Quis o destino que ontem, dia seguinte à Marcha da CDU, fizesse uma viagem solitária de automóvel durante umas três horas. Nessas alturas, para lá do som das colunas, o diálogo é do umbigo com o cérebro, e a páginas tantas pergunta o meu umbigo ao meu cérebro: olha lá, tu que ontem foste à Avenida, só deves ter visto velhos por lá, não? Assertivamente, responde-lhe o cérebro: não e temos os olhos como testemunha!
Tenho 32 anos. Por vários motivos, desde muito novo que fui ouvindo e até entrando nas conversas dos adultos. Via os telejornais ao jantar, passava os olhos nos jornais e a certa altura, passei a ter a política muito presente em casa. Desde os 4 ou 5 anos de idade que os chavões políticos passavam pela minha boca. Sabia que tínhamos de ter cuidado para não enfiar o capucho, que o Basílio Horta andava pelo país a tentar derrotar o “bochechas”, que o Cavaco tinha ido fazer a rodagem do carro e tinha acabado como líder do PPD/PSD, que o António Guterres tinha um bigode farfalhudo e que o PCP era um Partido de velhos bolorentos e que, mais cedo ou mais tarde ia desaparecer.
Digamos então que oiço e leio estas coisas há 28, 29 anos, ou seja, desde 1987, 1988. Os jornais, as televisões e os adversários políticos continuam a dizer que o PCP é um Partido de velhos. Das duas uma: ou o conceito de velho se foi alterando ao longo destas décadas – andam sempre a dizer que os 30 são os novos 20, que os 60 são os novos 50…-, ou então os militantes do PCP têm uma saúde de ferro – às tantas as tais injecções que os comunistas dão atrás das orelhas dos velhos são uma espécie de elixir da imortalidade que deviam compartilhar com os comuns mortais…
Assim de repente estas hipóteses talvez, mas só talvez estejam erradas.
Tal como noutras andanças, quem faz caminho é a terceira via, a terceira hipótese: como o PCP não desaparece, como continua a mobilizar apoiantes e militantes, como depois de aumentar a sua influência eleitoral no Parlamento Europeu e nas Autarquias ameaça agora fazê-lo de forma inequívoca na Assembleia da República, há que continuar a descredibilizar, a menorizar, a troçar do trabalho diário. Há que continuar a usar as cassetes gastas para criticar e apagar o “partido da cassete”.
No PCP há velhos, muitos. Há novos, muitos. Há gente de meia idade, muita. Há homens, muitos. Há mulheres, muitas. A Marcha de sábado mostrou isso mesmo, que somos muitos e que não estamos sós. Mostrou ainda que a CDU não se esgota no PCP, não se esgota sequer no PCP, n’Os Verdes e na ID. E mostrou que apesar das dificuldades em certas regiões, é uma coligação com forte implantação em todo o território nacional.
Voltando à viagem de automóvel.
Comecei a pensar que seria interessante comparar o número de militantes das diferentes juventudes partidárias que foram eleitos nos últimos anos para cargos públicos com os resultados do seu trabalho.
O PCP e a CDU não criam quotas para que uma percentagem de deputados venha obrigatoriamente da “jota” dando assim a ideia de um Partido juvenil. O PCP e a CDU não são forças criadoras de “tachos”, são forças onde se chega a cargos públicos pela qualidade do trabalho diário no Partido, pelas características e competências humanas, intelectuais e de percurso de vida que fazem com que aquela pessoa, jovem ou velha, seja a indicada para aquele cargo. No PCP e na CDU o objectivo não é chegar ao “poleiro”. O objectivo é contribuir colectivamente para que os nossos eleitos tenham a melhor e maior base de conhecimento e de apoio possível no desempenho das suas funções.
Ainda assim, nos últimos anos, o PCP apresentou a eleições candidatos mais jovens, basta olhar para a bancada parlamentar e para a lista ao Parlamento Europeu. Ainda assim, para o olho e a pena da imprensa e do comentário instituído, o PCP continua a ser um partido de velhos.
Seja, somos um partido de velhos.
Somos um partido de velhos porque quando decidimos tornar-nos militantes o fazemos por convicção ideológica. Somos um partido de velhos porque essa convicção é difícil de abalar e porque o nosso Partido não a trai. Somos um partido de velhos porque não sendo traída essa convicção é natural continuarmos no Partido durante uma vida. Somos um partido de velhos porque a nossa “jota” organiza-se e mobiliza-se em torno dessa convicção colectiva e não como uma pequena máfia que ensina desde tenra idade que o programa eleitoral é muito bonito e democrático mas o que conta mesmo é discutir os lugares nas listas. Somos um partido de velhos porque desde novos militamos ao serviço do nosso Partido e dos interesses do nosso povo.
Somos um partido de velhos porque respeitamos os nossos velhos, porque os ouvimos e apoiamos quando achamos que estão certos, porque os alertamos e confrontamos quando achamos que estão errados, porque sabemos que sem eles não teríamos o Partido com esta força aos 94 anos, porque aprendemos e crescemos com eles mas eles também aprendem e crescem com os mais jovens. Somos um partido de velhos porque eles estão connosco, não os deixamos para trás, não lhes dizemos que já não contam, porque eles nos ensinaram que nos tratamos todos por tu, por camarada, desde o primeiro dia.
* Autor Convidado
André Albuquerque