Breve apontamento sobre terrorismo português

Nacional

Segundo a OMS, em 2019, cerca de mil milhões de pessoas sofriam de um transtorno mental, sendo que este número inclui 14% dos adolescentes. Em Portugal, as doenças mentais têm um peso de 22,5% no total das patologias. Num país em que 2,3 milhões de cidadãos precisam de apoio psicológico; onde as filas de espera são infindáveis e o custo de vida não é suportável por mais de metade da população portuguesa; onde a exploração e a precariedade são tradição, os setores mais reacionários de Portugal encontram terreno fértil para explorar as suas ideias e encetar planos de destruição do SNS, de aprofundamento do racismo estrutural, da xenofobia e de muitos outros e variados preconceitos e violências contra as camadas mais vulneráveis da população.

Os acontecimentos da última terça-feira, no Centro Ismaili, são reflexo da sociedade em que vivemos e põem a nu contradições insanáveis da sociedade capitalista. Ao que tudo indica, um refugiado afegão, que viveu das piores experiências que uma pessoa pode ter, matou duas mulheres neste centro, em Lisboa, após um surto psicótico. Este homem, refugiado, perdera a mulher e tinha a seu encargo os dois filhos, tendo passado por um centro de refugiados. André Ventura e outros que lhe dão palmadinhas nas costas – PSD e liberais – esperam nem um segundo para apontar o dedo à origem étnica e religiosa desta pessoa. Soaram os alarmes do terrorismo por este ser afegão e alegou-se que, por detrás deste ato, poderiam estar motivações políticas…

Perante o racismo e a xenofobia, o Centro Ismaili assume ter tomado a decisão de acolher de acolher os 3 filhos do homem que cometeu o crime ontem. Uma chapada de luva branca em quem instiga o ódio, o racismo e a xenofobia.

À direita, temos de dizer: a política de direita de sucessivos governos falhou e falha todos os dias no que toca às populações imigrantes do nosso país; falha nos centros de refugiados; falha nos campos do Alentejo, nos hostels de Lisboa e do Porto, e falha no SNS quando se desinveste consecutivamente e se transferem verbas para o negócio da saúde. A saúde mental não tem de ser um flagelo. Tem raízes numa sociedade profundamente exploradora e opressora e, apenas com um SNS universal e capaz, podemos fazer frente a este problema.

A crise da saúde mental é campo aberto para a difusão das ideias da extrema-direita. Está provado que os capatazes de Abril não olham a meios para fomentar o racismo e a xenofobia, colocando trabalhadores contra trabalhadores; afastando-nos de lutas justas como a luta pelo SNS, por mais psicólogos, médicos psiquiatras e meios técnicos, ou a luta contra a guerra, para que nem mais um ser humano seja afastado da sua terra, da sua família e dos seus sonhos. Perante um mundo de injustiças, de profundas alterações geopolíticas e de uma crise capitalista eminente, só nos resta a nós, trabalhadores e jovens, olhar para a força das nossas diferenças, que catapultam a luta pela construção de um mundo melhor, onde ninguém fique para trás; onde exista trabalho pleno e onde a saúde mental não seja um tabu, e seja antes verdadeiramente valorizada.