Memória

Internacional

Ainda que me cause a mais intensa repulsa, não perderei tempo lembrando caso a caso a suprema hipocrisia das declarações de circunstância daqueles que dizem hoje o contrário do que fizeram ontem a propósito de Nelson Mandela e da libertação da África do Sul do jogo fascista do Apartheid. É informação que, pelo que percebo, flui pelas redes sociais nestas horas que passam.

O que quero fazer é, apenas e tão só, manifestar o meu mais profundo pesar pelo falecimento de um camarada de luta (de lutas). Um homem que, não sendo comunista, lutou ao lado dos comunistas sul-africanos, e que foi – para lá de uma personalidade ímpar – o nome colectivo de centenas de milhares de lutadores anónimos perseguidos, encarcerados, torturados e assassinados pelos círculos fascistas afrikaner.

Também não posso deixar passar esta oportunidade para lembrar que durante todo o período da luta do ANC pela liberdade da África do Sul três outros países nunca regatearam solidariedade e que pelo menos um deles tem vítimas a chorar caídas na luta anti-colonial e anti-racista africana: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a República Democrática Alemã e a República de Cuba, que esteve ao lado de Angola e do MPLA no combate ao fascismo e ao racismo dos bandos armados e dos mercenários de vários nacionalidades que em conjunto com o exército sul-africano de então procuravam conter a liberdade e salvar o brutal regime segregacionista da África do Sul.

Mandela foi um homem grande mas a luta pela Liberdade na África do Sul tem milhões de outros heróis, a maioria dos quais anónimos. É também esta massa de gente heróica quase nunca lembrada que devemos recordar num dia em que todos os olhos se voltam para o extremo sul do continente africano.