FARC-EP, 50 anos de resistência!

Internacional

Neste dia, há meio século, um grupo de 46 homens e duas mulheres resistiam a um cerco militar montado pelo governo da oligarquia colombiana. Vagas sucessivas de ataques de um exército formado por milhares de soldados apoiados por carros de combate, bombardeiros da força aérea e forças norte-americanas de elite não conseguem derrotar o punhado de camponeses. Meses antes, a direcção do Partido Comunista Colombiano envia Jacobo Arenas, membro do Comité Central, para apoiar politicamente no terreno a pequena força insurgente. Marquetalia, o nome da povoação que alberga os combatentes, entra para a história da Colômbia. Em San Miguel, cai em combate um dos mais destacados resistentes, Isaias Pardo. Apesar disso, os 48 guerrilheiros não só rompem o cerco como conseguem sob o comando de Manuel Marulanda Vélez transformar o pequeno grupo na mais importante organização guerrilheira da América Latina.

Dois meses depois, os combatentes reúnem-se e proclamam o Programa Agrário. As palavras retumbam como pólvora pelos campos, selvas e montanhas: «Obrigados pelas circunstâncias não nos resta mais do que a via armada revolucionária de luta pelo poder». A estes camponeses armados juntam-se outros que combatem isolados há anos contra a violência estatal e oligarca. Depois do assassinato, em 1948, do candidato presidencial progressista Jorge Eliécer Gaitán, a violência havia explodido e apesar das promessas de paz, quase sempre violadas, por parte dos sucessivos governos, muitos trabalhadores rurais optaram por não entregar as armas. Um ano depois, em 1965, Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, Ciro Trujillo e Jaime Guaracas dirigem mais de 145 guerrilheiros.

Hoje, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) são a maior força popular comunista em armas da América Latina. Combatem um dos mais importantes exércitos do mundo com cerca de meio milhão de soldados e com o apoio directo dos Estados Unidos. O investimento norte-americano na guerra colombiano é superado apenas pelo apoio que Washington oferece a Israel. Para além das tropas oficialistas, as FARC-EP sofrem o acosso militar das forças paramilitares carniceiras financiadas pela oligarquia, pelos cartéis da droga e com ligações ao poder político.

Forjada pelo Pentágono, a grande mentira veiculada pela imprensa é a de que os guerrilheiros comunistas se dedicam à produção e tráfico de cocaína. De facto, as FARC-EP controlam territórios em que os camponeses não têm outra forma de sobreviver senão através do cultivo das folhas de coca e da sua venda. Sucessivamente, os comandantes farianos têm proposto a erradicação da produção e tráfico de droga através de um programa de substituição de cultivos que dignifique o campesinato e lhe dê condições para viver da produção agrícola. É esse um dos temas centrais que está em cima da mesa dos diálogo de paz que estão a decorrer em Havana.

Os povos odeiam a guerra. O cheiro a pólvora e a metralha entranham-se nas narinas e o sangue jorra indiscriminadamente. Foi a violência da oligarquia colombiana que conduziu os trabalhadores à guerra. Depois do assassinato do candidato presidencial Jorge Eliécer Gaitán, operários e camponeses lançaram-se sobre a oligarquia. Depois da repressão militar sobre o campesinato, as guerrilhas ressurgiram para defender a própria vida e exigir uma vida digna. Depois do processo de paz em que milhares de militantes, candidatos e eleitos do partido lançado pelas FARC e pelo PCC foram assassinados, muitos encontraram na selva e nas montanhas a única forma de sobreviver. Tem sido assim desde sempre. Os trabalhadores e o povo colombiano amam a paz mas não têm outra forma de lutar senão através dos canos das suas metralhadoras. A Colômbia impera anualmente nos rankings de sindicalistas e jornalistas assassinados. É também o país com o maior número de deslocados internos do mundo.

Mas ali, entre a folhagem verde da selva, erguem-se verdadeiras cidades. É a fronteira invisível da dignidade. Os guerrilheiros estudam, levantam hospitais nos sítios mais improváveis, erguem nas montanhas as suas emissoras clandestinas de rádio, jogam futebol em campos improvisados e organizam peças de teatro. Acordam todos os dias às quatro da madrugada e adormecem às oito da noite. Sonham com o dia em que cheguem a Bogotá e não esquecem os que ficaram pelo caminho. Mas a sua força não se limita aos campos, selvas e montanhas. Nas cidades colombianas, nos locais de trabalho e nas universidades, apesar do acosso militar e policial, subsistem as Redes Urbanas Antonio Nariño (RUAN) e o Partido Comunista Colombiano Clandestino (PCCC).

Inspirados pelos princípios de Marx e Lénine e pelo exemplo de Simón Bolívar, as FARC-EP mantêm-se fiéis às razões que levaram 48 camponeses a levantarem-se em armas. Sucessivas gerações de mulheres e homens deram o melhor das suas vidas à luta contra a exploração capitalista e contra o imperialismo. Ao contrário do que dizem as agências internacionais de notícias, as FARC são o digno exemplo de uma força que não claudica e que é fiel seguidor das tradições revolucionárias que povos de todo o mundo forjaram para conquistar a sua liberdade. Agarrar em armas para tomar o céu de assalto é, na maioria dos casos, a única opção que sobra. Foi assim na Comuna de Paris, em Petrogrado, na China, em Cuba, no Vietname, na Argélia, na Guiné-Bissau, em Angola, em Moçambique e em tantos outros países do mundo. Não é por acaso que a Constituição da República Portuguesa, obra da revolução de Abril, reconhece aos povos o direito à insurreição contra todas as formas de opressão.

Que vivam as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia!
Con Bolívar, con Manuel, con el pueblo al poder!

Sobre o 50º aniversário das FARC-EP:

Vídeo da intervenção de Timoshenko, comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP

Breve cronologia das FARC-EP (1948-2003)

9 de Abril de 1948. O líder popular Jorge Eliécer Gaitán é assassinado, iniciando um período de violência em todo o país. Fontes indicam que o assassinato fora preparado pela oligarquia nacional e pela CIA.
1949. Surgimento do Movimento de Autodefesa Armada Comunista (MAAC) no município de Chaparral (Tolima), como resposta à repressão e perseguição política do regime. Fascistas e chauvinistas semeavam a morte no país.
1950. Assume a presidência da Colômbia o mais sanguinário governo da história, o representante do fascismo Laureano Gómez.
1950. É realizada a aliança entre os destacamentos comunistas e os liberais de Gerardo Loaiza.
1952. O Governo interino de Roberto Urdaneta envia tropas governamentais para “pacificar” a planície oriental e o sul de Tolíma.
1953. Golpe militar do sanguinário Rojas Pinilla.
1955. Agressão a Villarricca. Ao longo da resistência são fundados os Comandos de Guayabero e El Pato. Porém, antes já funcionavam os Comandos de Riochiquito, Simbula e Marquetália dirigidos por Jacobo Prías e Manuel Marulanda.
1957. Cai a ditadura de Rojas e assume o governo uma junta militar com o objectivo de levar adiante o programa da Frente Nacional que impunha o sistema paritário Liberal-Conservador. Em Dezembro, cessa a luta armada, porém, sem a entrega das Armas. Fundado o Movimento Agrário de Marquetália.
1958. Com a presidência de Alberto Lleras Camargo deixa de funcionar a Frente Nacional.
11 de janeiro 1960. Jacobo Prías (Charro Negro), chefe do Movimento Agrário Comunista cai assassinado por ordens do regime. Manuel Marulanda assume a resistência armada.
1962. Governo de Guillermo Leon Valencia. Fracassa a primeira ofensiva do exército colombiano contra o movimento camponês de Marquetália.
26 de setembro de 1963. Tropas do batalhão Caycedo massacram 16 camponeses em Natagaima (Tolima); como resposta ao massacre surge a organização guerrilheira que leva o simbólico nome de 26 de setembro.
11 de abril de 1964Jacobo Arenas e Hernando González Acosta são enviados a Marquetália pelo Partido Comunista para ajudar na resistência.
27 de maio de 1964. Primeiro combate em La Suiza. Essa data é o marco de fundação das FARC. Com os bombardeamentos em que participam aviões norte-americanos, os combates prolongam-se várias semanas. Há muitas baixas inimigas. Isaias Pardo morre combatendo em San Miguel.
20 de julho de 1964. Em assembleia, os combatentes proclamam o Programa Agrário dos Guerrilheiros: “… obrigados pelas circunstâncias, resta-nos apenas a via armada revolucionária de luta pelo poder”.
17 de março de 1965. Fusão guerrilheira em Inzá (Cauca) aumentado o movimento para 145 unidades.
Final de 1965. Organizada a Primeira Conferência do Bloco Sul em Rio Riquito, com a presença de 100 combatentes: “A conferência considera de extraordinária importância a iniciativa de unificar as forças guerrilheiras dentro de blocos geográficos determinados”.
23 de setembro de 1965. Cai combatendo em Riochiquito, Hernando González Acosta, estudante da Universidade Livre e membro da Juventude Comunista. O X Congresso do Partido Comunista, expressa: “A guerra de guerrilhas é uma das formas mais elevadas de luta das massas…”. A instalação desse programa do Partido esteve a cargo do membro do Partido, Jacobo Arenas.
Final de 1966. É realiza em El Pato a Segunda Conferência do Bloco Sul, na qual se torna conferencia constitutiva das FARC, com a participação de 250 combatentes. É definido um plano de crescimento e organização nas massas. É afirmado que o processo revolucionário no país seria um processo longo para a tomada do governo, com a classe operaria e o povo trabalhador. Se nomeou o Estado Maior, elegendo Marulanda como Comandante Supremo e Ciro Trujillo como segundo no comando. É aprovado o estatuto de regulamento do regime disciplinar e as normas do comando.
1966-1968. A organização passa por uma profunda crise. Cai Ciro Trujillo. O movimento perde cerca de 70% da força acumulada no processo de luta.
1968. Terceira Conferência das FARC. Nela, procuram-se soluções para a crise.
1970. No início do ano teve lugar a Quarta Conferência, em que foram criadas as condições para voltar a Cordilheira Central. É consolidada definitivamente a ideia de Frentes Guerrilheiras. As comissões saem e a partir daí constroem novas frentes.
1974. Quinta Conferência das FARC. Referindo-se a crise interna, Marulanda disse: “Agora sim, calculo que temos a resposta para essa terrível enfermidade que quase nos aniquilou a todos”. É proposta a ampliação da Força Guerrilheira para se converter num Exercito Revolucionário.
1978. Sexta Conferencia. Se planeia como indispensável capacitar comandantes e crescer em homens, armas, finanças, escolas de Frentes e uma Escola de Estado Maior e Secretariado. O periódico Resistencia passa a sair regularmente.
1980. As FARC libertam a região de Guayabero do “Plano Cisne 3” e culminou na captura de 22 militares e a recuperação de todo o seu armamento.
4-14 de maio de 1982. Em Guayabero é realizada a Sétima Conferência. É formulado o novo plano estratégico da organização insurgente, e que a partir de então seria acrescentado a designação de “Exército do Povo”, passando a se chamar FARC-EP. O plano recebeu o nome de Campanha Bolivariana por uma Nova Colômbia.
Novembro de 1982. É aprovada a Lei Geral de Amnistia.
6 a 20 de outubro d 1983. Plano Ampliado do Estado Maior Central (EMC), que analisa o desenvolvimento da gestão das Frentes de Combate da organização. O plano é em seguida aprovado com unanimidade.
28 de março de 1984. Pacto de trégua bilateral entre as FARC e o governo de Belisario Betencourt. As FARC, com outras forças de esquerda, lançam o partido União Patriótica.
1984-1986. Auge do extermínio das forças da União Patriótica. As FARC saem da legalidade. A União Patriótica conseguiu eleger, no pleito de 1986, 14 congressistas, 18 deputados, 335 conselheiros e um grande número de vereadores. O regime fomenta um plano de extermínio contra a UP e aquilou mais de 4.000 dos seus dirigentes e militantes. O Estado aumenta a guerra suja e a trégua é rompida. Em Cañas região de Ubará, o exercito assassinou 22 guerrilheiros das FARC, violando o acordo de trégua.
10 a 17 de maio de 1989. Plano do Estado Maior Central. As FARC preparam a criação das Uniões solidárias e de núcleos bolivarianos para continuar com êxito as tarefas da Campanha Bolivariana por uma Nova Colômbia.
10 de agosto de 1990. Morre Jacobo Arenas por razões naturais. Em 9 de dezembro, é desencadeado um ataque à Casa Verde, ao Secretariado das FARC, como parte da Operação Centauro II, comandada por César Garcia e comandos militares. O ataque é repelido contundentemente pelas FARC. Neste dia, também foi eleita a Assembleia Constituinte.
1991. Em respostas à agressão, as FARC empreendem a campanha “Comandante Jacobo Arenas, compriremos!”, no qual obriga o regime a negociar a paz. O novo processo de paz principia em Caracas e prossegue até março de 92, em Tlaxaca, México. Em outubro, o governo rompe os diálogos.
11 de abril de 1993. Reajuste do Plano Estratégico. É proposta a proposta da plataforma por um Governo de Reconstrução e Reconciliação Nacional.
1994. Campanha militar na despedida do governo de Galvina, em repudio às suas políticas neoliberais lesa-pátria contra o povo.
30 de agosto de 1996. Nova campanha militar das FARC contra a guerra suja e o Terrorismo de Estado e em solidariedade com os milhares de camponeses que protestavam no sul do país por melhorias sociais. Durante essa campanha, as FARC tomam a base de Delicias. Capturados mais de 70 militares, os quais são entregues a Cruz Vermelha em Cartagena Del Chairá.
Novembro de 1997. As FARC avançam no processo de criação do Partido Comunista Colombiano Clandestino (PCCC).
1998. Neste ano a organização inferiu ao exercito oficial e às organizações paramilitares sucessivas derrotas, como em El Billar, Miraflores, Tamborales, Mitú, Juradó, La Llorona, Yarumaí, entre outras, cansando centenas de baixas e prisioneiros.
Janeiro de 1999. Começa um novo processo de diálogos pela paz com o governo de Andrés Pastranas, no qual desmilitarizam um amplo território do tamanho da Suíça para o trabalho das FARC. Nas audiências publicas há ampla participação de sectores da população. São denunciadas as consequências da política neoliberal, do Plano Colômbia e da ALCA.
29 de fevereiro de 2002. o governo rompe os acordos de paz com a “Operação Thanatos”.
7 de setembro de 2003. À frente de suas funções de Integrante do Secretariado das FARC, falece nas montanhas da Colômbia o camarada Efraín Guzman, com 67 anos.