Quando usar capuz se torna crime, ou o processo de Macedo e o seu gangue ministerial

Nacional

Acabada de sair de mais um julgamento (sim, mais um, de 9 que estão em curso contra a aplicação de multas pela Câmara do Porto à JCP pelo exercício do direito de expressão e liberdade política), saí com a esperança na certeza de que vale a pena lutar, de que a resistência cedo ou tarde demonstrará que a razão está do nosso lado.

São muitas – uma seria já demasiada – as vezes que os meus camaradas estão perante a polícia, num tribunal, inquiridos como se estivessem a cometer um qualquer crime quando, na verdade, assumem para si a tarefa de defender os direitos de todos.

Não os seus.

Aqueles que entendem que são fundamentais para que cada um de nós possa ser feliz. São, na maioria, jovens de idades entre os 16 aos 25. Tantas vezes confrontados, tantas vezes ameaçados, tantas vezes perseguidos, algumas algemados, outras agredidos, mas voltam. Voltam sempre de cabeça erguida. Voltam sempre de faixa, pincel, pancartas na mão. Voltam sempre para transformar o sonho em vida.

E se, até hoje, pensava que Macedo e o gangue ministerial, tal como o PS ainda que mais envergonhado, queriam alterar qualquer lei ao abrigo da qual ainda se pode dizer o que se pensa, hoje não me restam quaisquer dúvidas.

Na Grécia já começou, legislando contra os cidadãos que ofendam as instituições europeias. No estado espanhol, avançou-se sem pejo nem vergonha. A pretexto da protecção da segurança dos cidadãos, legislam ferozmente contra quaisquer ditos (escritos ou falados)que sejam “ofensas a España, las comunidades autónomas, entidades locales y sus símbolos, instituciones y emblemas”. Legislam contra quem “alterar a ordem fazendo-o encapuçado“. Legislam contra quem se manifeste frente aos parlamentos, senados, congresso.

Em suma, legislam contra quem está contra o Governo. Legislam contra a manifestação do pensamento e da palavra. Lembrando bem o tempo que, afinal, foi e é, tempo em que se fala para o lado e se olha para o chão.

Dizia hoje a Procuradora do Ministério Público «mal andaremos no dia em que um qualquer regulamento municipal se sobrepuser ao direito de expressão e à liberdade política».

Por cá, os meus camaradas e a sua organização, insistem, resistem e lutam. Para que todos nós possamos lutar. E o capital não dorme. Saibamos nós impedi-los de mais um estrangulamento democrático. De mais esta violação. É o direito a ter direitos, o direito a pensar, a falar e ser ouvido que está em causa. E no dia em que esse se for, será o dia em que a noite negra regressará sobre nós.