O Tozé quer um cheque em branco…

Nacional

Em recente entrevista ao Expresso o actual secretário-geral do PS, e auto-proclamado candidato a primeiro ministro de Portugal, referiu que neste momento não pode “garantir absolutamente nada” porque não sabe “qual o estado do país que eu vou receber”.

Duas breves notas, começando pelo fim: António José Seguro dá como adquirido que receberá o país (ou seja, que chegará ao cargo que ambiciona), declaração cheia de bazófia que é capaz de lhe sair pela culatra; o secretário-geral do PS é capaz de não saber e por isso aqui fica a informação, caso o próprio ou alguém das suas relações tropece neste texto perdido na imensidão da rede: para “receber” o país é preciso ser-se eleito; as eleições legislativas servem para eleger a próxima Assembleia da República; e mesmo que o PS seja a força partidária mais votada não é líquido que venha a constituir governo.

A outra questão fundamental desta estapafúrdia formulação que o chefe das hostes “socialistas” escolheu para dizer ao país que não assume compromissos sobre “absolutamente nada” diz respeito à seriedade (ou falta dela) com que o PS se apresenta a eleições: Seguro foge como o diabo da Cruz relativamente à apresentação de compromissos claros e inequívocos com o povo português. Pede um cheque em branco para depois poder utilizar os votos amealhados como legitimação de políticas que nunca explicitou. Mais do mesmo, portanto.

Quem vir a entrevista, ou ler o que sobre ela se tem escrito, poderá responder-me que não é verdade que Seguro não tenha assumido compromissos: disse que não aumentaria impostos nem faria despedimentos na administração pública. É verdade que disse mas esse é outro ponto bem ilustrativo do malabarismo retórico do PS no assalto ao pote: dizer-se por exemplo que não haverá despedimentos na administração pública é usar a mesmíssima estratégia do governo PSD/CDS, que fala apenas em “rescisões amigáveis”, ou em diminuição do número de funcionários por via da não substituição daqueles que por razões diversas (rescisão, aposentação ou falecimento, por exemplo) saem do quadro de pessoal do Estado.

De resto o PS não esclarece rigorosamente nada sobre o que tenciona fazer relativamente ao IRS ou à reposição de salários e pensões. Ou sobre a reposição das férias, dias feriados e direitos laborais roubados. O que se conhece, para já, é o que disse Óscar Gaspar em declarações à SIC (ver aqui).

A conclusão não é de agora mas aqui fica para os mais distraídos: este PS não tem palavra, é farinha do mesmo saco das outras duas cabeças da troika nacional. Quem lhe passar um cheque em branco será cúmplice da continuação da mesmíssima política com outras caras.