Os que lutam pelo passado e os que lutam pelo futuro

Nacional

A um dia da manifestação nacional do ensino superior e a poucos dias do 10º Congresso da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), a reitoria da Universidade de Lisboa mandou arrancar o cartaz que estava impresso numa enorme lona presa a uma estrutura na Cidade Universitária. Embora na prática não haja qualquer ligação, a vandalização reiterada de murais e cartazes, na última semana, por membros de organizações nazis demonstra que ideologicamente o objectivo é o mesmo: silenciar a JCP e promover o anti-comunismo.

De facto, a cada ano que passa, o odor bafiento que se despega das paredes das universidades e dos institutos politécnicos é cada vez maior. A autonomia, o espírito crítico, o debate e a participação foram substituídos por tudo o que é inimigo do conhecimento e da democracia. Em muitos casos, os órgãos de gestão foram assaltados pelos representantes educativos e políticos dos grandes grupos económicos e financeiros. Uma boa parte das associações de estudantes está nas mãos de gente que envergonha o papel destacado que as suas estruturas tiveram ao longo de décadas de luta contra o fascismo e, posteriormente, contra a destruição do ensino superior público, gratuito e de qualidade.

Só desde há poucos anos é que a imprensa tem destapado aquilo que os comunistas e algumas associações de estudantes já vinham denunciando há muito tempo: a existência de propinas aniquila o carácter democrático do ensino e afasta os filhos dos trabalhadores das universidades. À elitização, PS, PSD e CDS-PP acrescentaram o Processo de Bolonha. Para rematar a participação estudantil e escancarar as portas aos privados, o PS aprovou o Regime Jurídico do Ensino Superior (RJIES). Tanto num caso como noutro, a JCP esteve desde o primeiro momento na linha-da-frente. A organização comunista foi, aliás, a primeira a denunciar e a antever, de forma clara, as consequências de Bolonha e muitos dos seus militantes, entre outros estudantes, foram absolvidos em tribunal por protestarem nas galerias da Assembleia da República contra a aprovação do RJIES.

Poucos são os que estão ou estiveram na JCP e não sabem o que é ter de estar preparado para a intervenção policial de cada vez que se fazem dos muros e paredes porta-vozes da luta dos jovens trabalhadores e dos estudantes. Ou sobre o que é a chantagem de patrões, directores e reitores sobre a acção legítima da defesa dos interesses dos que sendo jovens querem ter direito a um futuro. E sabemos que seria bem mais fácil impor nos locais de trabalho e nas escolas o seu modelo de passado se não houvesse jovens comunistas. Porque é disso que se trata, dos que lutam pelo passado e dos que lutam pelo futuro. O que fez a reitoria da Universidade de Lisboa pertence ao passado, o que vai fazer a JCP no próximo fim-de-semana pertence ao futuro.