O que é que nos surpreende na Marcha apagada?

Nacional

O que é que ainda nos surpreende quando não vemos a gigantesca marcha de sábado nos media? Não entendam mal, que subscrevo linha por linha o artigo do Filipe. Mas, para quem já anda nisto há algum tempo, e nem precisa de ser muito, não é de estranhar. É de denunciar, de divulgar, é verdade que já nos deixa um bocadinho tristes e revoltados. Deve ser por isso que ainda há quem diga que parámos no tempo, porque ainda temos a força necessária para nos indignarmos. E, às vezes, vamos buscar forças sei lá onde.

Não há partido com património de luta que se aproxime, sequer, do PCP. Nos anos do fascismo não eram os que estiveram no Coliseu no mesmo dia em que estivemos na rua que davam o peito às balas. Eram os pais de alguns deles, ao que consta. Naquela altura, o bloqueio ao PCP era legal e oficial.Obrigatório. Depois da Revolução de Abril, deixou de ser. Com o 25 de Novembro passou a ser oficioso.

Os meios de divulgação do PCP são os que sempre foram, adaptados aos novos tempos – estando nós parados nele, não deixa de ser paradoxal. É o passa palavra, é o esclarecimento, é contar como foi, como queremos que seja e como tem de ser, para que este cantinho deixe de estar como está. É o Avante! que fica na mesa do café, o discurso no local de trabalho, as conversas com os amigos, que deixam transparecer aquilo que somos.

Como no século passado, onde estamos parados, os media livres e democráticos continuam a bloquear-nos porque não podia ser de outra forma. Uma manifestação de 1.000 pessoas por causa do padre da freguesia abre um noticiário, uma com 10.000 na Grécia também. Uma manifestação com 100.000 em Portugal, com gente de todo o país que pagou a viagem do seu bolso não pode abrir noticiários, porque mete medo.

É um facto que mete medo, assusta. Já imaginaram 100.000 pessoas que saem à rua com um calor tórrido, fazem centenas de km de autocarro para afirmarem os seus ideais? Claro que assusta. Assusta os que não podem permitir que se pense diferente do que nos é dado a engolir todos os dias, depois de bem mastigado, em quase tudo o que é informação.

Claro que às vezes nos chateia, outras entristece. Vivemos numa democracia formal que estigmatiza aqueles que abraçam a livre participação num partido quando se generaliza que todos eles, os partidos, estão numa crise profunda e precisam de se reinventar e tudo o resto que sabemos.

Chateia, entristece, mas já foi ontem. Hoje, cada um de nós que lá esteve e outros que não puderam ir, contaremos como foi grandiosa mas já estamos na luta quotidiana que é um dever de todos. Se a tarefa fosse fácil, não éramos comunistas.