Exclama Abril!

Nacional

Só hoje vi o cartaz oficial da Associação 25 de Abril para a comemoração dos 40 anos da revolução. O vermelho desbotado, a fugir para o rosa, a interrogação de 40 anos de liberdade e democracia.

A modesta opinião de um ex-aluno de artes – no décimo ano, com resultados desastrosos, é certo – é que a ambiguidade não favorece nem Abril, nem os 40 anos, nem a A25A. Este cartaz é uma merda no contexto actual e histórico. Só há dois lados numa barricada.

Qual é, exactamente, o objectivo deste cartaz? Se conquistámos a democracia há 40 anos? Conquistámos. Se levou o rumo certo? Não. Nem leva e não falta gente na A25A que tenha caucionado as políticas dos partidos que há 38 anos vão comandando os destinos do país.

Qual é a interrogação da A25A? Se Abril serviu para alguma coisa? Numa altura em que enfrentamos a mais brutal ofensiva dos partidos do governo e respectivas muletas, da banca, do FMI, contra o povo? Querem mais reflexões? Querem mais manifestos de 74 – que não este – cheios de gente que ajudou a cavar o buraco em que agora estamos? Com o apoio de mais alguns, que não se importam de caminhar de braço-dado com ex-ministros da direita mais reaccionária.

Não vivi o 25 de Abril. Respeito quem o fez, uns mais que outros, porque a história e caminhos percorridos desde então deram tantas voltas que não cabem nas curvas de um ponto de interrogação. Mas a rectidão do que foi conquistado com a Abril é desvirtuado com as curvas da interrogação. Interroguem-se em quem votaram ao longo destes anos. Interroguem-se sobre quem apoiaram, façam as reflexões que entenderem sobre o que quiserem, mas vivemos uma situação de emergência onde a ambiguidade e a interrogação não cabem.

Todos os dias milhões de pessoas por este país fora e fora dele exclamam por Abril, pelas suas conquistas, pela sua defesa, pelo que representou para o país e para os próprios, pelos pais, avós, filhos, netos e amigos que estão a sofrer na pele as consequência dos retrocessos da Revolução. Nos 40 anos de Abril, Abril merecia melhor da A25A.

Da mesma forma que, há uns anos, Santana Lopes fez cair o “R” de Revolução para dizer que Abril era então “evolução”, muita gente fez o favor de pintar o R em falta nos outdoors espalhados pelo país, por isso, de cada vez que vir isto, exclamarei Abril. Não há lugar para ambiguidades. Numa barricada só há dois lados.