É Sexta-feira, 6 de Setembro, Lisboa ficou nas costas e pela ponte 25 de Abril aproximamo-nos do nosso-chão. A sensação é de mais gente e de mais vida nas ruas seixalenses que confluem às entradas da Festa do Avante!, sem certezas, porém, de que há uma certa pressa que nos impele a olhar pouco, e a ver menos, este estacionamento está lotado, avisam-nos e seguimos para o da entrada pela Quinta da Princesa, afinal é mesmo por ali que sempre entramos e a informação não ajuda a dissipar dúvidas, que na verdade ainda não existem. É ainda cedo, anunciamo-nos aos camaradas de turno junto ao portão de acesso, e logo ali, sim, está mais gente este ano, declaramos animados, não tanto como poderia ser de esperar, por alegria e militância, é que há que espertar os sentidos, estão carros estacionados desde a entrada até lá abaixo, e o que nos últimos anos tem sido, naquele estacionamento, tarefa relativamente simples e veloz torna-se um desafio que ameaça não entrarmos a tempo do nosso próprio turno, os camaradas da organização regional procuram saber de nós, a entrar, dizemos, está efectivamente muita gente na Festa, confirmam-nos. Boa Festa, camarada, recebem-nos nos pórticos de entrada e estamos, por fim, na terra dos sonhos, na terra libertada.
Distribuímos os primeiros acenos e cumprimentos às caras conhecidas, ligeiros e não nos demoramos muito, há que chegar à garrafeira onde nos esperam, fazemos um ligeiro desvio pela zona internacional, e beber um pouco do internacionalismo proletário, e estão ali, com uma resistência tão bela quanto a alegria imensa que espelham os seus rostos, os povos amigos de Angola e de Cuba, da Venezuela e de Itália, da Guiné e de Cabo Verde, do Chile e do Chipre, do Vietname e da Palestina, e tantos, tantos outros, que nos trazem notícias das lutas dos seus países, viva a paz e a amizade entre os povos do mundo, é proclamação unitária. A música, os risos e as conversas preenchem os ares, os aromas aguçam os apetites e os copos aos altos prometem a chegada, tarde ou cedo, de um mundo novo. Alimentamos o espírito de abraços fraternos, como estás, camarada, sorrisos e risos, chistes e mais abraços, ao trabalho, mais militância numa Festa levantada pelas mãos dos seus construtores, empenhados na edificação de um ideal, muito maior do que ali fisicamente se pôs ao alto, um cigarro de Cuba, oferecem-nos, não, dois, olha que são fortes, as conversas desdobram-se entre um lado e o outro do balcão, quem conhece o Partido e as suas gentes não se pasma com a igualdade imposta entre uns e outros, muitos de fora, vindos pela primeira vez, a quem brilham os olhos de pura emoção gritam loas à Festa de todos e para todos, sois património cultural da Festa do Avante, com a vossa simpatia, exageram, ainda não sabem que o mundo todo em todos os seus recantos pode ser assim mesmo, é por isso que lutamos. Mais camaradas aproximam-se, uns pelos vinhos, outros pelos abraços e outros pelas conversas, lembranças de Cuba, trazem-nos, devolvemos abraços, de saudade e amizade. Amanhã é Sábado, voltamos ao parque, a volta pelos países amigos deste mundo repete-se antes de abalar, os abraços também, a promessa de um mundo novo é a mais bonita oferta à humanidade que este Partido tem para dar.
O Sol levantou-se, de novo, para todos nós, e estamos a caminho da Atalaia outra vez, acabámos por ficar em casa de um camarada que tinha desenvolvido tarefas na nossa organização há uns anos, como sempre forjou-se no fogo da camaradagem uma amizade de aço. Ficáramos de o levar à Festa, mas umas questões de saúde dificultaram a ida, para o ano não faltarás, ficou resolvido, sintam-se em casa, tomara que casa fosse sempre significado daquele acolhimento, do pão fresco à companhia e cuidado, será um dia, sim, para todos, e também aquela estadia é representação do Partido e das nossas pretensões e lutas. A arduidade de parquear repetiu-se, acho que nunca vi tanta gente na Festa, verdade ou não é difícil de concluir, afinal houve tantas Festas em que não estivemos, mas o arquivo fotográfico de outros tempos é bem capaz de desafiar a veracidade do dito, ainda assim, do que nos estabeleceu a memória recente acreditamos piamente nisso, pudera, perante o ataque desenfreado e a ofensiva, caluniosa e prepotente, ao Partido não é como não pudesse surtir sempre algum tipo de efeito, porém cá estamos, como sempre e, depois, de mostrar que a organização colectiva, cuidada e consciente, podia superar o perigo da enfermidade e fazer seguir a vida, e que a paz era questão fundamental e de que intransigentemente não abdicaríamos de defender e promover. As avenidas da Festa pulsam de vida e ânimo, um reforço na dose de abraçamentos, que bom conhecer-te ao vivo e a cores, camaradas e amigos de outras vidas virtuais, que obra de Marx, Lenine e outros sagrados seres ajudam a forjar a benquerença de igual forma. Uma, duas e três cervejas, erguidas entre brindes e juras de luta eternas e encontros para lá das orlas daquela terra livre, uma queijada e uma dose de choco, uma taça de vinho, e mais e mais encontros, um ano de luta e ali confluímos para retemperar as forças que desbotoam, por vezes, de tanto enfrentar as desigualdades do mundo, outro turno e hora de ponta, acalmam-se os génios aguçados pela espera, os abraços que se seguem a uma piada têm o condão de desarmar o mais impaciente dos amigos que ali vão, levas a rolha, mas não é para atirar ao Sérgio Godinho só porque votou Bloco uma vez, determinamos a troçar, riem-se, e reparamos que muitos mil não são camaradas, talvez pelo antes dito sobre ataques, já estávamos habituados a uma outra proporção, mas aí está o nosso povo, comunista ou não, a dar dimensão maior à Festa, não somos do Partido, dizem entredentes e sorrindo um grupo de rapazes bem-postos e de boa figura, reparámos, brincámos, embora não fosse verdade, não me digas que parece que votamos noutros, contestam a audácia, talvez sejam democratas-cristãos, ou pior, indignam-se de forma saudável e diz um, votei CDU nas últimas, afinal somos de Évora e o João é de lá, por alguma razão, talvez por serem quatro, lembrei-me da Festa, a da pandemia, passe-se a impiedosa catalogação, que fui com quatro amigos, sendo eu o único militante, regressámos ao norte três camaradas, o outro, que muito gostou atente-se, pelo menos aprendeu que é a Carvalhesa que toca a amiúde, e não a marselhesa, olha que essa é o hino francês, nem a, calabresa, isso é uma massa, o vinho não era mau, enfim, adiante. A paz, o pão, saúde, educação, um concerto, uma Carvalhesa, mais abraços, imagine-se, mais conversas, umas sobre nada e sobre tudo, outras sobre o mundo novo, uma cerveja e iríamos embora, talvez um pouco mais de choco. Ou um ensopado, ou uma sopa da pedra, uma posta, então.
No Domingo, último dia da Festa do Avante!, levávamos já um dia de avanço sobre a vida, que parece ser só dois. E ainda que pareça sobrar Festa à vida falta tanto por ver, tantos por rever, para o ano fazemos menos turnos, mentimos indo por ali abaixo pelas largas avenidas, nunca se evita olhar a rubra bandeira lá no alto, guardando tudo e a todos, abençoando-nos e dividindo a igualdade por partes iguais, talvez dê para espreitar um livro ou um vinil, uma sandes de leitão e uma cerveja a meio caminho, há ali um debate e acolá outro, as crianças espraiam-se e brincam no seu espaço, umas, mesmo antes, iam a banhos, improvisando piscinas nas fontes e taças do recinto, camaradas e amigos saem das exposições, dos torneios desportivos e do xadrez, outros de concertos, uma procissão ameaça formar-se, é que o comício é dali a pouco e a juventude, a chama mais viva da revolução, desfila já pelas ruas, gritos de ordem e bandeiras ao alto, o mundo é nosso para o transformar, gastam-se os braços envolvendo-se em mais abraços, e vamos subindo outra vez, repetem-se encontros e encontram-se camaradas e amigos que ainda não os havíamos visto, tanto por ver e tantos por ver, houvesse três vezes mais Festa do dizem haver de vida e ainda assim não seria suficiente. Onde estás, o comício está prestes a começar, junto a uma bandeira vermelha, brinca-se primeiro, depois ergue-se o punho a cada palavra justa que jorra das vozes emanadas do Palco 25 de Abril, e juntamos brados e clamores, um coro livre, digno e revolucionário, exige-se paz e pão, evoca-se o cinquentenário da revolução e promete-se luta e combate, sabemos que do céu só a chuva cai, haveremos de lá ir por obra nossa e venha juntar-se quem vier por bem, venha juntar-se quem cerra os dentes de raiva perante toda e qualquer injustiça, pouco depois haverá de se cantar o Avante Camarada e dançar a Carvalhesa mais bonita, é certo que a seguir teremos força para tudo.
Rumamos aos últimos dos abraços, às últimas despedidas e ao último brinde, chegam notícias que para lá da terra da liberdade notícia não se faz sobre o maior e mais importante evento político-cultural do país, envolve-se de ódio o pouco comentário à Festa do Avante!, materializando um desdém do grande capital ao povo e à classe trabalhadora, temem o medo do tremor provocado pela vanguarda da organização dos trabalhadores, o Futuro é nosso e tem Partido. E a cada edição desta, nossa, Festa, numa prova de vida e de força, constrói-se uma certeza: o Partido não morrerá nunca!, até amanhã (para o ano), camaradas, dizemos, sabendo que há já encontro marcado, pausado por mais um ano de luta pelas causas justas e invencíveis, com a promessa que havemos de ser mais, eu bem sei.
Vamos só passar pelo artesanato antes de sair, não houve o tempo que bastasse antes.
Foi bonita a Festa, pá!
“A Festa do Avante! é o espaço com maior índice de fraternidade por metro quadrado existente em Portugal!”
José Casanova
12 Setembro, 2024 às
Somos e seremos sempre livres viva o PCP parabéns a todos