Não se enxerga

Nacional

Carlos Abreu Amorim (CAA), o candidato derrotado recentemente nas Autárquicas, em Gaia, diz que “não se enxerga
e eu concordo, desde que seja uma expressão aplicada ao próprio. Falava hoje CAA na Assembleia da República sobre os incidentes em Cabo Ruivo. A acompanhá-lo teve o inefável Nuno Magalhães. Estamos assim perante duas personalidades que vêem as greves como ataques à democracia e desconhecem a lei que rege a função dos piquetes de greve.

Não é de estranhar. Nuno Magalhães é ignorante, CAA igualmente, acrescendo que este é mentiroso e aqui explico por quê.

São ambos deputados de uma maioria morta, desgastada, e, se calhar por isso mesmo, assemelham-se ao sebo que lhes sai do físico e lhes escorre para as palavras. A vergonha também é coisa que não lhes assiste.

Ouvir dois deputados que suportam o governo mais inconstitucional da história da nossa Democracia falarem do cumprimento da Constituição só pode ser por brincadeira. De mau gosto mas brincadeira. Aliás, a avaliar pelos sorrisos de Nuno Magalhães, foi mesmo uma brincadeira.

Os sorrisos da extrema-direita – parlamentar também – em relação a tudo o que seja repressão sobre trabalhadores e os seus direitos têm várias consequências; a primeira é o nojo que me fazem sentir; a segunda é a raiva que fazem crescer em cada um de nós quando os vê sorrir nas suas cadeiras.

A verdade é que já nem os vejo em cadeiras. Imagino-os em poltronas, de chicote na mão, à medida que nos querem cada vez mais curvados. Desenganem-se. Os sinais dos últimos dias mostram-nos cada vez mais despertos, atentos, interventivos e com vontade de querer mais e melhor. Tudo o que merecemos de mais e melhor. A começar pelas cadeiras que alguns deputados ocupam. Bem podem assobiar para o ar e atirar os “inadmissíveis” e “indignos”, adjectivos recorrentes daqueles lados na direcção de quem luta, para quem luta. Quando a realidade lhes cair em cima, não suportarão o seu peso.

CAA pretendia que a questão fosse discutida apenas em conferência de líderes na AR. Assunção Esteves, desta vez, mostrou que tem mais alguma utilidade no Parlamento para além de mandar evacuar as galerias e informou que a AR irá averiguar os acontecimentos.