O Chicão é aldrabão

Nacional

No mais recente debate que teve lugar na RTP3, o ainda líder do ainda CDS teve uma declaração que ficou no ouvido, referindo-se ao “Manel, que está há quatro anos à espera de uma consulta de oncologia”. Confesso que ponderei se valeria a pena gastar tempo e teclas para escrever sobre uma declaração de alguém tão novo e, ao mesmo tempo, tão velho. Porém, até as piores desculpas são bons motivos para escrever.

A Isabel e o Manel

É bastante evidente que toda a direita, em plena pandemia, entrou numa encruzilhada com a qual tem dificuldades em lidar; ora o SNS falhou em toda a linha – e não falhou, em grande parte graças a um esforço titânico que continua a ser feito por todos os trabalhadores do setor, sem o devido reconhecimento -, ora é preciso, durante uma pandemia, fazer uma reforma profunda do Serviço. Se há palavra de que a direita gosta, é “reforma”. Aquele eufemismo manhoso que, na prática, significa cortar. Cortar postos de trabalho, cortar financiamento, até ser tão mau que a opinião publicada se transforma em pública e só há uma solução: privatizar. Isabel Vaz, atualmente no Grupo Luz Saúde, foi clara quando afirmou que, “melhor que o negócio da saúde, só a indústria do armamento“, e os seus capatazes na política sabem que é assim. O negócio da doença faz muito lembrar o aquelas funerárias que oferecem isqueiros a dizer “cá te espero”. Para a Isabel, o cancro do Manel é um negócio. Mas é a esta gente que a direita quer entregar a nossa vida. Perdão, a nossa participação na Saúde, SA.

O meu Manel foi uma Elisa

Confesso que, quase três dias depois  desse debate, esperava que algum jornalista, num assomo de curiosidade, que certamente garantiria grandes vendas, cliques e tempo de antena, questionasse Chicão sobre quem é o Manel, que espera há quatro anos por uma consulta de oncologia. Até por interesse científico. A Portaria 153/2017, de 4 de maio, define os tempos máximos de espera no SNS. Não há ninguém que espere quatro anos por uma consulta de oncologia. Mais: os tratamentos oncológicos feitos no SNS salvam muitas vidas todos os dias. Salvou a da minha mãe, que lutou contra o cancro durante 18 anos, sendo sempre assistida no IPO do Porto, com todo o carinho e profissionalismo, por pessoas inexcedíveis que têm mais coragem num fio de cabelo do que Francisco Rodrigues dos Santos no corpo todo, mesmo com as cicatrizes da dura passagem pelo Colégio Militar.

Defesa do SNS público e gratuito

Há listas de espera no SNS, há demasiadas pessoas sem médico de família, há várias coisas que o SNS tem que ainda não funcionam bem. Isso tem responsáveis e, do PS, que o suborçamenta, às outras direitas, que escancaram às portas ao negócio com as nossas vidas, perdão, participação na Saúde, SA, são todos responsáveis. Os millhares de médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares e todos aqueles que nos dão a possibilidade de ter um SNS, merecem mais e melhor reconhecimento da parte dos governos. E, se da direita nada se espera, quem se afirma de esquerda não pode manter tudo como está, jogando com números quando estamos a falar de vidas. A valorização dos salários, das carreiras, as 35 horas de trabalho no setor efetivamente aplicadas, têm de ser uma realidade. Recordemos que a última grande frase emblemática da direita sobre a vida foi que “não podemos salvar vidas a qualquer custo”, pelo então Primeiro-Ministro Passos Coelho. Os seus delfins das direitas concordam e é isso que defendem. Cabe a nós defender a saúde em detrimento do negócio da doença.

2 Comments

  • Marco Barrancos

    22 Janeiro, 2022 às

    Chicão adotou o estilo arruaceiro, malcriado, obtuso do Ventura, numa tentativa desesperada de recuperar o eleitorado perdido. É uma luta que faz lembrar aquele sketch do Herman José “eu é que sou o presidente da junta”

  • JC

    21 Janeiro, 2022 às

    Este elitista da treta cujo partido o CDS de braço dado com o PPD que roubaram os trabalhadores e os reformados ainda têm lata para nos virem dar lições. Não esquecemos o que nos fizeram..

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