O mundo que mudou Greta

Nacional

Uma nota prévia, para quem consegue ver nas linhas abaixo um ataque à jovem sueca. Há aqui dois pontos: ambos análises minhas sobre o que envolve Thunberg e não sobre Thunberg enquanto jovem com preocupações mais do que justas: Eu não permitiria este tipo de exposição da minha filha, como não permitiria que se transformasse em estrela de reality-show. Este é um dos meus pontos.

O outro tem a ver comigo e só comigo, que estou habituado a ver que o sistema não promove quem o quer derrubar, ou sequer afetar, a menos que seja no sentido de transferir poderes para que tudo fique na mesma. Quanto ao discurso de Thunberg, tem toda a razão na maioria do que diz, tirando, por exemplo, a parte da “infância roubada”. Espero que assim terminem as dúvidas que, por considerar que esta criança está a ser explorada pelo sistema que pretende combater, não significa que ela não tenha razão.

Greta Thunberg tem 16 anos e sofre de Síndrome de Asperger, tendo antecedentes: “Aos 11 anos, desenvolveu um quadro de depressão, parou de falar e até de comer. Em dois meses, perdeu dez quilos. Pouco tempo depois, a jovem foi diagnosticada com transtorno obsessivo-compulsivo e mutismo seletivo (DSM-IV), um transtorno psicológico caracterizado pela recusa em falar em determinadas situações, mas em que a pessoa consegue falar em outras”. Isto, na minha visão leiga, constitui um especial caso de fragilidade. Deixou a escola para se tornar ativista, aos 15 anos. E, a partir daqui, explico por que acho que o que lhe estão a fazer é criminoso. O ambiente e a sua preservação é uma luta que tem mais de invisível do que de visível. Na América Latina e um pouco por todo o mundo há dezenas de ativistas ambientais que todos os anos são assassinados sem que haja o mínimo de simpatia nem dos media nem da ONU (5). Os pais de Thunberg expuseram-na de uma maneira indecente e fizeram-no de forma consciente, como o The Times explica (1), tendo Malena Ernman, mãe de Thunberg, lançado um livro precisamente uma semana depois da “descoberta” da sua filha como ícone. Já o pai, que até então geria a carreira da mãe na área musical, passou a gerir a carreira da filha.

Thunberg foi lançada às feras e tem contra ela lóbis poderosos. Mas não sejamos ingénuos e pensar que não tem outros lóbis poderosos por trás dela. As ligações à agenda de Al Gore e a empresas e magnatas suecos, demonstram que há interesses de ambas as partes (2).


Nada disto retira legitimidade ao que Thunberg pretende defender e que o faz, com certeza, porque acredita na sua causa, e ainda bem. Hoje, não sei se o faz só porque acredita ou se o faz porque é levada isso pelos seus gestores de carreira.


Thunberg afirmou, na AG da ONU, que lhe tinham roubado a infância. Uma jovem sueca de 16 anos. Na mesma ONU que continua a fechar os olhos às atrocidades cometidas pelos seus próprios representantes em teatros de guerra contra crianças, com inúmeras acusações de violações, que perpassam os mandatos de Kofi Anan, Ban Ki Moon e Antonio Guterres, sem que nada seja feito (3).
É difícil medir intensidades de roubos de infância, mas estou em crer que os 218 milhões de crianças, entre os 5 e os 17 anos, que trabalham em minas, na agricultura, em fábricas como as que fornecem a C&A (4), que já transformou a luta pelo clima em moda, como se vê na imagem, terão tido a infância um bocadinho mais roubada.


Temos milhares de cientistas que, todos os dias, nos alertam para o que está a acontecer e avançam com possíveis formas de combatê-lo. E há em relação a estes uma resistência que não existe quando se fala de uma criança, ainda que, como visto acima, ela esteja a ser utilizada de uma forma que, quanto a mim, nenhuma criança devia ser.


Da minha parte, continuo a considerar que podemos todos rasgar as vestes pelo clima. Enquanto não se alterar o modo de produção capitalista, vai ficar tudo na mesma.

(1) https://www.thetimes.co.uk/article/greta-thunberg-and-the-plot-to-forge-a-climate-warrior-9blhz9mjv
(2) https://lifestyle.sapo.pt/vida-e-carreira/ecologia/artigos/a-dupla-face-de-greta-a-menina-que-luta-por-um-mundo-mais-verde?fbclid=IwAR266CUoBZYifa8Kf7JeQrjOaybSK_ffp3njGnEVNgsGaV_-rAyDkmpUZJc
(3) https://www.independent.co.uk/voices/united-nations-soldiers-paedophilia-un-child-rape-ngo-staff-a7648791.html
(4) https://www.dutchnews.nl/news/2012/04/ca_primark_suppliers_use_child/
(5) https://www.theguardian.com/environment/2019/aug/05/environmental-activist-murders-double

19 Comments

  • Nunes

    1 Outubro, 2019 às

    «Sovieticozinho»… o cabrão do José lá teve que dar outra calinada.
    Mas sobre «cúsinhos» ele é bem entendido. Para além de um menino nazi, também é todo virado para a linha de Cláudio Ramos.

    • Jose

      1 Outubro, 2019 às

      GRUNHO!!!!

    • Nunes

      2 Outubro, 2019 às

      Jose, a tua mãe anda a dar panfletos da Iniciativa Liberal, a dizer «autoridade extorsionária». Até quando, José?

  • JE

    28 Setembro, 2019 às

    Independentemente de todas as razões do Ricardo M Santos e da sua acertada denúncia do aproveitamento da jovem Greta, independentemente do sublinhar dos poderosíssimos lobbies que se movimentam em torno desta, chamo a atenção para este texto de João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas:

    "Aprendizes de Lenine

    Aparentemente, anda um espectro de novo a pairar por aí: o do revolucionamento que será necessário no modo de produção para enfrentar a catástrofe ambiental iminente. Um economista convencional um dia definiu-a como a maior falha do mercado da história da humanidade. As soluções económicas convencionais – andar a brincar aos mercados de emissões ou às taxas e taxinhas – ou não funcionam ou estão longe de chegar.

    Neste contexto, a jovem Greta Thumberg fez um discurso pungente na cimeira sobre a acção climática das Nações Unidas. Apreciei particularmente a sua denúncia do dinheiro como um dos obstáculos à tal mudança. Afinal de contas, lembrem-se dos efeitos do nexo-dinheiro, expostos brilhantemente num Manifesto espectral de 1848.

    Num editorial com laivos do habitual anticomunismo primário, talvez com efeitos contrários às intenções do seu autor, Manuel Carvalho até confessava ontem no Público ter levado também “um murro no estômago” de Thumberg. Mas a sua “pose e insolência”, o seu radicalismo, fê-lo lembrar, vejam lá do que esta gente se lembra, um “qualquer aprendiz de Lenine do século passado”. Esta gente anda teme “o radicalismo jacobino”.

    No fim do arrazoado, Carvalho até acaba a reconhecer que sem este radicalismo, ao qual só falta enfatizar mais a classe e menos a geração, “as soluções equilibradas” não serão possíveis. O medo, sempre o medo da revolução, está na base de uma certa política económica. Irá um dia este neoliberal converter-se ao Green New Deal, um plano que nestes tempos sombrios ainda parece uma utopia de um punhado, ainda que crescentemente influente, de democratas socialistas na América?

    Entretanto, aprender com alguns aspectos da vida e obra de Lenine é capaz de não ser mesmo má ideia: organização consequente, análise concreta da situação concreta, avaliação precisa da correlação de forças, valorização da política de classe, identificação dos elos mais fracos da cadeia imperialista, prontidão para aceder ao poder, pugnando por um socialismo que terá de ser igual a sovietes, uma democracia avançada, mais electrificação de todo o país, agora com base em renováveis.

    Ou alguém pensa que será possível enfrentar a catástrofe iminente sem uma valorização do comum, sem muito menos desigualdade, sem formas de planificação exigentes, e que implicam controlo público das redes, da banca, das grandes alavancas de investimento, sem uma certa desglobalização dos circuitos económicos, enfim, sem uma nova política económica?"

    Chamo a atenção para a atenção que João Rodrigues presta à aprendizagem com a vida e a obra de Lenine…

    • Jose

      29 Setembro, 2019 às

      Ai o Estado, desde que não lhe ponham freio, resolve tantas coisas!
      Ai o Lenine, sabia tantas coisa!
      Ai a prontidão para o poder, que emoção!
      E tudo tão reguladinho, tão planeadinho, tão mandadinho, tão soviéticosinho…

    • JE

      30 Setembro, 2019 às

      Pobre jose

      A voz treme-lhe perante os ímpetos que lhe assaltam a garganta. Garganta um pouco fanada, um pouco decrépita, porque isto de andar a gritar em prol dos seus tem os seus custos.

      Mas sejamos objectivos.

      De como um tipo que não percebera nada do que se escrevera (dirá:"Tudo muito confuso") se converte neste coitado com prédicas em quadra livre

      Com os resultados aí em cima expostos.

      Dirá jose:

      "O Estado, desde que não lhe ponham freio, resolve tantas coisas!"

      O freio nos dentes tomado pelo estado fascista a quem jose demonstra aquela admiração de serôdio etc e tal?

      O freio do estado fascista de Barrientos a quem jose aplaude o metralhar de homens, mulheres, grávidas e crianças? O despautério que nem Barrientos nem jose conseguem suportar?

      De como um assumido e convicto salazarista se converte neste protótipo de neoliberal travestido em neoliberal é um mistério

      Ou talvez não

    • JE

      30 Setembro, 2019 às

      Dirá jose:

      "Ai o Lenine, sabia tantas coisa!"

      Pobre jose

      A sua incapacidade ( confessada) de não perceber o que lhe é confuso, associa-se agora este devaneio semi-histérico perante Lenine.

      Mais do que o odiozito de classe para com o dirigente da Revolução que abalou o mundo, o que se torna mais patente é este ridículo assomo de prima dona ressabiada e impotente.

      Só lhe falta o chilique da ordem e os sais para inalar a ver se recupera

      Pobre jose

    • JE

      30 Setembro, 2019 às

      Crise histriónica que se prolonga.

      Dirá jose:

      "Ai a prontidão para o poder, que emoção!"

      Mais uma vez não falta a pontuação requerida para estas cenas melodramáticas de canastrão.

      Pobre jose.

      A emoção é demais. Adivinha-se o abanar dum qualquer leque para ver se areja as ideias, para ver se tudo se torna menos confuso, ou se consegue esquecer o personagem que o põe neste estado de alcoviteiro em transe

    • JE

      30 Setembro, 2019 às

      Ainda dirá jose:

      "E tudo tão reguladinho, tão planeadinho, tão mandadinho, tão soviéticosinho…"

      Povre jose

      Por favor digam lá se aqui, para além do ódio rebarbativo para com Lenine, não pontifica o despeito.

      Se para além do despeito, não emerge a antiquíssima impotência

      Se para além da impotência, não sobra o rancor frustrado

      Se para além do rancor, não se manifesta o medo.

      Medo por se poder "aprender com alguns aspectos da vida e obra de Lenine: organização consequente, análise concreta da situação concreta, avaliação precisa da correlação de forças, valorização da política de classe, identificação dos elos mais fracos da cadeia imperialista, prontidão para aceder ao poder, pugnando por um socialismo que terá de ser igual a sovietes, uma democracia avançada, mais electrificação de todo o país, agora com base em renováveis".

      Ele já percebeu.

      E por isso estas cenas de suspiroso personagem em estado incontrolável

    • Jose

      1 Outubro, 2019 às

      Sempre te esqueças da MENTIRA, a arma poderosa dos treteiros.

    • JE

      2 Outubro, 2019 às

      As cenas de suspiroso personagem em incontido estado, agora transformadas em cenas da vida pessoal de jose

      Uma forma de fuga.

      Com o tique dum tratamento coloquial de quem anda à procura da família

      Mas o que temos nós com isso?

  • catarro

    25 Setembro, 2019 às

    Correndo o risco de uma deliberada e consciente simplificação, sempre digo o seguinte:
    1. O sistema capitalista é o complexo de relações económico-sociais, culturais e políticas, sob cuja égide a humanidade hoje se encontra;
    2. Apesar das nuances que a sua evolução multi-secular lhe tem aportado, tal sistema continua a assentar os seus alicerces mais fundos num conjunto de postulados nucleares, entre os quais o de que a produção e o consumo perpétuos, têm vista não apenas a satisfação das necessidades dos seres humanos, mas sobretudo a multiplicação e reprodução do capital, sob a forma de lucro.
    3. Deste modo, os recursos naturais e a sua gestão e distribuição, encontra,-se antes de tudo ligados à realização de mais-valia e – fundamental – às visões de curto prazo.
    4. Durante anos e anos a fio, ignoraram-se as consequências quer de um crescimento demográfico absolutamente insustentável (afinal é tal crescimento que proporciona consumidores por um lado e exército industrial de reserva por outro), quer da sistemática e desregrada sobre-exploração dos recursos, dirigida sobretudo – segundo aspecto nuclear – à satisfação de um modo de vida dito ocidental, absolutamente insustentável e que beneficia franjas marginais dessa mesma população mundial.
    5. A degradação ambiental é por conseguinte também um sinal visível da barbárie para onde o sistema capitalista mundial hoje empurra a humanidade.
    6. A erradicação do capitalismo por um lado e a sua substituição por um novo modelo de organização política, económica, social e cultural, são por conseguinte as primeiras condições para uma vida dos seres humanos sobre a Terra que seja verdadeiramente digna desse nome.
    7. Esse é o caminho que temos pela frente e não há – acabe-e lá com essa patranha repugnante – qualquer terceira via alternativa.

  • Paulo D.

    25 Setembro, 2019 às

    Talvez se as pessoas se preocupassem mais, a Greta podia se preocupar de menos. Porque no fundo o que a preocupa é a falta de preocupação. Triste, quando é uma criança, a ter de assumir o papel de adulto na sala. Porque não tenho dúvida nenhuma,nem que a sua preocupação, nem que o seu activismo, é genuíno.

  • Jose

    25 Setembro, 2019 às

    Tudo muito confuso. Amanhã vou pensar no caso.
    Boa noite!

    • Nunes

      26 Setembro, 2019 às

      Lá tinhas tu de voltar… estarei à espreita, porco.

  • MÁRIO

    24 Setembro, 2019 às

    Acha credível que se deixe de andar de avião para se fazer viagens de barco com a duração de um mês para o Brasil e 4 dias para chegar a Alemanha de comboio? Acha possível deixar de comer peixe e carne e derivados de animais? acha credível deixar de vestir algodão e lã e passar a vestir o quê nylon?

  • Sandra Neves

    24 Setembro, 2019 às

    Ricardo: não sei que idade tem a sua filha. O meu filho tem catorze anos e também anda incomodadíssimo com este tema. Diz que ninguém está a fazer nada e que vai sobrar para a geração dele e dos seus filhos. É quase o mesmo que dizer que lhe roubaram a infância. Não concordo com a comparação que faz. É claro que, em termos objectivos, a situação das crianças dos países subdesenvolvidos é mais perene porquanto MAIS URGENTE. Maas isso não retira acuidade nem razão à Greta e à sua geração. O problema climático é ainda mais grave que a exploração laboral ou a extrema pobreza infantis porquanto pode implicar a impossibilidade de qualquer vida. No resto, gostei do artigo. Obrigada.

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