Em meio ano, Nuno Melo, ministro da Defesa, ainda não conseguiu perceber o que significa representar o Estado português. O governo, que tem investido tanto em comunicação, formal e informalmente, ainda não conseguiu explicar ao presidente do CDS que não é ministro da Defesa do Portugal dos Pequenitos.
O tempo do CDS
Quando a extrema-direita saiu dos salões e dos corredores do poder e ganhou um porta-voz num painel de comentário de futebol da CMTV, o CDS tornou-se dispensável para aqueles que sempre pensaram como pensam hoje, só perderam a vergonha de dizê-lo. O discurso dos subsídio-dependentes, dos desempregados que não querem trabalhar, dos malandros do RSI, já existia com o CDS, era só mais polido. Com o advento de projetos de comunicação marcadamente ligados à direita mais extrema, como o Observador, e o sistema a levar ao colo o senhor antissistema, como demonstram, mensalmente, os dados da Marktest sobre o tempo que cada líder político tem nos jornais dos quatro canais generalistas, o CDS perdeu ainda mais fôlego, ficando fora do parlamento no governo de maioria absoluta do PS.
O colinho do PSD
Numa tentativa de não perder os neofascistas todos para o Chega, o PSD decidiu dar a mão ao CDS que restou do último governo de Passos Coelho: Nuno Melo, Álvaro Castelo Branco, João Almeida, Paulo Núncio e Telmo Correia, por exemplo, entre cargos de governo e lugares de deputado, voltaram à ribalta. Porém, os dirigentes do PSD esqueceram-se de avisar Nuno Melo que ele não é Gonçalo da Câmara Pereira, que apareceu só para fazer número. É ministro.
Exército de reclusos
Há uns meses, Nuno Melo deixou a boca fugir para a verdade e, enquanto ministro da Defesa, decidiu afirmar que o serviço militar seria uma boa alternativa à institucionalização de jovens que cometam pequenos delitos. Uma espécie de Serviço Militar Obrigatório punitivo, com tudo o que acarreta de desrespeito pelas Forças Armadas e pelo cargo que ocupa. Mais tarde, o ministro referiu que as afirmações que fez foram a título de convicção pessoal, enquanto presidente do CDS, e não enquanto ministro. Agora, sobre a intenção de avançar sobre Olivença e em força, o mesmo Melo voltou a falar como presidente do CDS, embora estivesse numa cerimónia para a qual foi convidado enquanto ministro.
O ministro da pequenada
Nuno Melo não tem estatura para ser ministro de coisa alguma. Estamos a falar do eurodeputado que menos pôs o pés no Parlamento Europeu enquanto foi eleito, que acha que, quando fala, está num convívio de agrobetos a brincar aos capatazes das vinhas. Portugal dos Pequenitos, com toda a dimensão histórica que carrega de propaganda do fascismo em Portugal, seria o local ideal para Nuno Melo brincar aos ministros. Por enquanto, vamos mesmo ter de levar com ele na Defesa e com outro anão diplomático nos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Duas notas finais: 1 – Já se mudava o nome do ministério para Relações Externas; 2 – Atendendo à irrelevância portuguesa no cenário europeu enquanto Estado e à irrelevância da UE no mundo, talvez sejam mesmo as pessoas certas nos lugares certos.