PKK

Internacional

No primeiro Congresso da JCP em que estive presente, realizado em Almada em 1999, tive a oportunidade de conhecer uma jovem militante do PKK – o Partido dos Trabalhadores do Curdistão – que se bem me lembro vivia naquele tempo fora do território curdo ocupado pela Turquia. Durante um final de tarde passado na Concelhia de Almada do PCP, falei com a camarada curda sobre o PKK, Abdullah Öcalan e a guerra contra o exército turco. Ela ofereceu-me um “pin” com a fotografia de uma jovem guerrilheira célebre entre os militantes do PKK (creio que ainda o tenho), e eu ofereci-lhe a minha lealdade à causa curda, que desde então vim acompanhando com a atenção que me é possível.

Öcalan seria preso nesse mesmo ano e a causa curda, a luta dos curdos pela autodeterminação que lhes foi sempre negada pelas potências globais e regionais, continuou. A União Europeia declarou o PKK organização terrorista e os EUA consideraram o Partido curdo a “mais mortífera organização terrorista na Europa”. Mas a vida dá muitas voltas…

Os curdos não são um povo com o qual se crie instantânea empatia: têm terra mas falta-lhes país reconhecido, um lugar para viver em paz; falam uma língua estranha e têm uma morfologia que em quase tudo se afasta do padrão ocidental de beleza e elegância; são combatidos por quatro o cinco estados e desde há muito reprimido no que à sua língua e cultura dizem respeito. No seio dos curdos são particularmente odiados pelo “ocidente” aqueles que nunca baixaram os braços: os militantes comunistas do PKK.

Acontece porém que o súbito pânico “ocidental” face perigo que constitui o “ISIS” e as suas várias extensões regionais obrigaram aqueles que nunca perderam uma oportunidade para atacar o PKK a reconhecer os curdos do norte do Iraque como uma das últimas forças de resistência capazes de cortar o passo ao chamado “Estado Islâmico”. Os inimigos de ontem passaram a “aliados” num presente profundamente marcado pelas operações de “falsa bandeira”, a nebulosidade de intenções e as contradições em movimento.

Os curdos combatem o ISIS no Iraque da mesma forma que o haviam feito (e creio que ainda fazem) na Síria. O esforço curdo tem duas dimensões fundamentais: a protecção das minorias iraquianas contra a violência jihadista e a afirmação das profundas aspirações curdas a uma auto-determinação que a lei internacional prevê, mas que é reconhecida com hipócrita parcimónia. O PKK não acalentará falsas esperanças relativamente ao “apoio” circunstancial da administração Obama. Sobretudo porque o seu inimigo n.º1 – o nacionalismo turco – é uma das pedras fundamentais da capacidade política e militar da NATO numa das regiões mais delicadas no planeta. A sua luta é feita de convicções, coisa estranha aos “superiores interesses estratégicos” daqueles que ainda ontem camuflavam o ISIS e a frente Al-Nusra sob a falsa designação de “Exército Livre da Síria”.

Tenho-me lembrado da camarada curda que conheci em Almada, naquele ano de 1999. Foi através do seu testemunho que fiquei a conhecer o PKK e a sua luta nas montanhas. Espero que goze de boa saúde e que se mantenha firme, como a conheci num final de tarde, no lado certo do Tejo.