Nas regiões e nações sem Estado, confirmou-se a tendência que vinha dando força ao Podemos. Com diferentes leituras, a formação política liderada por Pablo Iglesias teve importantes resultados em Madrid, em Valência, na Galiza e triunfou no País Basco e na Catalunha. Cientes da necessidade de solidificar os resultados obtidos nas eleições regionais, os dirigentes do Podemos piscaram o olho ao eleitorado independentista e apesar de defenderem a unidade de Espanha reiteraram o seu compromisso com uma reforma constitucional que abra caminho a referendos que permitam aos diferentes povos decidir o seu próprio futuro. O discurso das esquerdas independentistas de que a solução para a ruptura com a crise do capitalismo passava pela ruptura com o Estado espanhol foi suplantado pela ilusão de que seria mais fácil para uma nova força como o Podemos chegar ao poder e protagonizar transformações importantes. Em parte, é o que explica os avanços nas regiões onde o independentismo está mais amadurecido: Catalunha, País Basco e Galiza.
Autor: Bruno Carvalho
Quem matou David Duarte?
A morte do David Duarte não tem outro nome. É um assassinato. E quando assim é, a culpa não é só de quem dispara. É também de quem aponta e de quem dá a ordem. É de quem o encaminhou para um hospital sem recursos humanos, é de quem deu a ordem de limitar o financiamento à assistência hospitalar e é de quem a executou. É, principalmente, do anterior ministro da Saúde que, antes, havia sido administrador de uma seguradora e que seguiu os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros na gestão do Serviço Nacional de Saúde. É de Passos Coelho e de Paulo Portas que nos chamaram piegas e exigiram que aguentássemos a tragédia sem protestar.
Terramoto eleitoral na Venezuela
O pior dos cenários foi confirmado, na Venezuela, pelo Conselho Nacional de Eleições. De forma esmagadora, a direita conquistou mais de dois terços dos lugares disponíveis na Assembleia Nacional. A derrota das forças revolucionárias e progressistas era uma possibilidade assumida entredentes nas fileiras chavistas mas a hecatombe eleitoral que acabou por dar-se surpreendeu a própria Mesa da Unidade Democrática (MUD). A oposição vai ter à disposição 112 deputados com a possibilidade, entre outras coisas, de reformar a própria Constituição, de destituir o vice-presidente e os ministros de Nicolás Maduro. Num acto eleitoral em que a afluência dos venezuelanos às urnas foi superior à de há cinco anos, tudo leva a crer que o resultado, mais do que uma aposta no programa da direita, expressa o protesto contra a degradação das condições de vida, a corrupção e a burocracia. Foi de tal forma surpreendente que a oposição conseguiu, inclusive, ganhar no bastião do chavismo, em Caracas.
Depois de Beirute, Paris
Só para lembrar que é dos responsáveis pelo banho de sangue em Paris que fogem os refugiados que abandonam a Síria, o Curdistão, o Iraque e a Líbia. Ontem, foi em Paris. Anteontem, foi em Beirute, onde mais de 40 muçulmanos foram assassinados pelo terrorismo do Estado Islâmico. Em Beirute, morreram árabes. Em Paris, morreram europeus. Todos vítimas dos mesmos carrascos. Não se esqueçam disso quando começar a campanha xenófoba nas televisões, rádios e jornais.
A barbárie nas ruas de Paris é perpetrada pelos mesmos que regaram de sangue o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria. Os mesmos que receberam dinheiro e armas dos Estados Unidos, União Europeia, Turquia, Israel e Arábia Saudita para acabar com regimes nem sempre alinhados com o imperialismo e devolvê-los à Idade Média. E as vítimas, como sempre, somos nós, os trabalhadores.
A luta é o caminho!
Há muitas décadas atrás, o povo venezuelano levantou-se e derrubou o seu ditador. Depois de algumas transformações democráticas, o poder político ficou refém dos três partidos que representavam os interesses da oligarquia e dos Estados Unidos. No mesmo ano em que o fascismo foi derrotado, as três forças partidárias – AD, Copei e URD – reuniram-se em Punto Fijo e assinaram um pacto com esse nome. O puntofijismo foi o denominador comum que fez convergir esses três partidos em torno da exclusão do Partido Comunista da Venezuela e da partilha do poder num regime de alternância ao sabor das urnas e do sistema mediático.
Da Telesur às ruas: A revolução será transmitida?
No passado mês de Fevereiro, o governo bolivariano da Venezuela denunciou um plano golpista. Na denuncia, o mandatário, Nicolás Maduro, revelou à imprensa os detalhes desta estratégia elaborada pelos “sectores mais fascistas da oposição, vinculados ao imperialismo norte-americano”. O presidente afirmou que queriam bombardear o palácio presidencial de Miraflores, o Ministério da Defesa e a Telesur.
As avenidas do futuro
Bruxelas não é uma cidade especialmente agradável. Talvez a ideia de ser a capital da União Europeia não me tenha feito compreender o interesse na estátua ridiculamente pequena de uma criança a urinar água sobre um tanque. Caracas tampouco é bonita. Mas, para mim, é capaz de ser a mais bela das cidades feias. São as pessoas e não os edifícios que me conquistam a simpatia. A beleza dos bairros de Falls Road, Ardoyne e Bogside está naqueles que fizeram de Belfast e Derry capitais da resistência. É útil admirar a pomposidade parisiense?
Absolutamente. Também Neruda se espantou com as enormes igrejas de Lisboa, grandes como empadões, enquanto pelas suas ruas corriam bandos miseráveis de crianças descalças. Era, então, a capital de um império decadente que se erguera à custa da colonização, da escravatura e da espoliação dos recursos roubados aos povos agrilhoados de África, América Latina e Ásia. O chileno era ainda um desconhecido poeta que fazia escala em Lisboa a caminho da Birmânia para chefiar o consulado de Rangum.
«A função social da terra só se cumpre com as mãos de quem a trabalha»*
Há 40 anos, os trabalhadores agrícolas do Sul do País tomaram a decisão de romper com séculos de opressão baseada na propriedade das terras. Extensas herdades de uma minoria agrária com poder económico e político conviviam com a pobreza e a miséria da maioria do proletariado agrícola. Com Abril, encerraram-se as portas da brutalidade fascista e pôde semear-se nos campos aquilo a que Álvaro Cunhal chamou “a mais bela conquista da Revolução”. À conversa com alguns dos protagonistas da Reforma Agrária, percorremos os caminhos do passado sem perder de vista o presente e o futuro de uma aspiração inscrita na história da luta dos trabalhadores portugueses.