Cheira mal? É ver as mãos do Carlos Silva…

Nacional

Em Outubro de 1978 o PS e o PSD tiveram um bebé, chamaram-lhe União Geral dos Trabalhadores. Foram alimentando essa criança da melhor forma que puderam. A criança foi crescendo e foi percebendo o porquê do seu nascimento: confundir, baralhar e dividir para que os seus orgulhosos pais pudessem reinar. Hoje, a criança é um adulto manhoso e a manha deve ser desmascarada.

Na verdade, é a própria UGT que aqui e ali se vai desmascarando a ela própria. Não adianta recuar muito no tempo, esta legislatura e o seu actual líder, já nos dão água pela barba e momentos de comédia impagáveis. Então não querem lá ver que o homem disse isto: Estamos mais preocupados em formar e qualificar trabalhadores do que lançá-los para os campos de batalha, para as invasões dos ministérios, subindo as escadarias da Assembleia da República, fazendo greves todos os dias e combatendo as suas próprias empresas levando-as ao encerramento“.

Se a UGT quer ser um expoente na formação de trabalhadores e
trabalhadoras, tem boa solução, abre uma Empresa de Trabalho Temporário e
trata de concorrer nesse frutuoso mercado de trabalho em expansão. É da maneira que tomam contacto a sério com as dificuldades porque passa quem vive neste país à custa do trabalho.

Tudo poderia estar muito certo e coerente com o personagem e com a instituição, mas este é o mesmo Carlos Silva que disse, na véspera da tomada de posse, que Cavaco Silva já devia ter demitido o governo. No dia em que tomou posse, não via outra posição possível para a UGT que não fosse ao lado dos trabalhadores, intransigentemente, e contra os credores da Troika, marchar, marchar. Depois, em Setembro de 2012, esteve quase para rasgar o acordo de concertação social, porque o Passos estava a destruí-la.
 
Aqui temos um líder sindical de coragem, com determinação e prioridades justas! E o homem continuava, em Junho de 2013 o ultimato: ou o Governo muda de atitude ou a UGT vai defender demissão. E o rasgar de vestes não ficava por aqui, Carlos Silva ia mesmo ficar raivosamente despido de cedências se o PS tivesse assinado algum acordo com o PSD e o CDS, entregava o cartão de militante socialista e tudo. Felizmente tudo acabou em bem e o PS absteve-se de se desmascarar logo ali, lá para 2015 falamos de outra forma.

Depois de mais uns dias em que o governo foi bruto na concertação social e com os trabalhadores deste país, em Agosto de 2013, o sindicalista Silva gritava que os sindicatos da UGT tinham sido apunhalados pelo governo e que isso era inaceitável! Mas já não pediu a demissão, disse que ia fazer queixinhas na próxima reunião da concertação. Pois, é que Carlos Silva agora já não queria a demissão do governo, andava a distribuir cartões amarelos ao mesmo, qual árbitro castigador. Mas nada de vermelhos, amarelos, que é uma cor que conhece melhor. Ou isto, ou a vida e os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras melhoraram significativamente no segundo semestre de 2013. Se calhar ando distraído…

Será que o homem, ao menos, sabe o que é um sindicato? Parece que não, é que para o digno Secretário-Geral, “é através dos acordos colectivos e dos acordos de empresa que vivem os trabalhadores, é por isso que são sindicalizados”. Eu pensei que os trabalhadores e trabalhadoras se sindicalizavam para defender e exigir os seus direitos colectivamente, sejam eles mais e melhores, ou menos e piores, e que viviam do seu salário, tenham contratos sem termo, a termo, acordo de empresa, acordo colectivo, precários, temporários, sazonais, informais, azuis, verdes, cinzentos, etc. Devo andar outra vez distraído…

E pronto, chegamos a Janeiro de 2014 e o Carlos já tem os olhos postos no futuro, no famigerado pós-troika. A UGT está de braços abertos para um acordo daqueles importantes assim que a Troika zarpar o navio, um daqueles acordos que tratará de manter alguns cortes permanentes nos salários e nas pensões, mas com a promessa certa e séria de que serão tomadas medidas que privilegiem o crescimento económico, claro. A UGT é o lobo com pele de cordeiro do patrão e o Carlos Silva flutua ao sabor das sondagens e das necessidades do PS. Mário Soares não poderia estar mais orgulhoso.

Não escrevi nenhuma novidade neste texto, mas é um passatempo que me apraz, este de escavacar o oportunismo de uma central sindical que faz tudo menos ser intransigente na defesa dos seus associados e associadas. Mas fiquemos descansados, a UGT nunca faltará a Abril e a Maio, porque “a rua é a sede do povo“. Toma lá que é democrático, já mudavam era de flor, girassóis em vez de cravos, talvez.

Como já uma vez escrevi: deus criou o homem à sua semelhança e
tirou-lhe uma costela para lhe dar uma escrava em forma de mulher; o
diabo arrancou uma costela ao capital e deu-lhe o nome de UGT. Eu não
acredito nem em deus nem no diabo.

* Autor Convidado
André Albuquerque