Na ressaca da tempestade

Nacional

Na ressaca da tempestade à qual os homens sentiram a necessidade – uma vez mais – de dar nome (“Hércules”) surgem amiúde as habituais reacções dos irresponsáveis políticos que nada de sério têm feito ao longo dos anos para minorar os estragos e o impacto deste tipo de fenómenos naturais na nossa costa. O discurso cairá em saco roto, certamente. Lembram-se de reacções do género após a calamidade – em vários sentidos – dos incêndios do verão passado?

O governo já veio prometer a concretização de “obras de defesa da costa previstas desde 2000“, já lá vão 14 anos. E apesar do actual ministro referir que “ninguém lança obra porque no fim-de-semana aconteceu uma intempérie” a verdade é precisamente a contrária ao que refere. E é-o de duas formas: 1) as obras não foram “lançadas” mas apenas e tão só anunciadas precisamente devido a “uma intempérie”; 2) veremos se chegarão a concretizar-se no prazo e na dimensão necessária.

De resto os estragos verificados foram causadas não apenas pela fúria do mar. Não existissem moradias em cima de praias, campos de golfe metidos em falésias, apoios de praia encaixados nos areais e estruturas para todos os gostos construídas onde nunca deveriam ter sido sequer planeadas e não estaríamos a lamentar tantos estragos, prejuízos e efeitos na vida das populações.

O mar só é “desígnio nacional” nos discursos redondos do Presidente da República. De resto o processo em curso em Viana do Castelo deita por terra o esforço retórico do homem que liderou os governos que mais contribuíram para a destruição da frota pesqueira, que mais afastaram Portugal do mar verdadeiro, com ou sem Expo98, um evento de promoção de uma outra ideia de mar, longe daquele de que Portugal precisa como de pão para a boca.