Política e Geometria 2

Internacional

Para que a teoria do arco do poder ou arco da governação permaneça recorrem-se a eixos, a quadraturas, e até a sombras e a quatro linhas. Absolutas falsidades geométricas. Senão vejamos:

A quadratura do círculo é o nome dado a um programa de debate televisivo e um dos problemas clássicos da geometria. Consiste na construção de um quadrado com a mesma área de um dado círculo, recorrendo apenas a régua e esquadro. Trata-se de um problema sem solução. Embora haja quem reclame ter conseguido resolver, a matemática diz-nos que se trata de uma impossibilidade já que (uma proporção numérica entre o perímetro de uma circunferência e seu diâmetro) é um número irracional.

Não sei porque terão dado este nome ao programa televisivo. Ocorrem-me duas, que na realidade são três, possibilidades. A primeira é a de uma suposta conciliação impossível, eventualmente feita possível, entre as forças ou correntes políticas que representam os participantes. A segunda, que pode ser complementar à primeira, é de quatro posições em debate que, complementando-se, correspondem ao todo do universo político. A primeira possibilidade revela-se como uma ideia mistificadora, quer se trate da conciliação impossível, quer se trate da possível. A conciliação não é impossível já que os participantes não representam posições divergentes entre eles, são diferentes, algumas bastante, mas, no essencial partem todos dos mesmos pressupostos ideológicos – a aceitação da exploração do homem pelo homem e a crença numa natureza humana não solidária. Dito de um outro modo; sendo possível essa conciliação, ela não se refere posições contrárias. A segunda possibilidade a ser a real, é também enganadora. Não estão quatro posições em debate, já que um dos participantes é o moderador, no máximo seria uma triangulatura do círculo. Mas nem isso é. Como foi dito atrás, não se tratam de divergências. E como se sabe, com menos de 3 pontos não se define uma área, logo, resolúvel ou não resolúvel, a questão deixa de existir.

O círculo pode ser definido como um polígono regular com um número infinito de lados. Ao tentar-se a quadratura o que se está a fazer na verdade é uma redução de lados. E isto é ao que se resume este programa.

Há também um outro espaço de debate, o Eixo do mal, que, apesar dos seus intervenientes mais jovens e menos informais, que apesar do histerismo e da gritaria, que apesar da aparente crítica, não deixa de ser mais um produto televisivo que serve para encher os cérebros de coisas supérfluas e esvaziá-los de questionamento. Esta expressão, eixo do mal, foi a que George Bush utilizou para designar os governos que considerava inimigos e que, segundo ele, construíam armas de destruição em massa, Iraque, Irão e Coreia do Norte. Supõe-se que no contexto do programa os intervenientes se identifiquem com a expressão numa espécie de assunção do papel de rebeldes políticos com posições e ideias irreverentes. Mais uma vez estamos diante de uma designação traiçoeira.

Bush, apesar dos seus fracos conhecimentos de geografia, utilizou a palavra eixo porque é possível traçar uma linha recta que atravesse esses três países (e em caminho ainda atravessa Cuba, Líbia e Síria).

Contudo, o conceito de eixo não se esgota no sinónimo de linha ou segmento. Um eixo é uma charneira, uma linha de viragem, o centro linear de uma rotação ou de um rebatimento. Um eixo é uma linha que gera tridimensionalidade, que transporta um plano de um lado para outro.

Apesar de todos os intervenientes do programa poderem ser alinhados nas suas ideias, eles não representam nenhuma viragem, são incapazes de mudar de plano, não são, portanto, um eixo.

(a continuar)