Agora vais esquecer-te da realidade e deixar-te embalar pela minha voz. A cada palavra e a cada número, vais sentir-te descer, cada vez mais relaxado e sonolento até chegares a uma versão de Portugal em que o desemprego está a baixar. Agora vou contar de um a cinco. Quando chegar ao número cinco, vais entrar na realidade virtual do governo PSD-CDS-PP.
E assim eu digo:
Um.
Uma estranha sensação de calma desce sobre ti como se o país estivesse melhor, mas as pessoas não. As pontas dos teus dedos estão a aquecer e as tuas mãos estão a tornar-se pesadas.
Dois
O calor está a estender-se aos teus braços, aos teus ombros e ao teu pescoço. Todos os trabalhadores desempregados estão desaparecer. As tuas pernas estão a tornar-se pesadas.
Três.
Todos os teus músculos estão completamente relaxados e sentes que o desemprego é uma oportunidade de mudar de vida e que só não trabalha não quem não quer.
Quatro.
Estás a afundar-te em estatísticas falsas como líquido espesso. Quando eu chegar ao número cinco, vais deixar de questionar o que o governo te diz e vais saber que por este andar, mais cinco anos e não há desemprego nenhum.
Cinco!
Está à vista de todos, o desemprego diminui a olhos vistos! Sob a liderança dos banqueiros, o PSD e o CDS-PP vão conduzir Portugal ao paraíso!
Mas será que o desemprego está mesmo a baixar? O que se passa por detrás desta sessão de hipnose estatística?
A verdade é que o desemprego não a diminuir. Na verdade, está a aumentar, muito. Sim, leu bem. A descida da taxa de desemprego é uma fraude. Uma enorme mentira criada para manipular os portugueses. Mas então, afinal porque é que o INE diz que a taxa de desemprego está a diminuir?
Simples: porque o governo passou a chamar outro nome aos desempregados. E toda a gente sabe que se mudarmos o nome a um problema, ele desaparece, não é verdade?
Nas estatísticas do governo não entram centenas de milhares de pessoas desempregadas.
Por exemplo, as pessoas que desistiram de procurar emprego ou que o governo não sabe que estão desempregadas, não contam para as estatísticas. E estamos a falar de muita gente. Cerca de 280 000 pessoas, um número que só nos últimos 5 anos aumentou 50%!
E depois há os desempregados obrigados a trabalhar precariamente, os chamados trabalhadores com «contratos de inserção», uma espécie de trabalho forçado e escravo, em que para não perder o subsídio se desempenha um trabalho precário durante 12 meses. Em 5 anos, o número de trabalhadores obrigados a aceitar estes contratos cresceu quase 40%! Hoje são mais de 32 000 trabalhadores!
Mas para a operação de manipulação do governo, isto nem é o mais importante… Vejamos, por exemplo, os trabalhadores abrangidos pela “formação profissional”. Pela lógica do governo, os trabalhadores obrigados a fazer estas formações não estão desempregados. E o número de formações externas aumentou mais de 1000%.
E eis que chegamos à melhor forma de reduzir o desemprego: estágios. Sim, o Estado paga salários de miséria a trabalhadores contratados por empresas privadas. As empresas adoram: mão-de-obra gratuita durante 12 meses e quando o «estágio» acaba, contratam outro «estagiário»! E não, não há limites ao número de vezes que uma empresa pode fazer isto.
Em 5 anos, o número de «estagiários» cresceu 1100% de pouco mais de 3000 para mais de 40000. E desengane-se quem acreditar que isto é um problema dos estagiários: é o trabalho de todos que está a ser desvalorizado: porquê contratar quando se pode arranjar a mesma coisa à borla?
No total, o governo está a esconder mais de 165 000 desempregados. E diminuindo o desemprego em estatísticas inventadas, o governo justifica a diminuição dos apoios necessários: nos últimos cinco anos, o número de desempregados a receber o subsídio diminuiu de 28% para 20%.
À medida que na realidade virtual do governo o desemprego diminui, a miséria aumenta.
A realidade é que a taxa de desemprego é hoje muito superior aos 20%. E o caminho de destruição do emprego, dos direitos dos trabalhadores e da economia só pode continuar aprofundar este estado de coisas.
E se tivermos em conta os 110 000 trabalhadores que emigram anualmente, chegamos à conclusão de que a situação do desemprego em Portugal é completamente insustentável. Por este ritmo vamos perder metade da população ativa em 20 anos.
E este governo, porque está ao serviço dos capitalistas, dos patrões e dos banqueiros, não está interessado em diminuir o desemprego: quanto maior for o desemprego, menores serão os salários. O capital sabe que pode até pagar até 200€ por qualquer trabalho, porque desde que haja fome, haverá sempre alguém a aceitar.
Mas é possível sair deste pesadelo. A luta dos trabalhadores pode impor uma política patriótica e de esquerda, que crie emprego e ponha a economia ao serviço do povo.
Acorda da hipnose do governo. Junta-te à luta.