O Estado-Galamba e a “pessoa de bem”

Nacional

João Galamba tem razão: o Estado é uma pessoa de bem, a questão é que depende para quem. Se a matéria em apreço for o bónus de três milhões de euros prometido à gestora da TAP como recompensa pela privatização, então sim: o Estado honra a palavra dada. Mas se estivermos a falar dos 130 trabalhadores que asseguram o serviço de bar e refeições nos comboios da CP, então esse mesmo Estado “pessoa de bem” já não garante nada. Nem o emprego, nem o serviço público, nem sequer o salário de Janeiro, que continua por pagar.

Falamos dos trabalhadores da Apeadeiro 2020, a empresa a quem o Estado concessionou os serviços de restauração dos comboios de longo curso, gabando-se então de ter poupado 300 mil euros. Dois anos volvidos e lavadas as mãos de Pilatos, estão à vista os resultados do negócio: o serviço piorou; os salários cada vez mais miseráveis são; a empresa tem as contas congeladas por causa das dívidas do patrão e os salários em atraso tornaram-se regra. Aos 130 trabalhadores cuja média salarial ronda os 760 euros brutos, a “pessoa de bem” mostra uma outra face. Se já é difícil sobreviver com um salário 760 euros brutos, imagine-se como sobrevivem estes trabalhadores desde dia 31 de Janeiro, sem qualquer remuneração.

É que este Estado português é tão “pessoa de bem” como o Dr. Jeckyl, o médico que, no livro de Stevenson, inventara uma poção que lhe permitia desprender-se desse seu lado bom conforme as circunstâncias. O Estado, tal como o Dr. Jeckyl e o Dr. Galamba, é uma “pessoa de bem” na hora de salvar a banca privada com 20 mil milhões, de proteger os lucros das concessionárias das auto-estradas com 140 milhões, de ajudar os donos da EDP, da Endesa, da Iberdrola e da Galp com 3 mil milhões ou de premiar Christine Ourmières-Widener por já ter despedido 2400 trabalhadores.

Não sabemos se, diante do espelho, João Galamba vê algo tão diferente dessa “pessoa de bem” quanto Dorian Gray fitando o próprio retrato, mas basta desviar o discurso e a mirada de Christine Ourmières-Widener, para logo, no lugar do Estado “pessoa de bem”, ressurgir o Estado-Galamba, que concessiona um serviço público a privados para depois assistir impávido à degradação do serviço e à ruína dos trabalhadores que abandonou; o Sr. Hyde, que não tem palavra a pronunciar sobre o desespero de 130 trabalhadores, obrigados a trabalhar sem remuneração, convidados pelo patrão a esperar pacientemente pelo futuro, no apeadeiro 2020.

À espera do futuro no apeadeiro 2020

Há 130 famílias, incluindo casais de trabalhadores da Apeadeiro 2020, que ainda não receberam o salário de Janeiro. São famílias de trabalhadores que, como mais de metade dos portugueses, ganham menos de 1000 euros brutos por mês. São famílias que antes não sabiam como se podia chegar ao fim do mês e agora já não chegam mesmo. São famílias que se arriscam a perder a casa (o Estado-Galamba não tolera atrasos na renda ou na prestação) por culpa das dívidas de um patrão a quem o Estado confiou o serviço público.

130 famílias, em luta pelo que é seu de direito e de todos nós no mais elementar sentido de justiça, precisam que perguntemos à CP, à IP e ao Estado-Galamba quando tencionam agir como “pessoa de bem” relativamente aos trabalhadores da Apeadeiro 2020. Que as redes sociais dos responsáveis políticos se transformem num inferno até estas 130 famílias receberem os salários em atraso e a solução necessária!

https://twitter.com/joaogalamba
https://twitter.com/iestruturas_pt
https://www.facebook.com/infraestruturasdeportugal
https://www.instagram.com/iestruturas_pt