Coragem hoje, abraços amanhã

Nacional

Feliz coincidência esta do aniversário do Partido Comunista Português ser tão próximo do Dia Internacional da Mulher (8 de Março) e no Dia Nacional da Igualdade Salarial. Os 93 anos de luta diária do PCP influenciaram de forma decisiva a luta pela emancipação das mulheres, e essa luta é, ainda hoje, um dos pilares da intervenção do PCP.

E neste 6 de Março, descobrimos que em 2014, as mulheres que trabalham neste país, necessitam em média de mais 65 dias por ano para ganharem o mesmo salário que os homens em postos de trabalho exactamente iguais. Dois meses e pico. Esta é a melhor resposta para os que dizem que já não há diferenciação entre sexos, que isso é coisa do século passado. Não só é algo que continua a fazer parte do nosso quotidiano laboral e social, como no momento de retrocesso social imposto por este governo e pelas instituições estrangeiras, a exploração e pressão sobre as mulheres e o seu trabalho tenderá a aumentar.

O PCP sabe disso, e sobre isso continuará a intervir nas ruas, nos locais de trabalho, na Assembleia da República e nas consciências. E o PCP sabe disso porque a História do PCP seria totalmente diferente se tivesse sido construída sem mulheres, ou apesar delas. As mulheres que decidiram lutar, as que durante décadas foram clandestinas tomando a difícil opção de se separarem dos seus filhos e filhas, as que foram presas e torturadas, as que ficaram sem os seus companheiros e companheiras, pais, filhos e filhas e nunca deixaram esmorecer a sua vontade, as que organizavam as casas do Partido que esconderam milhares de camaradas do longo braço da PIDE, as que estiveram nas difíceis greves que ajudaram à queda do fascismo, as que ajudavam na distribuição do “Avante!”, as que sempre que necessário lembraram os camaradas de que elas existiam e eram imprescindíveis para o Partido e para a luta de classes, as que os viram partir para uma guerra imbecil da qual muitos já não voltariam, as que os viram dar o “salto” e as que deram o “salto” com eles, as que tiveram responsabilidades de direcção do Partido e todas aquelas que depois do 25 de Abril, libertas da noite dos 48 anos, puderam gritar a plenos pulmões que eram Comunistas e que estavam ali para continuar a sua e a nossa luta.

Tenho a sorte de ser acompanhado e educado por mulheres, fortes, por vários motivos, a Paula, a Cláudia, a Engrácia e a Isabel. Tenho a felicidade com a Joana, a minha companheira que me enche de orgulho pelo esforço diário de dar mais um pouco de si aos outros e pelos outros. E tenho saudades da que me falta tantas vezes, a Maria dos Prazeres, que me viu filiar na JCP e torceu o nariz porque não gostava do Álvaro, que teve o desgosto imenso de não me ver baptizado e por isso me chamava de “turco”, mas que sempre, sempre, me sorriu e beijou com o imenso orgulho de perceber que as décadas de trabalho demasiado árduo eram agora recompensadas pela amizade do puto dos óculos azuis, o puto bisneto.

Continuamos a precisar de “Coragem hoje, abraços amanhã“, como diz o título do espectáculo sobre as mulheres presas e torturadas pela PIDE que a Brandão fará quando e onde a deixarem. Felizmente, e porque elas lutaram, já podemos ter hoje os abraços que nos dão a coragem para melhorar o amanhã. Obrigado.

* Autor Convidado
André Albuquerque