O Piro-Esquerdista!

Internacional

De pyrós, grego, que significa fogo. O fogo que conflagra, que arde, que queima e que se vê. E do fogo o calor, o calor vibrante da teoria consumida à letra, de fio a pavio, que apetece – apetece muito – espalhar aos quatro ventos de um feed, copiada, letra por letra, alheia aos tempos, aos modos, aos colectivos e aos espaços. O fogo da urgência que não cessa, de um ego que jamais se contém, de uma vontade férrea de ser farol na escuridão, de ser luz nas trevas, de ser salvatoris mundi! E fazê-lo desabridamente, aos olhos de todos, como projecto de vida, na magnificência de um mural de facebook, o trono dos novos tempos, onde se pavoneia a criatura em plena e definitiva majestas! Ei-lo, esse esquerdista pantocrator! O piro-esquerdista! Ou tão-somente, como lhe chamaria qualquer sábio ainda que iletrado, «o imbecil»!

«Agarrem-me que me vou a eles». «É pegar em armas e é já, seus infiéis». «Eu mato, faço, aconteço e desfaço, ó burgueses». «Só eu sou verdadeiro proletário, só eu sou capaz de matá-los». «Sigam-me seus anafados, seus inferiores, que não alcançais a minha suprema – e límpida – interpretação da luta de classes e do papel de um verdadeiro revolucionário». Assim berra a «semente» crescida em estufa de «inorgânicos» – e mal de quem colhe nabos em plantações inorgânicas, pois claro. Assim berra o ordinarete em bicos de pés e que recusa – revolucionariamente, é claro – confundir-se, misturar-se, ofuscar-se num qualquer colectivo, numa força sem indivíduo, ainda que unida, ainda que com punho cerrado! Assim é o piro-esquerdista! Assim é o imbecil!

A sua acção revolucionária – que lhe sai da boca como salpicos de saliva – pode vir na forma de texto, de discurso oral, de comentário, mas mais frequentemente na forma de estupidez. Não com a força de uma convicção alicerçada no diverso e na atitude sábia do saber escutar. Não com a predisposição de «aprender e aprender sempre». Antes com a presunçosa atitude de fazer questão de «ensinar, ensinar sempre», o produto de um pyrós que todo o mundo, mas principalmente o mundo de Mark Zuckerberg, tem o direito de aprender! Vem então todo esse ‘fogo’ cá para fora, aos saltinhos, aos pinotes e aos mais básicos atropelos estatutários. Tudo emergente, no fundo, de alguém que in veritas se move – revolucionariamente, claro – com a doce e suprema… imobilidade. A força vanguardista de um esteio. A insubordinação casmurra de um irracional sem memória. A magna inteligência de um saco de brita! Assim age o piro-esquerdista! Assim age – já se adivinha –… assim age o imbecil!