Os Alegados «Malucos» do Sistema

Nacional

São geralmente desculpabilizados sob o rótulo de «malucos do sistema». Presidentes demasiado sonoros para os ouvidos finos de certas direitas liberalóides, como Trump, Bolsonaro, Orban ou outras variações mais caseiras e que vemos por exemplo em determinados municípios e regiões autónomas portuguesas, são apenas e só tidos por casuais e isolados «malucos do sistema». O que preconizam, o que fazem, o sistema que servem e que lhes deu poder está absolutamente certo, imaculado e não tem culpa alguma de ser «pai» do «maluco». Caídos do céu, sem passarem pelo crivo da «meritocracia capitalista», estes «malucos», se apareceram, é por culpa de qualquer «esquerda» irresponsável que os antecedeu. Porque eles são só «malucos», é azar, e o «elevador» não tem nada a ver com isso, permanece intocável e o melhor dos mundos. Ainda que não.

Esses ouvidos finos liberais recusam, pois, qualquer associação directa entre os «malucos» e eles próprios, por razões de «etiqueta», mais por vergonha que propriamente por discordância de fundo. Não se atrevem a fazer apologia do sistema caótico de saúde norte-americano “hoje” – e só “hoje” – porque é “hoje” evidente o colapso total do país em matéria sanitária, o que não está a acontecer noutros pontos onde se privilegia uma saúde pública e de qualidade. Depois de tantos anos a mandar “comunistas para Cuba”, haverá hoje largos milhares de norte-americanos e muitos liberalóides aflitos que, se pudessem, estariam era em Cuba a receber os melhores cuidados de saúde do planeta e onde os casos de covid-19 são residuais.

Também são poucos “hoje” os que aplaudem Bolsonaro, não obstante os primeiros foguetes pela derrota do PT ou as festanças pela prisão de Lula. Ah, que saudades daqueles intermináveis artigos de «pena» pelo país entregue aos «vermelhos» pêtistas, mas agora libertados por um «novo líder» Bolsonaro, que prometia «pulso firme» e «combate à corrupção». Acabando por se revelar «maluco», demasiado sonoro, rapidamente colheu o silêncio dos que inicialmente lhe bateram palmas. Hoje o Brasil, tal como os EUA, paga com sangue o resultado directo daquele que, segundo a direita, é «maluco» mas que vive e pugna por um sistema que, afinal de contas, está «certo».

Trump e Bolsonaro são malucos, sim, mas são-no na estrita medida em que são agentes e defensores do capital. São malucos em estreita relação com as traves mestras desse liberalismo social-darwinista, que tantos ditos moderados defendem. Quanto mais defensores do liberalismo e do sistema capitalista, mais malucos se tornam. Há os sonoros, popularuchos, agitadores, sem etiqueta, mas na essência iguaizinhos a quaisquer engravatados-chiques bastante mais «silenciosos», que pugnam por éticas e moderações de um sistema que pela sua natureza, mais tarde ou mais cedo, não se deixa domesticar. São «malucos», sim, mas tão ou mais relevantes que qualquer cabeça tida como «pensante», porém só mais «adequados» a uma situação que clama por menos cérebro, mais berros e mais selvajaria. No resto, é tudo igual. Que ninguém se deixe enganar.

5 Comments

  • Jose

    7 Agosto, 2020 às

    «o sistema que servem e que lhes deu poder» chama-se Democracia.
    Tem os seus problemas e a meritocracia na politica funciona suficientemente mal para poder pôr um incompetente, um corrupto ou até um maluco no poder.
    Tem todavia uma vantagem essencial: nunca estabelece em permanência uma cambada de pensamento único no poder.

    • Nunes

      7 Agosto, 2020 às

      ????
      Say that again?

    • Maria

      8 Agosto, 2020 às

      Jose trapalhão e maluco. Volta para o manicómio.

    • samuel

      10 Agosto, 2020 às

      Ah… não?!

  • samuel

    6 Agosto, 2020 às

    A "maluquice" é uma das mais velhas desculpas do mundo…

Comments are closed.