Entretanto, na Grécia…

Internacional

E de repente a Grécia desapareceu do nosso quotidiano. É por ter desaparecido o espectáculo – porrada – das manifestações? Será que a TVI gastou todo o dinheiro destinado a assuntos gregos a transmitir o Olympiakos – Benfica? Vá lá que quem transmite os jogos da Liga Europa é a SIC, senão PAOK – Benfica, nicles. Veio um gigante enorme que comeu a Grécia com azeite, azeitonas e pão pita? Ou será que é porque o governo grego bateu o pé à troika – devagarinho, mas bateu – ao aprovar um Orçamento do Estado que não corresponde à totalidade do que FMI, UE e BCE exigem de Atenas e isso incomoda um bocadinho?

O OE grego para 2014 foi aprovado e, ordena a troika, coloca em risco uma tranche de mil milhões de euros que chegariam a Atenas e que está a ser discutido há cerca de 3 meses, e também futuras tranches. Claro que a austeridade continua, claro que o governo da Nova Democracia e do PASOK prossegue o trabalho sujo que lhe mandam e que quer fazer, claro que a Grécia está longe de ser um exemplo a seguir. A verdade é que o nosso governo não fez o mínimo esforço para combater as imposições externas – indo além delas – e ainda, na Grécia, nos envergonhou enquanto povo, através do querido Bruno Maçães e os seus óculos de hipster que legisla.

É para a Irlanda que agora nos querem desviar o olhar. Bem, se eles começam a dar tempo de antena aos sindicalistas irlandeses, então também se lhes corta o pio. Diz David Begg, o tal sindicalista: “O desemprego está mais alto, a nossa dívida é maior e a emigração está a
levar os melhores e mais brilhantes dos nossos jovens. O programa
provocou a destruição económica e social da Irlanda”. Onde é que já ouvi isto?

Voltando à Grécia. Apesar de ao longo de todo o tempo de troika no país a atitude do governo grego ter sido um nadinha diferente da do português – o que leva os gregos e as gregas a odiarem ainda mais a troika do que o governo, ao contrário do que se passa aqui no rectângulo -, o frenesi capitalista e privatizador é igual, ou até superior, ao de Passos Coelho e companhia.

Em Portugal, a discussão sobre a privatização da água ainda não ganhou o espaço devido, mas em 20 concelhos a rede pública já está nas mãos dos privados. Na Grécia, espera-se por uma decisão – positiva – do Supremo Tribunal em relação à qualificação da água como um bem comum e portanto impossível de privatizar, ilegalizando a passagem das companhias públicas para o TAIPED, fundo de privatização. Nos entretantos e enquanto a decisão não sai, a coligação ND/PASOK, apressa-se a fechar contratos de venda de grande parte da rede pública de distribuição de água. É como quando somos miúdos, sabemos que somos castigados se sairmos pela janela para passear à noite, mas aceitamos o castigo, porque o gostinho de termos feito o que queriamos já ninguém nos tira.

Mas também há boas notícias, dadas pela Luta, pois claro. Depois de 3 meses em greve, os funcionários das universidades gregas conseguiram travar o despedimento de 1349 trabalhadores e trabalhadoras. Até ver, que quando a esmola é demais…

E cá se vai andando, como a troika e o governo querem, com a cabeça entre as orelhas, ensanduichados noticiosamente entre uma Grécia falida e uma Irlanda destruída. E já nem falo no Estado Espanhol, as notícias que de lá nos chegam são demasiado assustadoras, se pensarmos que para Este só temos aquela fronteira e para Oeste resta-nos o mar, e os estaleiros estão aqui estão a fechar…

Autor Convidado *
André Albuquerque