“O seu filho vai ser um monstro!”

Nacional

“O seu filho vai ser um monstro!” Era este mesmo o título de um artigo que uma senhora lia hoje no 759 da Carris. O texto estava estampado numa revista religiosa. Infelizmente, e para desancar na religião ou igreja certa, não consegui perceber quem publicava aquele belo pedaço de trampa. É suposto que estas revistas sirvam para espalhar uma determinada fé, e eu pergunto-me quem se deixa convencer por uma religião ou igreja que afirma categoricamente que o descendente de quem lê vai virar-se para o Mal e de forma grotesca. Pois, infelizmente mais gente do que se possa pensar.

E que tempos maravilhosos se vivem para que a aceitação do culto ou das divindades floresça. A senhora tem um filho desempregado? Reze, reze muito que ele arranja emprego, mas não se esqueça do dízimo! O senhor está doente e não tem dinheiro para se tratar? O dízimo, passa-lhe logo! Sabia que o seu filho vai ser um monstro? Pois é, para ele ser um anjinho papudo é só rezar, e pagar o dízimo, claro…

Sou convictamente ateu. Os meus pais também, os meus avós nem por isso. Vão à missa, agora menos, mas não são propriamente fanáticos, longe disso, e nunca me senti coagido por nenhum deles a acreditar nas suas crenças. Diria que vivem a sua religiosidade de forma tranquila, com dúvidas e certezas, como qualquer bom cristão. É provavelmente este exemplo de 30 anos que me faz arrepiar a cada pessoa que não percebe os que não acreditam em nada ou acreditam noutras coisas, a cada religião ou culto criados para simplesmente extorquirem dinheiro aos humanos mais frágeis que se cruzam no caminho, e principalmente arrepio-me sempre que vejo uma religião florescer através da imposição do medo.

Para ter medo já basta o que basta. As religiões deviam servir, sempre, para aliviar sofrimentos e dores, para demonstrar que através da consciência dos actos se pode evoluir enquanto ser humano, deviam servir, sempre, para espalhar a solidariedade entre iguais. Para isto e para que cada um possa viver a sua fé da forma mais verdadeira possível.

Continuo a acreditar que as religiões, por culpa das suas instituições, são o principal entrave ao desenvolvimento do ser humano e, como consequência, à prosperidade e pacificação do planeta Terra. É por isso que desenvolvi uma enorme falta de respeito pelas instituições religiosas e uma gigantesca admiração por quem crê e professa a sua fé de forma equilibrada, compreensiva e tolerante. E conheço vários exemplos que o demonstram e que me demonstram que muitas pessoas sabem trazer para a luta quotidiano pela dignidade humana os seus valores religiosos e aplicá-los da melhor forma.

Uma coisa é certa, os filhos da pessoa que escreveu o artigo e as pessoas que o publicaram na revista têm grandes probabilidades de se tornarem verdadeiros monstros. Esses filhos necessitarão de uma força individual enorme para fugirem ao pântano de estupidez e manipulação que os seus pais criaram e onde vivem.

P.S. – durante os 20 minutos do trajecto no 759, havia duas criaturas que espalhavam outra religião: falar aos berros ao telemóvel dentro de um transporte público. A sério, eu não quero mesmo saber o que aconteceu aos vossos amigos na passagem de ano, nem que tristes acontecimentos vos fizeram deixar de falar com outros… Um país europeu, julgo que nórdico, criou uma lei que proíbe que as pessoas falem ao telemóvel nos transportes públicos, alguém me escuta?

Autor Convidado *
André Albuquerque