As vantagens competitivas da desertificação

Nacional

Foi ontem no “frente a frente” da SICn: o mesmo cavalheiro que há tempos atrás referia, perante a incredibilidade dos portugueses, que o país está melhor (apesar do povo se encontrar em pior situação), deu ontem novo contributo para o triste e bizarro anedotário político dos partidos do arco da Banca ao afirmar que existem oportunidades competitivas que resultam do encerramento de serviços públicos no interior do país.

Sem se rir da própria tirada foi acrescentando que é demagogia afirmar-se que os encerramentos contribuem para a desertificação do interior, argumentando com a relação inversa entre o histórico de criação de infra-estruturas nas zonas onde agora encerram e a constante diminuição de população nos distritos portugueses mais afectados pelo despovoamento e pela depressão social e económica.

O povo ouve, sente-se gozado e “vinga-se” com mais abstenção. O mesmo figurão virá então argumentar com a “crise do sistema político” e o “distanciamento entre eleitos e eleitores”, para mais tarde legitimar o golpe anti-democrático que, com o PS, anda o PSD preparando faz muito tempo: a diminuição do número de eleitos na Assembleia da República e a introdução de círculos uninominais que de forma alguma respondem ao problema fundamental do regime – o seu domínio por uma burguesia opulenta que se serve dos seus braços políticos para alargar as “gorduras” que escapam ao discurso oficial sobre “vidas acima das suas possibilidades”. O Público explica.

Confundir a estrada da beira com a beira da estrada é exercício consciente daqueles que são capazes de defender uma coisa e o seu contrário com a mesmíssima “convicção”. De resto a “demagogia” daqueles que se batem contra o encerramento de escolas, centros de saúde ou tribunais alastra aos próprios autarcas do PSD, incapazes de dar a cara, perante as populações que os elegeram, em defesa de uma política que corta no que é necessário para enterrar no que é pornográfico, ou seja, nos esquemas da banca e na agiotagem do pagamento da “dívida” e dos juros tão eternas como as neves do cume das montanhas mais altas do planeta. O governo está sozinho, sem qualquer tipo de suporte popular, unicamente apoiado por uma maioria parlamentar que não tem qualquer relação com a realidade do país e que hoje seria varrida do poder com a mesma velocidade com que se atirou ao pote no Verão de 2011.

No entretanto o país sofre. Ou seja, o povo sofre. O interior morre aos poucos e o êxodo para as grandes cidades deixou de ser alternativa. As centenas de milhares de portugueses que nos últimos anos abandonaram o país conhecem bem as oportunidades e as vantagens competitivas do esquecimento a que estão votadas populações que em muitos casos têm o que quiseram (já que votaram PS, PSD e CDS, ou pela abstenção contribuíram para o domínio destes) mas não têm o que merecem (porque um povo como o nosso, os trabalhadores e as camadas populares da nossa população, não merecem nunca tamanho insulto à sua dignidade nem tamanha agressão aos seus direitos mais básicos, constitucionalmente consagrados).