António Costa & Os Lugares Comuns

Nacional

Talvez soe a nome de banda de garagem, de má qualidade por certo, mas – atenção! – ainda assim capaz de dar ‘música’ a muito boa gente. Não desvalorizemos nem subestimemos o fenómeno. Esta nova ‘banda’, lavadinha, com ar fresco, seria muito bem capaz – à semelhança de outras – de atingir o ‘top de vendas’ repetindo ad nauseam o seu único ‘hit’. Não tem substância artística, digamos assim, mas tem tão somente o condão de reproduzir ‘temas’ que entram facilmente no ouvido da larga maioria dos ‘ouvintes’. Tirando essa ainda assim eficaz ilusão, ou essa superficialidade sonora, a qualidade continua a ser tão má como a da ‘música’ que temos ouvido nos últimos três anos.

Para concluir isso mesmo nem é preciso ter grande formação musical. Basta concentrar atenções no ‘último álbum’ do cançoneteiro lisboeta de nome António Costa, com o nada original – todavia pomposo – título de ‘Linhas Programáticas’. Tem sido ‘tocado’ numa tour chamada ‘de faca e alguidar’, que segue itinerante, de norte a sul do país. Um chorrilho de lugares comuns (pois claro), de brilhantes tiradas do género de que ‘o sucesso para nos mantermos vivos é tentar não morrer’, entremeadas por críticas ao governo que, pasme-se, em nada se distinguem no essencial das ‘entoadas’ por essoutro fraco ‘artista’ de nome António José Seguro.

O problema do ‘vazio’ artístico de Costa, ou da repetição do seu único e redundante ‘hit’, porém, não significa propriamente que ele não saiba o que ‘tocar’ depois de alcançar o nº1 do ‘top’. Muito pelo contrário. António Costa sabe muitíssimo bem o que vai e o que quer fazer, se algum dia lá chegar. O problema é que tem de disfarçar o facto mais que certo de vir a interpretar – ainda que com outros instrumentos e instrumentistas – exactamente a mesma ‘sonoridade’ que tem sido interpretada por aqueles que hoje se encontram na liderança.Por enquanto, vamos ouvindo um certo ‘trauteio’ de uns supérfluos ‘nãos’ à política de austeridade. Contudo, nem vestígio de uma só pauta que exprima um claro e inequívoco ‘sim’ à devolução de tudo o que foi roubado. Há umas quantas notas soltas que soam a ‘crescimento’, a ‘desenvolvimento’, a ‘criação de riqueza’ – como também ‘cantava’ a banda ‘Passos Portas & Os Banqueiros’ –, e nem uma música completa que fale de produção nacional, de renegociação da dívida, de fim da degradação e privatização de serviços públicos, de alívio da carga fiscal sobre trabalhadores e PME’s, de rejeição do asfixiante novo código laboral, de cumprimento inequívoco da Constituição e de tantas outras ‘cantigas de Abril’ que tanta falta fazem a este país.

Bem que podem mudar os intérpretes. Bem que podem escolher uma melhor figura. Bem que podem trocar uma voz mais fina, por uma mais grossa ou possante. Enquanto não se mudar de vez o tipo de música, o ‘concerto’ – sem conserto – será exactamente o mesmo.