Obrigado camarada, até sempre!

Internacional

“Foi uma breve, mas intensa semana em que tive ocasião de conversar com ministros e operários, com escritores incrédulos e comerciantes assustados, com dirigentes inseguros e com militares seguros do seu poder e com nenhum bispo (…) Nos restaurantes caros, onde os mariscos são exibidos como jóias nas montras, os burgueses em retrocesso desancam verbalmente os comunistas. (…) Nos restaurantes populares, os empregados perguntam se deve receber gorjeta”

Gabriel Garcia Marquez in Portugal, território livre da Europa

Com o desaparecimento físico de Gabriel Garcia Marquez a Humanidade perde um dos seus grandes escritores, uma figura maior do chamado realismo mágico, um homem de um compromisso enorme com a qualidade literária. Para além da perda do intelectual, há a perda que os povos do mundo(em especial da América Latina) sofrem no desaparecimento de alguém que os entendeu, que os viu sofrer, e que nas suas narrativas nunca deixou de ilustrar as suas dores e as suas lutas.
Ao longo da sua vida, Gabo escreveu várias obras de presença obrigatória nas melhores estantes, obras como “Cem anos de solidão”, “Crónicas de uma morte anunciada”, “O Amor em tempos de cólera”, “Memórias das minhas putas tristes”, entre outros… Mas, se me permitem um conselho, leiam “Viver para contá-la”, uma obra autobiográfica de Gabriel, belissimamente escrita e que nos permite ter uma visão panorâmica sobre a América Latina( a sua História, os seus povos…), sobre a vida e a riqueza de tantas das suas experiências pessoais, e também sobre o contexto económico, social e cultural e a sua influência na formação intelectual de Gabriel Garcia Marquez.

Por último, sublinhe-se o compromisso de sempre de Gabriel Garcia Marquez com os explorados e oprimidos de todas as latitudes(daí a sua visita a Portugal em 75, por exemplo), a sua firmeza e coerência junto dos seus e a sua acutilância com os vendilhões da escrita e da vida.

Obrigado ao camarada, pelas letras e pelas lutas, até sempre!

* Autor Convidado
Filipe Guerra