Palpitam as veias abertas do nosso planeta. Enquanto a tirania se lança sobre todos, cada povo levanta a sua barricada. Já não vivemos os tempos em que se proclamava o fim da história. Na antiga capital de Castela, a população do bairro Gamonal subleva-se contra a construção de um dispendioso boulevard. Ardem contentores do lixo e as ruas estão bloqueadas com destroços. Sob ordens da autarquia, a polícia avança sobre quem protesta. Repetem-se as imagens em Hamburgo. Incontroláveis, milhares de jovens resistem, dia após dia, à repressão. Tudo começou com o despejo de um centro social. O governo alemão decretou o estado de emergência para poder reprimir indiscriminadamente. Há 91 anos, foi ali que a população se levantou em armas e tomou o poder durante três dias sob orientação dos comunistas. No País Basco, mais de 130 mil pessoas invadiram as ruas de Bilbau para responder com amor aos seus heróis que apodrecem nas prisões espanholas e francesas.
Também os colombianos se revoltam em Bogotá. A procuradoria destituiu o ex-guerrilheiro que dirige a autarquia da capital por ter reestruturado a forma como se recolhia o lixo. Um golpe de Estado que só seria possível numa novela de García Márquez. À frente da varanda da presidência e perante milhares de pessoas, Gustavo Petro já anunciou que vai resistir à decisão e pede uma muralha popular contra o fascismo. Ao mesmo tempo, a América Latina exige a libertação de Francisco Toloza, dirigente da esquerda colombiana sequestrado pelo Estado. Mais a norte, no México, os corredores do poder remoem-se em preocupações. Centenas de mexicanos organizam-se com as suas próprias armas para fazer frente ao narcotráfico e à máfia. São os próprios que defendem as suas cidades num ambiente de terror em que a própria polícia está comprada pelos traficantes. E bem no coração de Paris, ao mesmo tempo que em Istambul, é o grito indignado do povo curdo que não deixa cair no esquecimento o triplo homicídio de militantes da guerrilha independentista PKK. Há um ano, Fidan, Sakine e Leyla foram assassinadas na capital francesa e todavia não há respostas por parte do Estado francês. O que também pouco muda é o silêncio sobre a luta do povo sarauí que completa mais de 40 anos pela libertação nacional e social. E percorrendo cada estrada, cada caminho de terra batida, havíamos de tropeçar com a resistência de povos que fazem peito ao capitalismo. Só passaram catorze dias sobre 2014 e já não há dúvidas de que ficará para a história como mais um ano marcado pela luta.