Nem uma União Europeia para os fascistas.

Nacional

Na iniciativa de convívio com apoiantes da Coligação Democrática Unitária (CDU) realizada segunda-feira, dia 15 no Centro de Trabalho Vitória e que contou com largas dezenas de participantes, João Ferreira, primeiro candidato das listas para o Parlamento Europeu, dirigiu-se aos amigos presentes com um agradecimento, mas também com justas considerações sobre o papel dos comunistas e aliados no contexto actual.

Aliás, o candidato não se limitou a fazer um discurso de mobilização, mas também um discurso de alerta e de luta. A consideração fundamental do camarada assentou na valorização da política alternativa proposta pelo PCP e pela CDU mas avançou para uma questão ideológica sobre o fundo político da actual situação política.

“O PCP nunca embarcou na falsa dicotomia entre nacionalismos ou União Europeia”, para citar livremente. É evidente que aprofundou um pouco e a questão merece ainda mais aprofundamento. Porque o momento político, como aliás sempre se pode dizer, é decisivo. É decisivo para Portugal e para todos os povos que trabalham na Europa, é decisivo para a superação dos movimentos proto-fascistas e abertamente fascistas e é decisivo para a clarificação do campo estratégico em que nos movemos.

A propaganda da União Europeia, de integracionismo, centralização e federalismo, é a propagando dos grandes grupos económicos que falam pela voz dos governos dos estados-membros, dos comissários e da vasta maioria dos deputados ao parlamento europeu.

Neste momento, ganham particular dimensão teses que vêm sendo construídas há muito e que estão intimamente ligadas à natureza e objectivos do grande capital europeu e transnacional.

i. A falsa dicotomia entre União Europeia e nacionalismo e extrema-direita,

ii. A banalização e promoção dos movimentos fascistas históricos e o revisionismo histórico,

iii. A promoção do fascismo como elemento de modernidade,

iv. A preocupação em criar o recipiente popular reaccionário para o apoio à ascenção de forças fascistas,

v. O ataque sem limites às forças progressistas.

Para facilitar, separemos os pontos, apesar da sua interligação evidente.

i. A falsa dicotomia entre União Europeia e o nacionalismo de extrema-direita:

No contexto de aprofundamento da integração federalista e capitalista da União Europeia, o surgimento e agravamento de tensões entre as classes é inevitável. A divisão internacional do trabalho e o patamar diverso de graus de desenvolvimento económico entre os estados acrescenta à crescente tensão entre interesses classistas, a concorrência e disputa inter-capitalista. A integração gera inevitavelmente situações de domínio e submissão, partindo de um ponto desigual. As próprias regras de funcionamento da UE assentam numa arquitectura de domínio económico, financeiro, político e cultural. A soberania dos Estados foi paulatinamente aspirada para cúpulas à escala da UE, no sentido da satisfação dos objectivos das grandes potências. Sempre que as grandes potências, ao serviço das grandes transnacionais, entendem ser útil expropriar um estado da sua capacidade de decisão, captam mais um poder para as instâncias supranacionais. Essa perda de soberania galopante acompanha um sentimento de descontentamento com os resultados desta política. É a própria União Europeia que finge ter no nacionalismo de extrema-direita o seu inimigo. Ao mesmo tempo, é a UE que lhe pavimenta o caminho e que o promove como suposta alternativa. A aposta por todo o espaço europeu em forças proto-fascistas ou abertamente fascistas é uma opção dos grandes grupos económicos e visa assegurar que o descontentamento com os resultados da UE não se organiza em torno de objectivos revolucionários, mas sim conservadores, ou seja, o grande capital garante com o culto do fascismo, que uma franja descontente da população apoia uma segunda via do próprio capital. Por detrás dos nacionalismos exacerbados da extrema-direita estão os mais obscuros e poderosos interesses, exactamente os mesmos que estão por detrás da UE.

Acaso se poderá dizer que não são os grupos económicos que fomentam e estimulam o sugimento dos grupos neo-fascistas. A realidade desmente essa ideia. Vejamos como a comunicação social introduz esse assunto no dia-a-dia, como jornais inteiros funcionam como porta-vozes dessas forças, como se promovem figuras antes irrelevantes nas políticas nacionais a salvadores e como se branqueiam histórias e vidas de criminosos para se travestirem de políticos.

Acaso se poderá dizer que também não é a UE que promove o caldo de cultura reacionária. Mas a realidade desmente essa tese: a constante propaganda anti-comunista; o apoio ao revisionismo histórico por parte da UE; a ameaça russa; a constante espoliação de povos inteiros das suas riquezas e da sua soberania económica, política, produtiva; a imposição de normas desajustadas das realidades de cada povo; a concentração da propriedade produtiva, do solo, da água e outros recursos naturais; a salvação dos grandes bancos da União Europeia; a concentração de recursos nas grandes potências da UE; o desrespeito constante pelas opções de cada povo; a imposição de regras orçamentais que visam a privatização de serviços e a destruição do papel dos estados; a participação na guerra e na agressão imperialistas e a consequente hostilização de povos a quem a própria UE destruiu os seus países; são características permanentes da política da União Europeia. Essas características são objectivamente a origem de todos os descontentamentos. O descontentamento que desagua na extrema-direita, afinal de contas, é apenas a resposta que o grande capital prepara para as suas próprias desgraças. Não é um placebo, é uma dose redobrada do veneno.

ii. A banalização e promoção dos movimentos fascistas históricos e o revisionismo histórico

Por toda a comunicação social, nas escolas, nos discurso dos comentadores e “historiadores” do sistema, há uma banalização dos crimes do nazismo e do fascismo. O fascismo é vendido como um antídoto doloroso, mas funcional. A realidade desmente essa tese: a corrupção, a concentração da riqueza, a pobreza extrema, a fome e a guerra vêm de mãos-dadas com a repressão. A repressão e dureza que são vendidas como fontes de disciplina são apenas fontes de novas formas de exploração e de agrilhoamento de todos os que se não contentem com a desigualdade. O revisionismo histórico que exalta o papel das potências capitalistas ocidentais e apaga ou deturpa o contributo decisivo do sistema comunista mundial contra o fascismo e o nazismo, ao mesmo tempo que se aligeiram os crimes dos regimes fascistas europeus visam apenas afastar os povos e os trabalhadores da única alternativa real ao capitalismo sob todas as suas formas: a luta revolucionária pelo socialismo.

iii. A promoção do fascismo como elemento de modernidade

É enternecedor verificar a constante preocupação da comunicação social com a ausência de um movimento fascista em Portugal. Por todos os jornais, rádios e televisões, se verificam constantes apelos ao surgimento destas forças. Não apenas pela sua promoção, pela projecção de figuras oportunistas e demagógicas, pela sagração de novas vedetas com mais tempo de antena do que as forças políticas que realmente se posicionam no tabuleiro nacional, mas também pela consolidação da ideia de que o fascismo é moderno e de que Portugal está atrasado em relação aos países mais desenvolvidos da União Europeia.

Somos constantemente bombardeados com perguntas do género “porque não existem movimentos de extrema-direita em Portugal?”, como se isso fosse um requisito da actualidade, como se estivéssemos a falhar em alguma coisa. A comunicação social, detida pelos grupos económicos que dominam o país nas mais diversas esferas, faz tudo o que pode para criar novos focos de atenção, para criar literalmente movimentos que não têm expressão material.

iv. A preocupação em criar o recipiente popular reaccionário para o apoio à ascenção de forças fascistas

A comunicação social, acompanhando a degradação do nível de vida das populações e dos trabalhadores, concentra-se na divulgação do crime, deturpa a realidade no sentido de criar a sensação de corrupção estrutural no frágil sistema democrático e nos partidos por igual, hostiliza minorias, exalta a repressão, e dá espaço a um vasto conjunto de intelectuais de sarjeta a quem nenhum outro valor se reconhece a não ser o serviço que prestam à ideologia dominante e o ataque mentiroso ao socialismo e aos portadores do seu projecto.

A existência de canais de televisão e jornais integralmente dedicados à divulgação da pequena criminalidade é um elemento que denuncia bem os seus objectivos. Além de ser óptima fonte de receitas, o medo e a sensação de insegurança são óptimos combustíveis para o ódio fascista. A ameaça, real ou não, à segurança das populações é o primeiro passo para a justificação da repressão.

A promoção de simpatia por líderes como Trump e Bolsonaro e o ataque cerrado a todos os líderes que não se lhes ajoelham são mais um instrumento da comunicação social na luta pelo domínio ideológico.

Depois de várias tentativas falhadas para a criação de um movimento de extrema-direita em Portugal, mas sempre apoiadas pela comunicação social, a táctica altera-se para adoptar o modelo norte-americano e brasileiro: é preciso antes alterar a infra-estrutura para acomodar a super-estrutura. Isso significa que o grande capital decide apostar antes na criação de um desejo popular, de um certo acolhimento e simpatia por ideias reaccionárias, anti-comunistas, racista e xenófobo, idealista e individualista, capaz de ser captado por uma força ainda por criar. Perceberam que antes de nos apresentar a falsa solução, têm de falsificar o problema.

v. O ataque sem limites às forças progressistas

Quarenta e cinco anos de distância permitem a consolidação de mentiras sobre o 25 de Abril, tal como 102 anos de distância permitem consolidar mentiras sobre a grande revolução socialista e 30 anos permitem apagar muito da história da derrota da experiência socialista de leste. À medida que nos afastamos temporalmente de uma realidade, o branqueamento histórico torna-se mais eficaz.

Aproveitando essa distância e o domínio hegemónico da cultura, educação, economia e religião, o grande capital vira todas as suas armas contra o movimento operário, contra os sindicatos e partidos de classe. Onde os pôde destruir ou desfigurar por dentro, não hesitou.

Em Portugal, desde o início dos anos 40 que o PCP ganhou características que dificultaram essa tarefa aos seus inimigos. Características que mantém e que permitem aos comunistas portugueses seguir o caminho da luta e aos trabalhadores portugueses ter um partido de classe, uma vanguarda organizada sem outro objectivo senão o de os defender, mobilizar para essa defesa e de com eles construir uma democracia real, capaz de retirar a decisão das mãos dos administradores e capatazes do capitalismo europeu e de a devolver ao espaço em que trabalhamos: Portugal. O tal “soberanismo” de que acusam o PCP não é mais do que democracia: não pode haver democracia se não for o povo português a decidir.

A deturpação e a mentira, a par de um estratégico silenciamento, são armas dos monopólios e grandes grupos económicos contra o PCP. O ódio desses grupos contra o PCP perpassa para a esmagadora maioria de colunistas e comentadores e até para muitos jornalistas. Fragilizar a força que pode colocar em causa os objectivos dos grupos económicos é um passo fundamental para o sucesso da sua ambição de agravamento da exploração. Mas é muito mais do que isso: a debilitação ou o aumento da hostilidade anti-comunista são também o estrume para as ervas daninhas fascistas.

Temos esta cassete, não por sermos obcecados com ela, não por não sermos capazes de dizer outras coisas, mas porque a realidade é tremendamente brutal: só a luta é o caminho. Teses e debates e diversões e dúvidas existenciais pululam os esquerdismos como se buscassem uma pedra filosofal contra o avanço do fascismo. Pois não há. Mas há sangue e músculos, há homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, que unidos pela superação do capitalismo e pelo aprofundamento revolucionário da democracia, foram, são e serão, a única frente que conta contra o fascismo.

4 Comments

  • Jose

    15 Abril, 2019 às

    « Mas há sangue e músculos,… são e serão, a única frente que conta contra o fascismo. »

    Usar a inteligência está fora de questão!

    • Nunes

      16 Abril, 2019 às

      Bolas, Jose. Cheiras outra vez a diarreia. Chama a mamã para te lavar a cabeça.

    • Jose

      16 Abril, 2019 às

      Extrair odores a partir da leitura é sintoma de perturbação grave.
      Há-os internados por menos, Nunes.

    • Nunes

      17 Abril, 2019 às

      Vai-te embora, fascista. Cheiras a latrina.

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