Portugal e a Tragédia Brasileira: O Grande Silêncio

Nacional

Já ninguém se lembra da presença ufana e folclórica de Marcelo na tomada de posse do «irmão» Bolsonaro. Nem dos elogios apaixonados à forma tão «prestigiante e afável» como Portugal fora recebido por aquele tão recomendável leque de governantes. Foi bom estar ali, dizia Marcelo, e acrescentamos nós: ali, lado a lado com pastores fanáticos de seitas religiosas, ignorantes funcionais, citadores de figuras nazis, o mais hediondo grupelho de ministros alguma vez empossado naquele país. Marcelo tinha ido ao beija-mão solene de uma das mais sinistras figuras da história contemporânea do Brasil, que, entre inúmeras pérolas, já naquela altura tinha no curriculum das misérias morais o ter dito que não «estuprava» mulheres porque não mereciam. Era a tomada de posse de alguém que já não escondia quem era, nem ao que vinha. Mas já ninguém se lembra e sobretudo agora também não interessa lembrar. A mesma comunicação social que promove os «afectos», também não deixa de silenciar as «patadas». «E daí?»

O mesmo se passa em relação ao governo português e, em particular, ao ministro Santos Silva, o «ponta-de-lança» dos «negócios estrangeiros». O ministro-comentador especialista em Venezuela não tem uma palavra a dizer sobre o Brasil. O «desbocado fino» da ala de «um certo PS» – talvez o mais verdadeiro PS -, que num acesso de fúria anti-bolivariana havia metido o país numa alhada diplomática reconhecendo um imbecil como presidente auto-proclamado, insultando o presidente legitimamente eleito, revela-se incapaz de mostrar a mesma veia irada face a Bolsonaro e à inequívoca deriva neo-fascista e neo-fascizante do seu governo. Uma vez mais, a mesma comunicação social que lhe deu palco para comícios no desempenho de um alto cargo público, recusa-se sequer a empertigá-lo com perguntas incómodas sobre silêncios, hipocrisias, dualidades e contradições. «E daí?»

Toda a cumplicidade e silêncio, provocado e consentido, quando não incentivado, auxiliado pela imprensa, vai fazendo com que presidentes e ministros passem de forma confortável por entre os pingos da chuva. O silêncio português sobre a tragédia brasileira, que nos causa repulsa e vergonha alheia, é o espelho abjecto da hipocrisia reinante. Uma nação ainda e tão somente inspirada em chavões da «amizade» e «irmandade», para a fotografia e para «afectos», mas nada, rigorosamente nada preocupada com a tragédia que assola o seu povo.

2 Comments

  • Jose

    14 Junho, 2020 às

    Essa de fazer do Estado uma 'entidade moral na cena internacional', se já de si tem uma larga margem de fragilidades, aplicá-la a um acto de posse após uma eleição legítima é consumado disparate.

    • Nunes

      14 Junho, 2020 às

      Esta escreveste no teu último comentário, dirigido a mim, aqui no «Manifesto 74»:

      «Inscreve-te na tele-escola!
      A iliteracia trata-se.»

      Será «telescola» ou «tele-escola», seu calino?

      Resumindo a tua burrice e apego aos erros gramaticais, temos agora aquelas tuas manias em escrever «coisas» que te passam pela mioleira. No blog «Ladrões de Bicicletas», no artigo «Ligações» de João Rodrigues, escreves isto:

      «A guerra comunismo-capitalismo tem inúmeros episódios e seguramente funcionou como acelerador de inúmeras transformações, benéficas umas, desastrosas outras.

      E como sempre, na irracionalidade própria do estado de guerra, a contabilidade das vitórias e derrotas releva sobre a do confronto das ideias que gerou o conflito.

      O mais extraordinário neste conflito é que os vencidos se mantêm em modo contábil, mais propensos a falsear as contas do que a discutir ideias, quando em final são estas que decidem do destino de vencedores e vencidos.»

      E como se não fosse pouco, vomitas este resto:

      «A iliteracia é seguramente o mais forte factor de exclusão em qualquer discussão de ideias.
      A expectativa de progresso a partir de argumentos provenientes de um iliterato são equivalentes a ter uma porta por interlocutor.
      Antes o fanático, que assegurando imobilismo, sempre pode fazer luzir alguma criatividade lexical.»

      Para quem escreve «tele-escola» com tanta lucidez, estamos conversados.

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