Farsa para um povo enganado e um banqueiro armado

Nacional

Somos muitas vezes levados a crer que a intervenção do Estado, através das ordens dos Governos, na banca privada se destina a salvaguardar uma espécie de entidade abstracta que dá pelo nome de “banco”. Essa ilusão alimenta a justificação que não poucas vezes parece chancelar a intervenção do Estado: a da necessidade de, salvando o “banco”, se salvam os depositantes e as poupanças que lá se encontram.

Na verdade, a intervenção do Estado na banca privada não salva “bancos”, nem organizações sociais que dão pelo nome de empresas, antes se limita a salvar criminosos. Como assim?

Ora, o fundo de garantia de depósitos, obrigatório por lei, já assegura que todos os depósitos até 100 mil euros estão garantidos, desde que sejam efectivamente depósitos e não aplicações de risco. Isso significa que, no caso de uma instituição bancária perder liquidez, esses depósitos estão sempre garantidos. Que intervenções são então as que os Governos PS, PSD e CDS têm vindo a realizar a coberto da ideia de que existe uma estrutura privada da qual depende o bem-estar público que dá pelo nome de “banca”, se não se destinam, de facto, a salvar depositantes?

Quem está a ser salvo pelas injecções de milhares de milhões de euros patrocinados pelos impostos dos trabalhadores portugueses e desviados do financiamento da segurança social, dos hospitais, das escolas, da justiça, das forças de segurança, das forças armadas?

Na verdade, quando se diz que o Governo salva os bancos, há uma ténue imprecisão, pois não é o banco que é salvo nestas intervenções. Aliás, como verificámos, não foi salvo o BPN, nem o BES, nem os restantes intervencionados, apesar de não terem fechado portas. Esses bancos foram alvos de assaltos, permanentes e continuados, ao longo de décadas. Como se um bando de mascarados fosse todos os dias pela calada retirar o dinheiro dos cofres de cada um desses bancos e o levasse para um cofre só seu.

O que se passa na banca privada não é diferente disso. Nem em Portugal, nem em lado nenhum do mundo. A única diferença, que não altera a natureza do crime, antes a agrava, é que o bando de mascarados, no caso presente, são os próprios administradores dos bancos e os proprietários dos bancos. O dinheiro roubado, aos milhões, é resultado de crimes atrás de crimes, de cumplicidade das autoridades que fingem policiar quando na prática são apenas o tapete que esconde a porcaria que os banqueiros fazem.

Ora, uma pequena peça com acção pode ilustrar, bem ou mal:

De manhã acordas e ouves na rádio que o Estado usou o teu dinheiro, uma vez mais, para salvar um banco. Ficas confuso. Mas que se lixe, ou isso ou as pessoas ficam sem o dinheiro.

Ao mesmo tempo, o que não vês, é que o dinheiro que falta no banco foi levado na noite anterior por um bando de ladrões que são, só por acaso, os patrões dos teus ministros, dos teus deputados, dos teus polícias. Levaram-na pela calada da noite, armados até aos dentes de jornais, rádios e televisões. E foram-se embora com ele.

Em vez de presos e obrigados a pagar o que roubaram,os ladrões, os ministros, os deputados e os polícias todos juntos e cada um no seu papel, realizam a transferência necessária para a instituição bancária desfalcada com o teu dinheiro em vez de o ir buscar a quem o roubou.

Quem o roubou viverá feliz para sempre.
Ou não. Está na tua mão.

Aceitarias isto se fosse um ladrão a arrombar um banco armado de pistolas em vez de jornais?