Os inúteis votos úteis

Nacional

Aviso: neste texto vou concordar com Assunção Cristas, recomendo portanto aos leitores mais sensíveis que ignorem o exposto.

Disse hoje a Assunção Cristas que a nomeação deste governo do PS, com o apoio parlamentar de PCP, PEV e BE, acaba por ser uma oportunidade para o CDS-PP, porque as pessoas passaram a perceber que aquela coisa do voto útil deixa de existir.

E tem razão. Foi preciso andar muito e fazer muito caminho, mas aquela coisa abjecta de termos eleições para Primeiro-Ministro, cai por terra com os resultados e consequências das Legislativas de 2015. Nem toda a gente terá visto, mas na série dinamarquesa “Borgen”, é o partido terceiro classificado que acaba por conseguir formar governo e nomear a Primeira-Ministra. Numa democracia representativa e parlamentar, as contas são simples, a pergunta é – em Portugal -, quem consegue contar até 116?

Claro que depois há o outro lado da questão. Contribuiu bastante o CDS-PP para esta coisa de eleger primeiros-ministros em vez de deputados, andou o CDS-PP a dizer que a solução de governo minoritário do PS com apoio parlamentar era ilegítima. Mas já estamos em Março e o sol espreita, e com a velocidade alucinante da (des)informação, a coerência é valor difícil de manter e julgar.

Mas voltemos ao facto. Depois de 2015 as Legislativas terão outras contas – será também interessante observar este efeito já nas próximas Eleições Autárquicas -, a aritmética e a decisão do voto vai obedecer a raciocínios diferentes e, espera-se, bem longe do inútil voto útil.

A utilidade do voto pode voltar a obedecer à convicção pessoal. A utilidade passa a respeitar a Constituição, é dar mais força a um partido concreto, porque o facto de ele ficar em primeiro, terceiro ou sexto, ou décimo, e desde que eleja deputados e deputadas, não o exclui nem inclui obrigatoriamente numa futura solução governativa.

Desde Setembro que voltámos a ver e ouvir discursos carregados de ideologia sem ignorarem as condições objectivas do momento presente, e o retorno da ideologia só pode ser bom, ajuda a clarificar sobre quem anda ao quê. Cabe agora aos partidos exteriores ao “centrão” capitalizar da melhor forma o fim das maiorias absolutas como a única forma de governar o país. Vamos a isso.

* Autor Convidado
André Albuquerque