A situação no sudeste da Ucrânia parece deteriorar-se de forma dramática a cada hora que passa. Os acordos de Genebra são letra morta e tudo no terreno contraria a necessária pacificação da situação. Os Estados Unidos continuam a deitar acendalhas para a imensa fogueira que ajudaram a criar e as operações militares promovidas pela Junta de Kiev na zona da bacia de Donets podem bem ser o início de um conflito de escala e consequências imprevisíveis com culpado mediaticamente definido à partida: a Federação Russa.
Entretanto a imprensa nacional não se cansa de tomar partido, o que aliás caracterizou a sua cobertura da situação na Ucrânia desde a primeira hora. E se a caracterização da Junta de Kiev como “pró-Europeus” caiu à medida que a sua ligação directa ao nazi-fascismo se foi tornando cada vez mais clara, a utilização até à exaustão da expressão “pró-russos” e “separatistas” para caracterizar as populações insurrectas do sudeste ucraniano não lhes causa qualquer problemas de consciência ética e profissional.
A iniciativa militar na Ucrânia está nas mãos de uma Junta liderada por gente louca e sem noção alguma daquilo em que se está a meter, um “governo” que não foi eleito por ninguém e cuja legitimidade não merece curiosamente qualquer reparo por parte das mesmíssimas “democracias ocidentais” que não hesitam em colocar em causa processos eleitorais absolutamente claros e internacionalmente validados, sempre que os resultados são do seu desagrado.
Na zona do “Donbass” as operações militares das tropas comandadas pela Junta de Kiev, apoiadas por militantes paramilitares de extrema-direita, têm como alvo as populações de origem russa, vários milhões de cidadãos ucranianos que se expressam em russo, e que têm com a Rússia uma relação que cartão de identificação ou fronteira alguma pode cortar.
Aviões e helicópteros, blindados e tropas de elite encontram-se pela frente populações desarmadas mas intransigentes na defesa da sua terra, da sua língua e da sua cultura. Antifascistas que viveram o terror da ocupação nazi e que lutaram contra ela. Não admira pois que a fita com que homens e mulheres, jovens e menos jovens, adornam os seus casacos, ou colocam nos pulsos, seja a mesma que as autoridades soviéticas utilizaram nas condecorações dos heróis da Grande Guerra Pátria de 1941-1945. Há esforços, sacrifícios colectivos, que não se apagam facilmente da memória dos povos.
Não é tarde para lutar pela Paz no Donbass. Mas a paz não é um valor supremo quando se paga com a opressão e o terror que a Junta de Kiev já impôs a uma parte significativa do território ucraniano. A paz podre não é Paz alguma. O povo da Ucrânia aprendeu-o da forma mais terrível naqueles anos de ocupação de 1941-1944.