Pódio de classe

Nacional
pódio

Há um equívoco incompreensível em alguma esquerda que optou, nestas eleições como já havia feito nas Presidenciais, com os resultados que se conhecem, por fazer parte da campanha colocando o combate ao fascismo num patamar de corrida. Afirmar que um partido, seja ele qual for, ficar em terceiro numas eleições é uma derrota do fascismo que, teoricamente, ficaria em quarto, é, no melhor dos casos, ingenuidade; no pior, eleitoralismo e calculismo perigoso para toda a esquerda. Importa, assim, esclarecer alguns aspetos desta estratégia.

Crer que a extrema-direita passou a existir apenas quando ganhou representatividade parlamentar é um absurdo. Pelo que será igualmente absurdo acreditar que, ficando à frente dela, esta sai derrotada. Não sai. Nem ela passou a existir apenas quando chegou ao Parlamento. PSD e CDS, falando apenas dos principais, sempre tiveram gente desta lá dentro. O discurso da subsidiodependência, da marginalização, do machismo, da xenofobia, da culpa individual da pobreza sempre esteve presente nestes dois partidos. O que sucedeu foi que, agora, falam abertamente o que guardavam para os salões. A extrema-direita já existia nas ruas e no sistema capitalista, porque lhe é inerente.

Bronze com sabor a latão

Há outra dimensão relevante quando se fala em “derrota” no panorama do nosso sistema parlamentar. Como sucedeu em 2015, o partido mais votado acabou por não formar governo, pelo que seria de esperar que tivéssemos todos aprendido a lição sobre ganhar e perder no que respeita a percentagens e deputados. Parece que, à esquerda, há quem alinhe pelo discurso que os media também adotaram e tenha rapidamente esquecido que o que está em causa é a eleição de 230 deputados e será da correlação de força entre estes que sairá um próximo governo. Coloquemos, então, a questão da seguinte forma: a extrema-direita fica em quarto, o BE fica em terceiro e, ainda assim, fruto da votação da restante direita, esta pode formar governo. Qual será, neste quadro, a derrota da extrema-direita? Por outro lado, permite à extrema-direita cantar vitória caso tenha um resultado melhor do que os colocam a eleição como uma corrida de números. A extrema-direita não será derrotada em nenhum parlamento burguês, porque é através dele e das suas limitações de classe que também se alimenta.

Eleitoralismo vazio

A utilização deste tipo de discurso, como demonstrado, não é mais do que o apelo ao voto útil dos pequeninos. O apelo à dramatização e à emotividade para mobilizar, como PS e PSD fazem tantas vezes e esta campanha não é exceção. Este eleitoralismo não traz nada de bom à esquerda. Porque não passa disso. Nem há registo de alguma vez a extrema-direita ter sido derrotada nas urnas. Poderemos, quando muito, falar em processos de transição democrática que, nos nossos dias e analisando esses processos, estão em processo de regressão, demonstrando também que o que conhecemos como democracias liberais não serve de tampão ao fascismo, até porque não estão desenhadas para isso. Pelo contrário, as democracias liberais estão reféns do conceito de hegemonia cultural, que todos os dias a classe dominante transmite pelos seus canais mediáticos, que agora incluem as rede sociais. É a transformação dos interesses do opressor na crença do oprimido. E, quando interessa ao capital que a extrema-direita seja promovida, esta sê-lo-á, como foi nos últimos anos, como uma presença constante em programas de TV, rádio e jornais.

Ao teu lado, todos os dias

O fascismo, e a extrema-direita que voltou a pôr os cornos de fora, não se combaterá em duas semanas de campanha. Pela parte dos comunistas, combatê-la-emos se todos os dias, rua a rua, fábrica a fábrica, bairro a bairro, escola a escola, universidade a universidade, com a mesma convicção que nos faz ter a certeza que, quando os nossos objetivos forem eleitoralistas, seremos extamente iguais a todos os outros. Todos sabemos que uma votação expressiva na CDU e a consequente eleição de mais deputados é um passo rumo a melhores condições de vida do nosso povo. Mas também sabemos que não transformaremos a sociedade por esta via. Quando dizemos que estamos ao teu lado todos os dias, estamos mesmo, não apenas quando há eleições e convém aparecer. E é esta marca de classe que nos faz não discutir lugar num pódio que é condicionado, em larga medida, pela perceção mediática, mas sim garantir que estamos com os nossos sempre, na linha da frente para reenviar, sem retorno, o fascismo para o caixote do lixo da história. A luta é de classes e está mais viva que nunca.