Dia Internacional da Mulher Trabalhadora

Nacional

Comemora-se hoje o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher. Fiz uso no título original desta data— Dia Internacional da Mulher Trabalhadora — pois é bom recordar que esta comemoração, iniciada em 1909, teve a sua origem no seguimento de lutas laborais das mulheres e foi impulsionada por mulheres socialistas, como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai, como um dia de luta por melhores condições de vida e trabalho das mulheres, pelo direito de voto, pela igualdade entre homens e mulheres, e pelo socialismo.

Em Agosto de 1910, na Segunda Conferência de Mulheres Trabalhadores, Zetkin propôs celebrar um dia, cada ano, em todos os países, sob o lema «O voto das mulheres irá unir a nossa força na luta pelo socialismo». Seria um dia focado nas mulheres, nas suas lutas específicas, mas não desligado nas questões sociais e políticas mais alargadas. Kollontai explica-nos que a data inicialmente escolhida foi o 19 de Março, evocando a revolução de 1848 quando «o Rei da Prússia reconheceu pela primeira vez a força do povo armado e sucumbiu perante a ameaça de um levantamento proletário. Entre as muitas promessas que fez, que depois não cumpriu, estava o voto das mulheres.» O Dia Internacional da Mulher Trabalhadora foi comemorado pela primeira em 1911. Em 1913, foi decidido alterar para o dia 8 de Março.

Foi nesse dia (23 de Fevereiro pelo calendário juliano), em 1917, que dezenas de milhares de operárias têxteis Russas protestaram nas ruas de São Petersburgo contra a guerra, contra a fome e contra o tsar, cob o lema de «Paz, pão, liberdade». Os seus protestos juntavam-se à greve dos operários da fábrica Putilov que duravam há já alguns dias. Nos dias seguintes, cresceram os protestos e greves. A 12 de Março as forças militares uniram-se às forças revolucionárias, e três dias depois o Tsar abdicava, pondo fim a um império de largos séculos.

Embora o voto das mulheres já tinha sido alcançado na maioria dos países do mundo, as desigualdades entre género continuam marcadas, Recentemente o relatório do Fórum Económico Mundial (de 2016) cerca de metade dos países aumentaram a discrepância entre géneros face ao ano anterior, medido em termos de participação e oportunidade económica, educação, saúde e participação política. Dos 144 países analisados, a paridade em questões de educação e saúde está perto de ser alcançada, mas há muito ainda por trilhar na participação económica e política (ver quadro). Segundo dados da EUROSTAT, embora as mulheres constituam cerca de metade dos trabalhadores, estão subrepresentadas nos lugares de chefia. Em Portugal as mulheres trabalham mais, e ganham menos.

Justifica-se assim plenamente continuar a marcar este dia, e a celebrá-lo em luta. Em Portugal, o Movimento Democrático de Mulheres convoca para um Concentração de Mulheres (sendo os homens naturalmente bem-vindos) no dia 11, declarando como objectivos:

  • Alargar a frente social de luta das mulheres propondo, reivindicando, valorizando as mulheres na sua acção pela cultura e progresso da humanidade, na sua intervenção contra as desigualdades e discriminações que as afectam na família, no trabalho e no plano social, político e cultural.
  • Ampliar a luta das mulheres na exigência do cumprimento dos seus direitos.
  • Contribuir para elevar a consciência social, política e cultural dos diversos sectores de mulheres.
  • Alargar o número de mulheres, de diversas idades, de diversas profissões das diversas regiões e dos diferentes sectores de actividade, fazendo ouvir a sua voz.

* Autor Convidado
André Levy