Que rode a tômbola das Finanças!

Nacional

Não é o Jogo do Ganso, não é a Amiga Olga, não é o Totoloto ou a Lotaria e muito menos o Euromilhões, vai andar à roda a tômbola das Finanças! Chegou hoje ao meu e-mail uma simpática missiva da Autoridade Tributária e Aduaneira com o seguinte assunto: “Exija sempre fatura e ganhe também prémios em sorteio”. Parece mesmo spam, não é?

José Azevedo Pereira, o honorável director geral da AT, assina o seguinte texto: “A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) vai passar a atribuir, com uma periodicidade regular, prémios de valor substancial aos consumidores que exigirem a emissão de faturas nas aquisições de bens e serviços efetuadas, já desde 1 de janeiro corrente.
Sempre que solicitar a inserção do seu número de contribuinte na fatura, fica automaticamente habilitado ao sorteio.
A implementação do sorteio e-fatura reforça o relevante papel que todos os cidadãos têm no combate à economia paralela e à evasão fiscal.
Pode obter mais informação no Portal das Finanças (e-fatura sorteio).
Exigir sempre fatura é um direito e um dever de cidadania.
Com os melhores cumprimentos”.

Quem me lê deve já ter recebido este e-mail ou estará prestes a receber, espero que sintam o mesmo asco que eu senti ao lê-lo. As Finanças e o governo decidiram transformar-nos em polícias das facturas, em bufos que devem denunciar uma economia paralela que cada vez mais garante que milhares de pessoas não passam fome, tão simples quanto isto. E para isso, compram-nos com prémios, com cenouras à frente dos olhos.

E os prémios, quais são os prémios? Confesso que estou em pulgas para saber, dava-me imenso jeito que me saísse um carro médio, para vender, ou uma motoreta daquelas citadinas, para vender, ou um conjunto de atoalhados e naperons, para vender. Tudo para vender, porque o que me faz cada vez mais falta, a mim e a tantos outros e outras, é um trabalho, de preferência com todos os direitos garantidos, mas se tiver de abdicar de alguns também aceito – atenção, eu disse alguns, só alguns, os que mantenham a minha dignidade profissional, a espinha torce mas não quebra. O desespero aguça a necessidade, e o facto de ser dirigente sindical e activista não me suprime o estômago das entranhas.

Uma coisa é certa, por mais mínimo que seja, o dinheiro gasto nestes prémios e na transmissão dos concursos – sim, um secretário de Estado qualquer disse que ia passar na TV, deve ser no intervalo da bola – faltará ao subsídio de desemprego de alguém, ao salário, ao abono de família, à construção de uma escola ou hospital novos.

Dizem eles que “exigir sempre fatura é um direito e um dever de cidadania”, dizemos nós que derrubar este governo de charlatões chantagistas também é um direito e um dever de cidadania. Depois de os derrubarmos organizamos um sorteio só nosso, giraremos a tômbola para decidir qual será a melhor e mais doce vingança. Como dizia a outra, “la vida es una tombola“.

P.S. – as parte dos texto escritas com as regras do Acordo Ortográfico, são da exclusiva responsabilidade dos promotores deste magnífico sorteio.

* Autor Convidado
André Albuquerque