Os senhores 1%

Nacional

Fomos todos apanhados de surpresa. Por esta é que ninguém esperava. Quem poderia adivinhar? Então não é que um quarto de toda a riqueza nacional se encontra concentrada em apenas 1% da população? Haverá por certo quem se interrogue, com genuíno espanto, sobre quem constituirá de facto este punhado de oligarcas barrigudos, que vive no mesmo país em que mulheres grávidas chegam com fome aos hospitais. Não é fácil, pois não?

Fontes fidedignas indicam que a própria direita deste país se encontra dividida face a esta realidade. E, segundo eles, das duas uma. Ou esses 1% são o conjunto de heróis nacionais, de homens impolutos, que nunca roubaram nada a ninguém, que nunca fugiram aos impostos, que criaram sempre “muitos” postos de trabalho, que foram sempre muito empreendedores e que conseguiram (todos eles) subir “a pulso” na vida – banqueiros e assim… –, ou se são, por outro lado, o conjunto de ricos privilegiados que recebem o rendimento social de inserção, o subsídio de desemprego ou mesmo o salário mínimo nacional. Definitivamente, ou são uns, ou são outros. Está visto onde está “o dinheiro”!

Aliás, basta ver as notícias para se perceber por que razão este país não tem emenda. Não estamos “todos” a remar para o mesmo lado. Não há a tal “união nacional”, a que exortou há um ano o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. E compreende-se. Por um lado, há um bando de gente pobre e humilde, de famílias sem eira nem beira, a tentar salvar da falência anos e anos de acumulação de roubos e vigarices. Por outro, há um conjunto de valorosos e meritórios banqueiros, que lutam com sangue, suor e lágrimas, dia e noite, até mesmo ao domingo, para conseguir tão simplesmente pôr um pedaço de pão na mesa dos seus pobres filhinhos. Com estas assimetrias, com este fosso a todos os títulos condenável, obviamente, não vamos lá.