O dedo com que Ribeiro e Castro aponta, é o mesmo dedo que lhe fura a vista

Nacional

José Ribeiro e Castro, deputado do CDS-PP, antigo Presidente do mesmo partido, um puritano da linguagem e um homem que sabe o que quer para o seu país: contenção verbal. O PCP apresentou um projecto de lei onde pede que se reponham os “feriados roubados”. O governo, e os partidos do mesmo já se mostraram desagradados com esta expressão, e o pobre Ribeiro e Castro está escandalizado e diz que assim não pode votar a favor, mas talvez se abstenha…



Sua Excelência, o Senhor Deputado do Centro Democrático Social – Partido Popular, Doutor José Ribeiro e Castro – com todos os éfes e érres para que o homem não se choque com a minha linguagem -, tem todo o direito de se indignar com tudo o que lhe estiver mais à mão, mas não devia introduzir a foice em seara alheia porque a foice é uma alfaia agrícola que tanto vai, como volta. Digamos que para se ser publicamente puritano em relação a alguma coisa, é preciso termos a certeza que não há pedras no próprio sapato. O que terá Ribeiro e Castro a dizer da linguagem que o próprio usou enquanto Presidente da Comissão de Educação, na Assembleia da República? Esta linguagem já é aceitável? Talvez, se o senhor estivesse ali como comentador político – ou até relatador, que mais parece um jogo da bola.

Ribeiro e Castro acrescenta que também não pode votar a favor porque o PCP “vive no mundo da fantasia”, já que quer que o feriado da terça-feira de Carnaval passe a ser obrigatório. Aqui o deputado tem desculpa, realmente não é apanágio do CDS-PP fazer trabalho local, contactar com trabalhadores e com as populações, perceber quais os problemas reais das pessoas, essas coisas chatas que o PCP tem a mania de fazer. Ora como Ribeiro e Castro não trata de fazer esse trabalho, por certo que não sabe que em 2013 e em 2012, várias câmaras municipais do norte ao sul do país, passando pelas ilhas, decretaram tolerância de ponto para o seu concelho na dita terça-feira de Carnaval, ou seja, o governo central mandou a malta trabalhar, mas os executivos camarários, de várias cores partidárias, mandaram o governo bugiar.

Esta prática já não é nova, e já vários governos levaram com este manguito regional em diferentes décadas da nossa democracia. Já é uma tradição, e uma daquelas que vale a pena manter e, como defende o PCP, reconhecer legalmente, pois a prática já há muito a institucionalizou.

É Carnaval, ninguém leva a mal, principalmente muita economia municipal, que tem na terça-feira de Carnaval um dia fundamental. Rima e é verdade, tal como é verdade que os feriados foram mesmo roubados.

* Autor Convidado
André Albuquerque