, excepto na dimensão.

A entrada fulgurante do Santander na banca portuguesa e a entrega galopante de grande parte da banca a grandes grupos económicos estrangeiros, principalmente espanhóis, deve motivar fortes preocupações a todos os agentes da economia portuguesa, trabalhadores e empresas. O financiamento do consumo e das actividades empresariais, ou seja, do investimento, está em grande parte em mãos completamente alheias ao interesse dos que aqui vivem, trabalham ou investem. Por isso, a existência de uma banca que actua em Portugal e cujo capital seja controlado por interesses ligados a Portugal tem uma relevância extrema. Tal torna a batalha em torno dos órgãos sociais da Associação Mutualista que detém o capital do Montepio Geral uma batalha de todos os portugueses, tanto quanto é importante manter em mãos nacionais e estatais a Caixa Geral de Depósitos.

O Montepio Geral, banco mutualista, oferece um modo de gestão que permite um trabalho transparente, sem saques e sem assaltos. Tal só pode acontecer se o Montepio se distinguir da restante banca, não apenas na natureza do capital e do modo societário, mas também nas práticas de gestão. Se é possível afirmar que há bancos em Portugal que podem ser colocados ao serviço dos seus depositantes e não dos grandes grupos económicos, esses bancos são a CGD e o MG. Para tal, contudo, é necessária uma política alternativa no Governo da República para o primeiro e uma direcção diferente no caso do segundo.

O Montepio sucumbiu às aspirações pessoais e às ligações obscuras entre a banca privada portuguesa. Foi colocado ao serviço dos donos de Portugal e dos interesses privados que levaram o país à bancarrota em 2011 e que provocaram problemas orçamentais e financeiros desde essa altura. Esses problemas não estão resolvidos. Não estão resolvidos no Montepio, nem na República. Mas só um Montepio robusto e gerido no estrito cumprimento da lei e do interesse dos associados da associação que o detém pode estar à altura de contribuir para a estabilidade do sistema financeiro e para a sua própria solidez e resiliência.

A manutenção da linha de gestão de crédito que tem vindo a ser prática na banca privada e que afectou o Montepio quase na medida em que afectou os restantes bancos, associada a uma política nacional que não fiscaliza, nem regula a acção dos banqueiros, pode conduzir o Montepio a uma situação periclitante, se é que não está já. Mas o interesse destas eleições da Mutualista vai além de vós, caros associados. É do interesse de todos, principalmente dos trabalhadores que financiam o orçamento do Estado, que não haja mais recursos do Estado a compensar e amparar as aventuras e fraudes da gestão bancária. Tal não sucedeu no Montepio. Ainda. Mas a sua direcção actual já deu provas de que não gere bem os recursos dos mutualistas e que arrisca as vossas participações para favorecer amigos e interesses incompatíveis com os vossos.

A Associação Mutualista pode ser transparente, bem gerida, com uma direcção que se comprometa com os vossos interesses e que não esteja cativa dos favores que obteve ou prestou, que não se insira no círculo criminoso que deitou abaixo as contas do país e que os portugueses pagaram com a degradação das suas próprias vidas, degradação essa que, estou certo, também afectou os mutualistas do Montepio.

O modelo societário do Montepio e o seu controlo por uma associação permite que o banco siga novas direcções e seja, além de um banco realmente vosso, um banco em que os portugueses podem confiar e que não temem ter de vir a pagar. De conhecer, de saber com o que se conta dessas pessoas, só a lista C está em condições de assegurar essa integridade de gestão e esse compromisso com os vossos interesses. Da minha parte, agradecia não ter de resgatar mais um banco, nem de testemunhar mais uma comissão de inquérito.

4 Comments

  • Jose

    19 Novembro, 2018 às

    E o artº 35º do Código da Sociedades Comerciais?
    Nasceu tão ameaçador para os gestores aventureiros e vigaristas!
    Nasceu suspenso; e só ressuscitou como sombra protectora de toda a pantomina.
    Quem ergue a voz? …silêncio…

    • Nunes

      21 Novembro, 2018 às

      E a tua cabecinha estúpida? Ainda dá atenção a um blog que não lhe diz respeito? E porque continua a visitar o «Manifesto 74»? Será por dor de cotovelo ou por teimosia estúpida de quem não tem nada que fazer?

    • Jose

      21 Novembro, 2018 às

      Nunes, peço desculpa se te agitei o bestunto. Foi sem intenção…

    • Nunes

      21 Novembro, 2018 às

      Ó José, mas afinal o verdadeiro «bestunto» por natureza és tu, pá. Deixa de ler os livros do século XIX da tu avó e fala em bom português.

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