“Deixai que o verme se junte aos vermes”

Internacional

Prometi a mim mesmo não mais manifestar publicamente o meu regozijo pela morte de alguém cuja existência desprezei e a memória desprezo de igual forma. Trata-se de um princípio que tenciono manter, por várias razões de entre as quais destaco uma muito pessoal: creio que isso não faz de mim uma pessoa melhor, nem tão pouco penso que seja uma forma de acrescentar algo de positivo a mundo tão profundamente marcado pelo sofrimento, o ódio e a violência.

Posto isto, e a propósito do recente falecimento de alguém que escreveu páginas e páginas de história da Palestina moderna com o sangue de homens, mulheres e crianças cujo único crime foi terem nascido árabes numa terra que lhes foi tirada à força, lembrei-me de um episódio do livro “O Julgamento de Nuremberga”, de Joe J. Heydecker e Johannes Leeb, relativo à captura, suicídio e posterior enterro de um dos maiores monstros do século XX, o nazi-fascista alemão Heinrich Himmler.

Himmler foi capturado pelo exército inglês quando tentava atravessar um posto de controlo com documentos falsos, em Maio de 1945. Pouco depois suicidou-se através da ingestão de uma ampola de veneno e o oficial inglês mais graduado teve de tomar uma decisão sobre o destino a dar ao corpo. Himmler foi transportado por um pequeno grupo de soldados para uma floresta nas proximidades de Lunebergo e ali enterrado.

Depois de feita a cova, o corpo do criminoso genocida foi depositado na terra e coberto. Contam Heydecker e Leeb que os soldados permaneceram em silêncio durante alguns minutos junto à sepultura, até que um deles “sentiu a necessidade de pronunciar umas palavras”, as mesmíssimas que me sairam da boca quando este fim-de-semana tomei conhecimento da morte do carniceiro de Sabra e Chatila: “deixai que o verme se junte aos vermes”.

Naquilo que depender de mim a memória de Sharon não será esquecida. Tal como a de Himmler e a dos seus congéneres, aliás. Para que nunca mais aconteça fascismo.